Glórienn Quebrada 05 - A Doçura de um Arame

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[Correção - o nome da serviçal élfica é Finlynledianne, reduzido para Finly. Nos últimos capítulos, coloquei como Tinly pois cometi um engano. Os irei corrigir, mas fiquem sabendo que é a mesma personagem]

O corpo devastado de Glórienn foi repousado na alameda de flores. O guerreiro minotauro que a carregou até ali fungou em visível desprezo. Não escondia toda a censura e reprovação. Era visível que acreditava completamente no que fora dito na Arena: Glórienn era uma assassina, um monstro. Não merecia ser protegida. Contudo, respeitaria as ordens do deus da força, pois servia a ele, Tauron. A elfa Finly observou tudo com ódio. Por mais que também dividisse o mesmo desprezo que aquele minotauro por Glórienn, ainda assim aquela era sua deusa. Sua maldita, repugnante e desgraçada deusa.

"Está tudo certo por aqui", disse Finly, "já pode ir embora".

O guerreiro mostrou-se ultrajado por aquela ousadia presunçosa de uma serviçal. Contudo, teve que aceitar – pois aquela serviçal específica era precisamente a única que podia cuidar de Glórienn, e a deusa dos elfos era a escolhida de Tauron, e, logicamente, como guerreiro devia obedecer a Tauron.

Então, com desgosto, o minotauro fez uma breve reverência – pois, sim, naquela situação ridícula, a elfa estava numa hierarquia 'acima' da dele – e, militarmente, se afastou, fantasiando um futuro onde a serviçal perderia o posto e estaria livre para sofrer todo tipo de consequências.

Finly esperou o guerreiro sumir ao longe até estar derradeiramente a sós com Glórienn. Então, com cuidado, se agachou para olhar de perto a sua deusa maldita. Estava nua quase por completo: alguns trapos ainda se agarravam à sua cintura, incapazes de tapar qualquer coisa. Estava ferida, muito ferida: sangue escorria, agora seco, dos cortes profundos feitos pelas lâminas do elfo das trevas. Estava suja, completamente imunda: seus cabelos empapados do vômito e bile que regurgitara em sua crise de pânico.

Não era o cheiro, nem a visão terrível, nem mesmo os ferimentos grotescos o que mais chocava Finly. Era o fato de Glórienn estar desperta – seus olhos, de um dourado morto, estavam desfocados, vadiando perdidos em lugar nenhum, completamente derrotados. Era como a pintura perfeita da decadência. Desperta e sentindo, cada fiapo de desprezo, cada partícula de dor, e sem poder erguer a voz em discordância. Sua imagem era a falta completa de saída.

A cuidadora se esforçou para tentar resgatar a lembrança de alguma vez pior do que aquela. Não conseguiu lembrar de outro momento nestes últimos seis anos em que esteve presa à deusa. Glórienn era pouco mais do que um pedaço de coisa, que se movia para poder sofrer e chorar.

Havia prometido a si mesma que não iria se deixar mais sentir pena de sua maldita deusa. Mas não conseguia. Não conseguia. Como não ter algum rastro de compaixão com aquilo? Contudo, havia aquela verdade ingrata, aquela realidade inescapável.

"Por que, deusa?", perguntou Finly, "por que você sacrificou os elfos em Ninvenciuén? Por que os mandou para a destruição pela Tormenta?".

Ela achou que Glórienn não ia responder. Para sua surpresa, a deusa condenada falou.

"Porque sou uma assassina", sua voz soava como tripas rasgadas, "porque sou uma traidora do sangue, fraca e medrosa".

Finly se irritou. Com violência, puxou a deusa pelos longos cabelos sujos.

"Pare com isso! Pare! Fale a verdade, pra mim! Diga a verdade! Por que fez isso? POR QUÊ?".

A elfa fitou os olhos dourados de Glórienn, que tremeram e se encheram de lágrimas.

"Essa é a verdade...a verdade. Eu fiz isso porque tive medo. Porque fui fraca. Porque eu sou nada. Nada".

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