Capítulo 17.

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Me encontrei de uma vez por todas cansada de todas as mentiras. A  certeza de que deveria acabar de uma vez essa história era absoluta.

Não desejava mais chorar a cada descoberta em um dia novo, eu queria, com ainda mais intensidade, descobrir até o último vestígio de mentira que ainda permanecia exposta e intacta.

- Você mente de uma forma assustadora, Matheus. - minhas palavras são jogadas ao vento de modo automático.

- Do que tu tá falando, Aysha? - ele se aproxima e franze o cenho, a procura de uma explicação.

- Como consegue mentir dessa forma e não sentir nada por dentro? - indago.

- Tá falando de quê, guria?

- Por quinze anos você soube, Matheus. - ele mordeu o lábio, parecendo, agora, saber realmente do que eu falava. - e por quinze anos você escondeu, não só de mim mas como de todas as pessoas ao seu redor.

- O que tá acontecendo, caramba? - minha mãe interrompe já impaciente. - Do que diabos estão falando? - pobre mamãe que acreditava fortemente nas palavras de seu marido.

- Ué mamãe, é óbvio que seria do Vitor... - fiz uma pausa antes de continuar, observando suas feições mudarem para uma confusão que deixava transparecer a metros de distância. - Matheus sabia e soube por todo o tempo onde o Vitor estava. Pra Matheus ele nunca esteve desaparecido, morto ou sei lá o quê. Na verdade, ele nem sequer perdeu o tempo procurando, porque ele sempre soube onde o Vitor estava.

- Como você sabe disso? - Matheus indaga.

- O próprio me contou.

- Você se encontrou com o Vitor? - agora quem pergunta é mamãe.

- Claro. No final eu o encontraria de qualquer forma, diferentemente de vocês que não souberam procurar.

Laryssa ignora meu último comentário e se direciona a Matheus, parecendo assimilar a nova informação.

- Por que, Matheus? - mamãe pergunta, parecendo realmente magoada com o acontecido. - Por que você escondeu isso de todo mundo? Eu acreditei por um minuto que nunca mais veria Vitor, e você fez não só eu, como todos nós mentirmos para a Aysha por um motivo que por todo o tempo você soube ser desnecessário.

- Eu não podia, Laryssa! Na real, você nem deveria ter se encontrado com ele. - sua última frase é direcionada a mim. - Eu sabia... quer dizer - corrige. -... todos sabiam, uma hora ou outra vocês acabariam juntos. Todos previram esse final que eu realmente quis evitar. Olha pra você, Aysha, tu é a filha de um comandante da polícia federal, enquanto o Vitor é a porra de um traficante de armas. O mesmo traficante que por tempos o seu pai procura. Já imaginou o que seu pai diria se soubesse que o bandido que ele procura há anos é o mesmo que vai pra cama com a filha dele?

- Eu... - minha voz falha.

- Você por todo o tempo culpou o Vitor, mas nunca percebeu que o declínio dele é você. Eu tentei evitar isso pra salvar unicamente a ele, porque você é a armadilha que puxa ele para um buraco sem saída. - cuspiu suas palavras em cima de mim, trazendo à tona a dor que eu fugia.

- O destino deles não deveria ter ficado em suas mãos. A decisão não era sua, e sim, deles. - mamãe interrompeu exasperada.

- É sério que você colocaria a vida de uma pessoa em risco por capricho da sua filha? - cruzou os braços, atento às próximas palavras de mamãe.

- Parem... - peço em um sussurro.

- O seu pai nunca foi pra São Paulo pra tentar te proteger, e sim pra ir atrás de um dos sub-comandos de tráfico de armas do Vitor. Abra a porra dos olhos e enxerga o problema, Aysha! - ele aumenta o tom e Laryssa se assusta. Ela agora  apenas assimilava pacientemente o que acontecia.

A Filha do ComandanteOnde histórias criam vida. Descubra agora