Estávamos no hospital, esperando pacientemente enquanto uma cirurgia de extrema demora acontecia. Vitor novamente se colocando na frente das pessoas em uma situação de risco, e no final, agora estava lá dentro daquela maldita sala branca, com uma possibilidade grande de risco de morte.
Menor batia o pé na cerâmica, me causando uma irritação maior ainda.
Lua do outro lado, encarava o teto, sentada na cadeira como se estivesse esperando algo que não viria.
- Oh caralho! - Menor grita impaciente para a recepcionista. - Será que a senhorita poderia parar de olhar a porra da sua unha e ir ver o que merda tá acontecendo antes que eu precise meter bala em alguém?
- Eu v-vou ver. Calma aí, moço, já volto. - a recepcionista sai em disparada até o corredor principal.
- Você tá bem, Menor? - Lua pergunta.
- Eu pareço bem? - diz encarando a garota a sua frente. - Eu pareço bem, Lua? Porra, o Vitor tá lá dentro correndo risco de ir pra baixo da terra e tu ainda me pergunta se eu tô bem?
Levanto com toda a minha paciência esgotada. Aquilo havia sido a gota d'água e agora eu já estava nervosa demais para controlar as próximas palavras que sairiam da minha boca.
- O quão idiota você ainda consegue ser? - me aproximo o suficiente para ficarmos centímetros de distância. - Para de tentar dar uma de pessoa forte que nunca precisa de ninguém. Todos sabemos que ele corre risco e não é só você que tá desesperado. - aumento o tom de voz ainda mais. - Caso tenha esquecido, é uma das pessoas mais importantes da minha vida que está la dentro. A mesma pessoa que por quinze anos eu procurei e só agora que finalmente encontrei aquela porra, o inferno do garoto decidi se enfiar na frente de uma bala pra salvar a caralha do amigo que é cego demais pra perceber que tem uma única pessoa nessa sala que não está aqui pelo Vitor, e sim unicamente por você. - me afasto abaixando o tom de voz, percebendo que agora, chamava a atenção até mesmo de alguns enfermeiros que passavam. -
Imbecil!Volto a me sentar e ele fita Lua que no mesmo instante desvia o olhar, envergonhada demais por palavras que agora me pergunto se deveria realmente tê-las soltado.
Ouço o barulho de pessoas correndo e logo avisto mamãe e tio Lehandro se aproximando, visivelmente preocupados.
- Aysha! - Laryssa chama assim que me vê. - Por quê? - fez a única pergunta a qual eu não queria e não saberia responder.
- Pequena... - Lehandro se aproxima, abrindo os braços em forma de abraço. Caminhei ainda receosa em sua direção, e só quando o abracei, percebi que ele nunca havia feito parte disso. Ele havia sido o único a me apoiar indiretamente em todo aquele caos. - Estávamos preocupados. Todos estão sabendo do que aconteceu no morro do Vidigal com o Pedro.
- Você está bem? - mamãe pergunta após alguns segundos me analisando.
- Sim. - respondo.
- E o que aconteceu com o... você sabe... ele? - ela indaga, com medo da possível resposta e de como isso me afetaria.
- Tá na cirurgia. - digo e vejo a tensão nos seus ombros se dissiparem.
- Pensei que... não sei... o pior, talvez. Eu já passei por isso, tanto na morte da mãe do Luke, quanto na morte do pai do Breno e até mesmo quando Matheus entrou em coma. Sei o quanto isso machuca e eu não posso deixar que passe por isso assim como eu. - ela se aproximou e pegou nas minhas mãos em uma tentativa de passar conforto. - Ele vai ficar bem, você tem que acreditar nisso.
Assenti ainda assimilando cada palavra que havia saído de sua boca.
Eu precisava acreditar...
Ele ficaria bem. Ele vai ficar bem.
Ele precisa ficar bem. E eu não sairia daqui enquanto não houvesse respostas.A recepcionista voltou com uma expressão cansada ao lado de uma enfermeira. A moça ao seu lado iniciou em tom baixo:
- A cirurgia ainda está em andamento. A situação do paciente é grave e eu peço que tenham paciência enquanto o doutor que está operando não vem com os resultados.
- Mais paciência? Tá de brincadeira!
- Menor... - repreendo a falta de educação e ele revira os olhos, indo até a janela no outro lado da sala de espera. - Obrigada. - agradeço pela sua vaga informação e ela assente retornando pelo caminho que veio ao lado da recepcionista.
Volto a me sentar enquanto Lua e Lehandro se afastam para conversar. Laryssa vai atrás de um copo de água e Menor, pela primeira vez desde que chegamos, se senta ao meu lado. Suas mãos passam pelo seu rosto em uma tentativa falha de retirar um pouco do cansaço, não só físico como psicológico.
- Ei. - chamo sua atenção e ele me olha ainda envergonhado pela cena de mais cedo. - Vai ficar tudo bem. Se eu acredito nisso você também tem que acreditar.
- Valeu nanica. - reviro os olhos e ele me abraça de mal jeito. - Eu acho que eu vou... - ele olha para Lua antes de terminar. - falar com ela mais tarde.
- Esse mais tarde seria quando? - indago desconfiada.
Ele me olha pensativo e responde ainda em receio com um pequeno sorriso:
- Outro dia, talvez? - franze o cenho.
- Eu acho que vocês deveriam parar de deixar tudo pra depois. Tudo é incerto nessa porcaria de vida e mesmo assim vocês ainda não vão atrás de nada, sempre deixando as questões pra mais tarde. - digo e ele faz uma pausa antes de responder.
- Eu... eu não sei. É pra falar com ela agora? - pergunta em relutância.
- Não, mas isso vai ser sua prioridade assim que recebermos notícias do Vitor. E não, não é pra semana que vem ou pra outro dia, é assim que recebermos a notícia. - dou ênfase na última frase e ele assente antes de responder:
- É... Tudo bem. Eu faço isso. - ele me encara e logo em seguida olha ao redor antes de continuar. - E por que raios você ainda esconde o que sente por ele? - calei no mesmo instante e ele prosseguiu. - Sabe, tu mesmo mandou o papo, tem que parar de deixar tudo pra depois, mas já que sabe disso, por que simplesmente não conta pra ele tudo o que tu tá sentindo?
- É complicado. - havia outra palavra para definir?
- É mesmo complicado ou isso tudo é medo? - não soube responder. Ou soube e não quis dizer.
- Desde quando comecei a receber conselhos e ser julgada pelo Menor? - tentei discontrair, já percebendo que aquela conversa me levaria a outro rumo. Um rumo que certamente, eu tinha receio de seguir.
- Felipe. - corrigiu e soltou um sorriso. No mesmo instante lembrei dele me retificar pelo mesmo fato controverso há dias atrás, e foi inevitável não sorrir também.
- Tudo bem... - inicio pensando em suas palavras. - Eu vou...
Interrompo minha própria fala quando Menor ergue o olhar. Tive receio do que viria nos próximos segundos pelo semblante que se fixou no rosto do garoto a minha frente.
Respirei fundo antes de virar na direção que todos na sala olhavam.
O doutor nos fitou com paciência e sem qualquer expressão de felicidade ou tristeza. Estremeci antes mesmo do médico dizer qualquer palavra. Estava aflita, eufórica, sentia minhas pernas bambearem e minhas mãos tremerem, agradeci imensamente por estar sentada naquele instante.
- Lamento pela demora... - se aproxima. - Há algum familiar de Vitor Samulles aqui?
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__________Dedicado à girll1980
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A Filha do Comandante
Roman d'amourSpin-off de "Entre Facções". ______________________________________ Aysha agora com 18 anos, morando com seu pai, Allan Cooper, em uma das regiões mais seguras de São Paulo. Filha da fiel de um traficante e de um comandante da polícia federal. Vito...