Capítulo 22.

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Tudo bem, Aysha. Está tudo bem. Calma, não tem nada de errado, isso acontece, é bem normal. Respira... Meu consciente me pedia enquanto o oxigênio ia aos poucos embora.

Ok, chega. Me levantei do sofá e fui até a cozinha quando ouvi a porta do quarto ser aberta. Me encostei no balcão e encarei um canto qualquer, repassando a cena de minutos antes na minha imaginação extremamente fértil.

- Tá tudo bem? - indagou me pegando desprevenida.

- Anh... claro. - falei me afastando desastrada.

- Aysha? - riu ao pronunciar meu nome.

- Er... Eu vou tomar um banho, agorinha volto. - minto.

- Você tomou banho faz pouco tempo.

- Tô suada. - minto novamente.

- Em quinze minutos?

- Tá calor, ué. - digo passando pelo outro lado do balcão para sair da cozinha.

- O ar-condicionado tá ligado, Aysha. - riu de novo. Ele só podia tá de sacanagem com a minha cara. - Puta merda, vai me evitar porque invadiu meu quarto e me viu sem roupa?

- Mas é o quê? Eu não...

- Ei maluca. - Segurou meu braço quando conseguiu se aproximar o suficiente. Suas mãos desceram até chegar no meu quadril. - Tá com vergonha por quê? 

- Você sabe bem o porquê, Vitor! 

- Olha aqui pra mim, pitoco... - levantou meu rosto. - Tu vai ver coisa pior.

- Pitoco? Fala sério, né?

- Não corta o clima, filha da puta. - disse sério e finalmente pude rir. Ele saiu enfezado e agora quem ria era eu. Abracei-lhe por trás e deitei meu rosto em suas costas sob a camiseta escura. Senti seu perfume inebriante e másculo, e sorri, com um desejo visivelmente ímpeto. - Aysha... - ouvi seu sussurro rouco.

Ele se virou e me olhou por alguns segundos antes de selar nossos lábios em um beijo quente e com um resultado imprevisível. Suas mãos desceram ainda mais até chegar na minha nádega, e lá, pude sentir o forte aperto. Seu braço direito passou pelo minha cintura, afastando qualquer centímetro de distância existente entre nós. Em um movimento rápido, minhas pernas cruzaram seu quadril e fui posta contra a parede. Sentia seus lábios macios percorrendo linhas imaginárias do meu pescoço e logo depois, uma mordida seguida de uma leve chupada na região que certamente, deixaria marcas. Sua boca trilhou beijos até chegar na minha e então seus dentes mordiscaram meu lábio inferior.

- Tu me deixa louco, garota.

- É, eu sei. Gosto disso. - respondo em tom baixo.

Ele sorriu entre o beijo enquanto caminhava comigo ainda em seu colo até o quarto. Vitor sentou na cama e pude sentir o desejo percorrer pelo seu corpo. Puxei os curtos fios de cabelo de forma desesperada, ansiando por mais de si. Precisava dele, precisava unicamente dele. Me senti dopada pelo cheiro que emanava e intensifiquei ainda mais o beijo. Estava fora de mim quando rebolei levemente em seu colo, provocando-o ainda mais.

- Puta merda... - sussurrou eliminando todo o equilíbrio que ainda restava dentro de mim.

Tirei sua camisa e o empurrei contra a cama, observando o peitoral forte e tatuado. Mordi o lábio e deixei que meus lábios percorressem com desejo tudo aquilo que naquele momento, me deixava louca. Percorri beijos até retornar para sua boca e, posteriormente, pude sentir seus dentes mordiscarem minha língua. De forma diligente nossas posições foram trocadas, agora com seu corpo sobre o meu. Quando me dei conta minha blusa já era retirada do meu corpo. Senti-me envergonhada e me arrependi por ter escolhido não vestir um sutiãn naquela tarde. A vergonha foi substituída por uma veleidade sedenta ao sentir sua língua tocar cada milímetro do meu seio direito. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram instantaneamente.

Quando nossos lábios voltaram a se tocar, a campainha soou alto, nos separando imediatamente. Bufei quando ele se levantou. Enquanto caminhava até a porta, observei o músculo na suas costas  e mordi o lábio, deixando um pequeno sorriso preencher meu semblante.

Minutos se passaram e pude ouvir uma discussão vindo do outro cômodo. Coloquei a camiseta que ele havia tirado e fui até a sala. Vitor segurava os braços de Kamilla, e assim que me aproximei, ela se jogou em cima dele e beijou-o.

Senti meu coração acelerar e assim que ele afastou a garota, olhou na minha direção, fitando o estado catatônico em que eu os observava.

- Aysha...

Entrei dentro do quarto e peguei meu celular junto ao restante de dinheiro que havia pego de Vitor no outro dia. Ele entrou no quarto tentando se explicar mas logo saí, me dirigindo ao hall de entrada. Abri a porta e me retirei do apartamento de forma rápida. Desejei que meu corpo me obedecesse enquanto me sentia frágil. Ele não tinha culpa, ou tinha? Minha cabeça girava e logo fiquei zonza. Saí do elevador e caminhei até saída da recepção, onde provavelmente teria no mínimo um táxi disponível parado no calçadão do outro lado da rua.

Não me enganei. Entrei no veículo e fui para o único lugar onde ninguém se atreveria a ir. O percurso foi rápido e silencioso. Parei em frente ao Vidigal e desci implorando mentalmente para que ele não estivesse ocupado. Subi o morro em passos apressados e logo contemplei a enorme casa. Entrei sem hesitar e fui direto para a cozinha, a procura das melhores garrafas de vinho. 

Em poucas horas me afoguei em uma maldita ressaca dolorosa com o objetivo de esquecer tudo que Vitor me transmitia, e eu acreditava, de certa forma, que esse era o ponto mais difícil, porque não havia formas, nem mesmo com a grande garrafa de vinho - que agora se encontrava vazia - de esquecer aquele maldito homem que parecia um gibi de tantas tatuagens espalhadas pelo corpo. É, eu o amava, e tinha medo do que aconteceria se caso não houvesse reciprocidade na mesma intensidade que eu sentia. 

Senti medo, temi novamente pelos próximos dias que viria pela frente. Não dava pra negar, eu temia o futuro de uma forma assustadora. Receava pelo que aconteceria cada segundo da minha vida. 

- Aysha? Tá a quanto tempo aqui? - Pergunta Pedro ao adentrar na cozinha. 

- Umas quatro horas? - respondo incerta.

- Bebeu quanto, garota? - indagou a olhar a quantidade de garrafas em cima do balcão.

- Nem a metade do que eu realmente queria.

Me levantei e caminhei até me aproximar o suficiente dele. O álcool bombeava pelo corpo junto ao sangue e sem pensar em absolutamente nada. Puxei Pedro na minha direção e senti seus lábios nos meus. Vazio. Foi tudo que senti. Nada era como ele. Nunca mudaria o que eu sentia por ele. Não era um simples desejo, era necessidade. Eu precisava unicamente dele. O que raios eu estava fazendo? Voltei à realidade em um piscar de olhos e me afastei de imediato, e logo me desculpava, furiosa comigo mesma.

- E-Eu... Desculpa, desculpa mesmo. Eu não tinha idéia do que estava fazend...

- Ei, Aysha, tá tudo bem. Relaxa.

- Não! Não tá nada bem. Eu estava usando você pra esquecer o Vitor e...

- Como se essa fosse a primeira vez. Eu realmente não me importo. 

- Puta merda. Eu não consigo. Desculpa. Preciso ir. - digo e saio em disparada. Não iria perder tudo isso novamente.

****

Atravessei a porta do hall de entrada e vislumbrei o homem tatuado na varanda da sala. Quieto, calado, pensativo, e centenas de adjetivos que eu gostaria de descrever agora se tivesse tempo. Me aproximei de forma lenta e só quando ele percebeu minha presença, me joguei contra o seu corpo e selei nossas bocas como se esse fosse o nosso último beijo. Senti o cheiro forte de cigarro inebriante e intensifiquei o beijo. Tinha total consciência do que fazia e diferentemente do vazio que senti mais cedo, esse era tecnicamente diferente. Existia emoção, existia desejo, existia um passado e um futuro, existia simplesmente, sentimento.

A Filha do ComandanteOnde histórias criam vida. Descubra agora