Capítulo 28.

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Não havia estrelas naquela noite. Não havia paz naquela noite. Não havia vida naquela noite.

Meu corpo estremeceu enquanto eu caía junto ao corpo de Pedro.

- Fica comigo, por favor. - pedi sentindo meu coração palpitar. - Por favor, FICA COMIGO, PEDRO. - elevei a voz implorando que me ouvisse e lutasse comigo.

O sangue se espalhava e eu observava a morte se aproximando. Vitor apontou a arma para eles e eu balancei a cabeça negativamente. Não era hora de lutar. Não conseguiríamos mais lutar. Aquele era o fim, não?

- Tá sem saída, Samulles! Larga a arma e se entrega. - Allan disse e o ódio se ascendeu.

Não era de se acreditar que aquilo acontecia. Meu consciente gritava que não. Não! Não! Não! Por favor, não...

- Aysha... - Vitor sussurrou. - Se prepara... - antes que pudesse terminar sua frase vejo um carro vir em nossa direção em alta velocidade.

Reconheceria aquela caminhonete há quilômetros de distância.

Antes que o veículo parasse a porta de trás foi aberta e Vitor me levantou. Tiros agora eram disparados por toda a parte contra o carro. Vitor colocou Pedro dentro de forma rápida e entrei no minuto seguinte.

Respirava fundo enquanto a mão de Pedro estava entrelaçada na minha. Vitor no banco da frente com o motorista e galhos de árvores batendo contra a janela enquanto a velocidade aumentava a cada segundo.

- Temos que levar esse filho da puta no hospital. - Vitor disse alto enquanto recarregava sua glock.

- E a Aysha também. - reconheci a voz e encarei aquele olhos agora tristes me encarando pelo retrovisor... Diego?

Um gemido foi dado ao meu lado e voltei minha atenção para Pedro.

- Pedro? Ei... Fica comigo! Calma, já estamos chegando no hospital. Respira, por favor. - pedia em total desespero.

- Já é... minha hora, gatinha - sua voz falhava. - E avisa pro Menor que o meu morro é o dele agora.

- Não fala nada, seu idiota. - pedi enquanto as lágrimas tomavam conta dos meus olhos.

- Ei.

- Me perdoa... Não era pra isso acontecer! Nada disso era pra acontecer. - falo de forma rápida. - NÃO VAI EMBORA! Eu não aguento mais.

- Aysha...

- Pedro, eu te imploro, não me deixa aqui. Não faça igual todo mundo... Não me abandona. - minha voz falhava enquanto as lágrimas me sufocavam.

Sentia dor no meu coração. Como podiam dizer que sua função era apenas bombear sangue quando tudo que eu sentia agora era uma maldita dor nele?

- Eu te amo. - um sussurro tão baixo que quase não pude ouvir. Minha cabeça pediu socorro enquanto eu mentalmente implorava que minha alma fosse levada junto.

Em um gesto desesperado nossas bocas se juntaram e eu pude sentir o gosto do seus lábios uma última vez.

Por favor, eu apenas quero que você continue aqui.

Fomos entrelaçados por magia; por um futuro distante que talvez aconteceria; por todo o passado que um dia tivemos; fomos entrelaçados pela história que agora era tirada de mim.

Nossos lábios se afastaram e agora pude ver a morte rir de mim.

- Não! NÃO! NÃO! PEDRO, NÃO! - gritava desesperada enquanto seu corpo desfalecia nos meus braços. - Pelo o amor de Deus, volta... Volta pra mim. - a dor invadia meu subconsciente, se alastrando por todo o meu corpo. - Eu preciso de você...

O sangue se espalhava agora pelo carro. Não sabia o que fazer. Eu simplesmente não tinha idéia do que fazer enquanto a morte se aproximava mais a cada segundo.

Eu ainda tenho tanta coisa pra dizer... Se nunca mais vai voltar, não ignore as minhas últimas palavras. Eu preciso de ao menos um minuto pra dizer tudo que sempre precisei dizer.

- Olha, não vai... Pelo o amor de Deus, eu preciso de você aqui. Não tivemos o nosso tempo, não tivemos o nosso momento, não tivemos nem a chance de se conhecer direito... - Eu sussurrava em desespero enquanto ele me olhava com aqueles olhos quase sem vida. - Eu não sei em que momento foi, não sei nem em que momento eu percebi, mas eu amo você, ok? Eu também amo você, e é por isso que você não pode me deixar. - minha visão estava embaçada pelas lágrimas que corriam instantaneamente.

Senti minha mão ser levemente apertada e logo em seguida ela cair. Por quê? O que eu fiz pra que tudo isso acontecesse?


****


Havíamos chegado no hospital há algumas poucas horas. Vitor não podia ficar aqui e por isso foi buscar reforços no Alemão e na Roçinha. Partes do meu corpo mexiam compulsivamente enquanto a ansiedade me deixava em total pressão.

- Senhorita Cooper...? - um médico apareceu e me levantei no mesmo instante.

- Posso ir ver ele? - pedi no automático. Não tinha mais consciência do que acontecia, apenas queria e precisava estar com ele.

- Senhorita...

- Por favor... Me deixa ver ele. - peço novamente.

- Senhorita Cooper, você não pode mais ver ele.

- Espera... Como? - minha cabeça girou e senti os braços de Diego me envolverem em um abraço.

- Eu sinto em dizer, mas ele não resistiu. Quando chegou aqui, já estava sem vida, fizemos de tudo para que voltasse, mas infelizmente não houve resultado. - sua expressão era dura e sombria. Tão dura e sombria como o tapa que a morte havia acabado de me dar.

Era isso? Eu vivi tudo isso para simplesmente estar aqui agora?

- Aysha... - Diego chamou e eu só não fui ao chão por conta dos seus braços que me rodeavam em um abraço.

- Não... Não... Não! - neguei para mim mesma, eu não poderia aceitar isso. - NÃO, NÃO, ISSO É MENTIRA. - gritei e o médico tentou se aproximar, mas instantaneamente me afastei. - Vocês estão mentindo pra mim... - sussurrei.

- Aysha... - Diego chamou novamente.

- Eu não quero viver assim... Por favor, traz o Pedro de volta. Eu não aguento mais. - implorei enquanto as lágrimas voltavam a me abastecer.

Dor. Dor. Dor... Era tudo o que eu sentia.

- Ela precisa se acalmar. - o médico avisou e Diego me colocou sentada na cadeira, ajoelhando-se de frente para mim e puxando meu rosto contra o dele.

- Ei, vai ficar tudo bem...

- Não, não vai. Por que todos estão mentindo pra mim? Eu sei que ele tá bem! Ele não foi embora!

Fechei meus olhos sentindo meu coração acelerar mais do que o normal. Fechei meus olhos enquanto sentia meu mundo desabar de forma rápida. Fechei meus olhos sentindo a falta de ar consumir meu corpo. Fechei meus olhos enquanto a vida novamente destruía meu coração.

Morte... Morte... Querida morte...

Por que insiste em levar aqueles que não mercem ser levados?
Quando foi que resolveu que sua hora havia chegado?
Não percebe o caos que causou? Não percebe a dor que me trouxe?
Você é tão monótona e má. Não sei o porquê de haver tantas pessoas querendo um dia te conhecer.
Você é horrível, tão triste como o poço profundo da escuridão.
É invejosa, sempre deseja levar a vida daqueles que não a querem.

Vida... Vida... Querida vida...

És tão horrível quanto a própria morte.
Causando sempre um grande sofrimento e depois rindo achando que não ficaríamos abalados com as pedras que nos joga.
Sim, você é horrível.
Eu te odeio, te odeio tanto quanto odeio a morte.

A Filha do ComandanteOnde histórias criam vida. Descubra agora