Capítulo 25.

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Encarei a paisagem através da janela não sabendo o que fazer. Se quebrasse o vidro e pulasse provavelmente morreria em questão de segundos. Suspirei ouvindo a porta ao meu lado ser aberta.

- Precisa de algo? - O homem perguntou.

- Preciso voltar pra minha casa. - respondo.

- Eu não posso... - hesita.

- Claro que pode! Tu é apaixonado nela por acaso?

- Ela é minha irmã.

- Não justifica me prenderem aqui. - digo e fecho o semblante retornando à janela.

- Desculpa... - sussurrou antes de sair.

Respirei fundo assimilando as coisas que a ruiva havia dito. Tentei acreditar ao mesmo tempo que tentava expulsar esses pensamentos da minha cabeça. 

Caminhei até a cama e sentei encostada na cabeceira. Pedi mentalmente que a história mudasse, que a vida parasse de tentar me derrubar a cada segundo dos meus dias. Não acreditava totalmente em destino mas naquele momento imaginei que talvez já houvessem preparado o meu e eu estava destinada aquilo.

Fechei os olhos enquanto respirava fundo para acalmar o furacão dentro de mim e no minuto seguinte, o tédio me consumiu a ponto de adormecer naquela posição mesmo.

Acordei com alguém abrindo a porta e no segundo seguinte já estava em pé.

- Calma! - Luís pediu ao entrar. - Vim trazer comida.

- Não quero. - preciso.

- Vai morrer de fome?

- Sim. - não.

- Aysha... por favor?

- Não quero. - saí e deixa a comida aqui pelo o amor de Deus.

- Tudo bem. Vou deixar aqui em cima da estante caso queira mais tarde. - ele coloca a bandeja no lugar indicado e volta para onde estava. - Verônica saiu, então caso queira conversar ou sei lá, perguntar algo, é só me chamar, estarei no andar de baixo então chame alto. - disse e fechou a porta.

Corri até a bandeja e peguei a comida ainda receosa. Após ver as ótimas condições em que se encontrava, não pensei duas vezes antes de enfiar um pedaço na boca e levar o restante para a cama junto comigo.

A porta foi aberta no mesmo instante e Luís me analisou com um pequeno sorriso. Encarei a bandeja e continuei calada enquanto ele retornava para onde não deveria ter saído.

Minutos depois que terminei de comer fui até o banheiro que havia no lado oposto da porta de saída do quarto. Era grande, mas não havia muitas coisas, pelo menos, nada que pudesse matar um deles.

- Senhorita? - ouvi a voz dele novamente e me encostei no batente da porta. - Quer alguma peça de roupa?

- Er... Talvez.

- Venha comigo. - disse e saiu em seguida.

É o quê?

Caminhei até a porta ainda achando ser alguma brincadeira, porém, assim que me aproximei o suficiente, percebi que ele falava sério. Andei pelo corredor em passos lentos e ele esperou até que eu chegasse em frente a um quarto específico.

- Pode pegar as coisas que precisa. Estarei aqui no quarto ao lado pegando as roupas pra você. Verônica foi até a cidade para comprar novas peças, enquanto ela não chega, pode usar algumas dela. Ela não irá se importar. - assim que terminou, assenti e entrei no pequeno quarto.

Peguei uma escova, toalhas, creme dental, sabonete, papel e algumas outras coisas que talvez eu usaria.

Antes que pudesse terminar de pegar tudo que queria, ele retornou e se encostou na porta.

- Por que você ajuda ela? - perguntei em total impulso.

- Irmãos fazem isso. - respirou fundo, como se aquele assunto o deixasse desconfortável. - Você não ajudaria o Diego?

- Jamais ajudaria alguém sabendo que suas ações prejudicariam outra pessoa. Até mesmo se fosse Diego. - respondi ríspida.

- E se fosse Vitor? - calei por alguns instantes, pensando em uma resposta boa o suficiente para que pudesse fazê-lo repensar por seus atos.

- Não. Eu não sequestraria uma pessoa só para satisfazer os desejos perversos de alguém, mesmo que ela seja extremamente importante pra mim. - fiz uma pequena pausa antes de continuar, me aproximando mais dele. - Mas qual o porquê da comparação entre eu e Vitor? Há algo semelhante entre vocês?

- Não. Apenas usei como exemplo uma pessoa tão importante pra você quanto Verônica é pra mim.

- Continua sendo ridículo. - cruzei os braços.

- Com quem aprendeu a ser dessa forma?

- Que forma? - tentei compreender.

- Ríspida com todos. - pensei por alguns instantes antes de responder:

- A vida me ensinou.

- A vida também te ensinou que devemos viver para poder contar histórias?

- Não quando esse "viver" pode acabar te matando.

Um barulho alto soou no andar de baixo e Luís me puxou para o corredor.

- Entra no quarto logo. - mandou enquanto recolhia as coisas que eu havia pego e me entregava tudo de forma rápida. - Não diga que você veio aqui fora. - assenti e ele me empurrou para o quarto, fechando a porta em seguida.

Encostei-me na parede e tentei de forma falha recapitular os minutos que passei. Resolvi que tomaria um banho e então retornei ao banheiro. Fechei a porta, liguei a ducha e tirei minhas peças.

Senti a água quente bater contra o meu corpo e lembrei do dia em que me reencontrei com Vitor. Lembrei do momento em que esbarrei no seu corpo forte e quase fui ao chão. Lembrei do momento em que nos entreolhamos com aquela dor aguda no fundo do coração. E lembrei de como meu corpo paralisou apenas por vê-lo tão próximo depois de tanto tempo.

A memória do nosso primeiro beijo também invadiu meu subconsciente. Senti o corpo dele me prender contra a parede e suas mãos percorrerem cada milímetro. É, eu precisava dele. 

Imaginei um futuro, imaginei andando no calçadão de uma praia, imaginei nossas mãos entrelaçadas, imaginei e senti o gosto do seu beijo na minha boca. Suspirei. Estava completamente fora de si.
 
Imaginei todo um futuro e logo em seguida vi esse meu futuro desabar. Éramos imprevisíveis. Podíamos estar juntos, ou podíamos simplesmente continuar tentando nos separar. Não havia previsibilidade, não havia certezas, não havia segurança... Havia apenas um presente a ser vivido onde o futuro é totalmente incerto.

Terminei meu banho e vesti as peças que Luís me entregara. Arrumei o cabelo com ajuda de uma toalha apenas e me encarei em frente o espelho.

- Viva o seu presente enquanto o seu futuro for incerto.

Caminhei pelo quarto até parar em frente à enorme janela. Observei a paisagem verde e abri um curto sorriso. Apesar das dificuldades, a natureza continua sobrevivendo, então por que não sobreviver a isso também?

Perdida na minha própria imaginação, só fui perceber a lembrançinha em cima da estante minutos depois.

Me aproximei e peguei o livro com cuidado. A imagem de uma garota loira de costas chamava a atenção na triste capa. "O Jardim dos Esquecidos" era a denominação daquela pequena obra de arte. Sorri enquanto pegava, agora, a rosa presa a um pequeno bilhete com um garrincho de letras mal manuseadas:

"Viva verdadeiramente, as más situações um dia acabam. Histórias autênticas sobrevivem de emoção.

Boa Leitura!"

Dedicado à LavinyaCastro e todos os leitores de AFdC que alegraram meu dia com pouquíssimas palavras e me fizeram continuar.

A Filha do ComandanteOnde histórias criam vida. Descubra agora