Poder. Essa era a palavra que definia o que Aysha tinha sobre mim. Mas agora, ela já não estava ali. Ela nem sequer lembrava do garoto tatuado que sempre a rodeava.
Mas eu a vi crescer, sem ela nem sequer perceber. E mesmo fugindo da verdade, eu percebi que sempre, ela sempre seria o meu pecado.
*****
De fato, ter uma família literalmente oposta era complicado. Minha mãe acreditava que me protegia me mantendo ali, presa em um condomínio fechado com seguranças por toda a parte, enquanto o restante da minha família, comandava o tráfico e vivia do crime.
Eu nem sequer pude conviver com aqueles que eu amava. Eu apenas fui mantida longe de toda a verdade, de tudo aquilo que eu necessitava conhecer.
Em cadernos, eu contava os meus sonhos, os meus desejos e os meus planos. E a verdade era essa, eu não desistiria de conhecer o outro lado. Eu iria além do que me limitavam ir.
E eu conheceria aquilo que chamavam de pecado.
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"- Aysha, não!" - Mamãe diz eufórica do outro lado da linha.
- Tchau, mãe. - desliguei o telefone e limpei a lágrima que insistia em cair.
Diego adentrou o quarto e me observou sentada no chão, com minhas coisas jogadas por todo o lado.
- Nosso pai está te chamando. Parece que o assunto é sério. - disse baixo, com receio de suas próprias palavras.
- Quando isso vai acabar? - pergunto.
- Aysha, é pelo seu bem. - ele pensa um pouco antes de continuar. - Principalmente agora que o filho da Grazy assumiu o comando do Vidigal.
- E o que merda eu tenho a ver com isso, Diego? - me levanto irritada.
- Tudo tem um vínculo. E o seu é o maior deles, o problema é que não se lembra.
- É incrível que você sabe de tudo, mas eu não posso saber sobre a minha própria história. - faço ênfase na palavra "eu".
- Só vai lá, depois a gente resolve isso. - diz e sai do quarto de cabeça baixa.
Diego e eu tínhamos uma união que muitos irmãos não tinham. Éramos inseparáveis e sempre que discutíamos, ficávamos extremamente chateados.
Desci as escadas e encontrei meu pai no sofá, junto a Grazy. Conversavam baixo sobre algo que parecia ser muito sério.
- Aysha... - diz ao perceber minha presença no cômodo. - Precisamos conversar sobre um assunto.
- Diz. - falo sem expressão alguma.
- Eu sei que está sendo difícil pra você ultimamente, mas precisamos que entenda o nosso lado...
- Pai, por favor, só vai direto ao assunto. - peço.
- Vamos ficar fora por um tempo, e você precisa ir com...
- Eu não vou, desculpa.
- Aysha, você não tem escolha. - me interrompe.
- Na verdade, tenho sim. Não sei se lembra, mas há alguns meses eu me tornei maior de idade. Então eu posso muito bem fazer o que quiser da minha vida. - respondo impaciente. Eu odiava ser grossa com quem não merecia, não gostava de respondê-lo dessa forma, mas acreditava que era necessário, porque eu estava cansada de tantas mentiras.
- Allan... - Grazy chama sua atenção. Eles se encaram por alguns minutos e então ele solta um longo suspiro.
- Eu não posso, querida. - diz ainda encarando-a. - Lamento Aysha, mas terá que vir. Eu prometi a sua mãe que cuidaria de você.
- E eu não irei repetir tudo o que eu acabei de falar aqui. Você já sabe a minha resposta.
Subo as escadas na maior velocidade possível e tranco a porta. Pego uma mala e coloco menos da metade dos meus pertences ali, a enchendo por completo. Em uma bolsa, os documentos, meu caderno e alguns outros objetos.
Ouço uma batida na porta e me desespero.
- Aysha? É o Diego. Abre aí, é rápido. - pede do outro lado.
Droga! O que raios eu faço agora?
Respiro fundo e vou na minha única opção, destranco a porta e encaro o garoto alto a minha frente.
- Eu sei que você vai fazer alguma loucura. Te conheço o suficiente pra saber de tudo que envolve você. Olha, eu não posso dizer nada, mas procura a Melanie, ela participou da história tanto quanto você. - diz me olhando da forma mais carinhosa possível.
- Por que você sempre sabe de tudo?
- Porque eu tenho ótimos ouvidos. - sorriu. - Agora pega. - diz e me entrega um pacote. - Tô aqui pra tudo.
- Eu amo você. - digo e ele retorna ao seu quarto.
Fecho a porta e abro o pacote, encontrando uma quantidade absurda de dinheiro.
Esse garoto tem sérios problemas.
Coloco o pacote dentro da bolsa e ando até a janela, encarando o céu escuro. Já estava prestes a dar dez horas e então vou até o banheiro. Tomo banho, visto uma roupa confortável, faço minhas higienes e termino de arrumar todo o quarto, procurando algo importante para ser levado.
Entro em um site seguro de viagem e compro a última passagem que havia para o Rio de Janeiro. O ônibus partiria em algumas horas, e eu precisava preparar tudo até lá.
A viagem duraria poucas horas, então se partisse no fim da madrugada, chegaria no início da tarde.
Desço até o andar de baixo e analiso se ainda há alguém acordado. Após percorrer por toda a casa, vou até o quarto de Diego, abro a porta e o chamo até que acorde.
- Aysha? - pergunta sonolento.
- Tô saindo, me ajuda aqui. - peço e volto para o quarto.
Pego a mala e a bolsa e sigo para o corredor. Diego para em frente a porta e mexe a cabeça em repreensão.
- Você é louca. - sussurra.
Ele pega a mala e a leva até o primeiro andar, o acompanho e assim que chegamos no portão, o abraço me despedindo.
- Eu volto logo, não se preocupa. - digo após soltá-lo.
- Se cuida. E eu amo você.
- Recíproco. - solto um riso e olho pela rua, a procura do carro que eu já havia chamado.
Assim que o motorista chega, peço para colocar as coisas no porta-malas, e no mesmo instante lembro de algo extremamente importante.
- Eu volto em um minuto. - digo e entro correndo enquanto Diego me observa sem entender.
Subo as escadas fazendo o menor barulho possível e entro em meu quarto. Sigo até o guarda-roupa e o abro, em busca de uma caixinha que se mantia escondida em meio a algumas roupas. Assim que a encontro, confiro se o colar ainda se mantinha ali e retorno para o carro.
Essa era a tão sonhada hora.
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A Filha do Comandante
RomanceSpin-off de "Entre Facções". ______________________________________ Aysha agora com 18 anos, morando com seu pai, Allan Cooper, em uma das regiões mais seguras de São Paulo. Filha da fiel de um traficante e de um comandante da polícia federal. Vito...