Capítulo 20.

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- Lamento pela demora... - se aproxima. - Há algum familiar de Vitor Samulles aqui?

- Ele não tem família. - Menor responde por todos que estavam presentes. - Mas tem ela... - aponta com a cabeça na minha direção. - É namorada dele.

Engasgo com a minha própria saliva assim que ele diz tais palavras. Lua solta um pequeno riso mas logo se cala. Estava estranhamente envergonhada, mesmo sabendo que todos tinha consciência de que aquilo, de certa forma, não era verdade.

- Bom... como foi explicado mais cedo, a bala ficou alojada no peito do paciente e foi necessário uma cirurgia de ermegência para a retirada, e para o alívio de todos, a cirurgia apesar de haver complicações foi um sucesso. - ele abriu um pequeno sorriso no final, aliviando todos que estavam presente.

- Já podemos vê-lo? - Menor foi o primeiro a se manifestar.

- Por contas dos efeitos dos medicamentos, o senhor Samulles continua adormecido e isso ainda pode durar por mais algumas horas. Aconselho que antes dos exames serem feitos que ele receba apenas uma visita.

****

Vitor havia acordado a cerca de uma hora e meia, e até agora, eu não tinha obtido a oportunidade de no mínimo ouvir a voz dele. Diversos exames foram e ainda seriam feitos, e se caso não houvesse nada, logo receberia alta, mas claro, com repouso absoluto - o que todos sabiam que não aconteceria se dependesse da teimosia dele -.

Menor havia sido o único a entrar dentro do quarto em que Vitor estava e agora permanecia calmo, quieto e menos eufórico em um canto da sala; e de alguma forma, aquilo me causou um certo conforto.

- Aysha Mendes? - O doutor apareceu no corredor me pegando de surpresa pelo chamado.

- Sim?

- O paciente pediu que você fosse até o quarto. Poderia me acompanhar? - indagou com um pequeno sorriso e sem saber o que responder, assenti antes de encarar Menor.

Segui o médico até uma ala mais organizada e menos movimentada, e logo estávamos em frente ao quarto que obviamente, seria o dele.

- Qualquer coisa pode chamar uma das enfermeiras aqui fora. - informou e novamente assenti.

Abri a porta em um movimento lento no instante em que ele se afastou. Observei cuidadosamente o homem tatuado que parecia adormecido naquela cama de hospital. Senti meu coração apertar e sequei minhas mãos que soavam frio na calça.

Me aproximei o suficiente para poder tocar na mão dele. Observei cada detalhe e até mesmo aquilo que eu ainda não havia reparado.
A tatuagem que iniciava no pulso ia até pescoço; os ombros largos; o cabelo curto, liso e em tom castanho escuro...

E antes que eu pudesse continuar minha análise, seus olhos tão escuros e brilhantes me encararam de uma forma carinhosa e ao mesmo tempo, indescritível.

- Tu tá tão linda descabelada assim. - sua voz ecoou com certa dificuldade.

- Cala a boca. - abri um sorriso. - Eu já falei que você é um idiota? - indaguei e ele fez questão de mostrar aquele sorriso branco com os dentes alinhados e perfeitos.

Sem que eu percebesse minha mão ainda tocava a sua e só alguns segundos depois, senti seus dedos entrelaçarem os meus.

- Você quase me matou do coração, sabia? - falei e ele soltou um riso colocando a mão próximo a cirurgia em seguida.

- Te imploro que não me faça rir pelos próximos dias. - seu semblante de dor me fez paralisar no mesmo instante. 

- Eu... é... - me perdi assim que meus olhos percorreram aqueles lábios cheios e desenhados. O arrepio que senti na coluna foi inevitável. Tempo demais. Desviei o olhar, levemente constrangido, no momento em que percebi o que fazia.

- Porra Aysha, não fode. Me beija logo, cacete. - pediu e não hesitei em atender.

Seus lábios tocaram os meus e isso foi o suficiente para aliviar toda a tensão que ainda existia dentro de mim. Pude sentir o calor percorrer cada milímetro do meu corpo e intensifiquei o beijo.

- Não faz mais isso, por favor. - pedi separando nossas bocas por alguns poucos segundos.

- A única coisa que eu quero agora é fugir daqui. - sorriu ao dizer e fiz o mesmo, instantaneamente.

A porta foi aberta e me separei dele, uma distância considerável para que não desejasse fazer coisas piores e indevidas.

- Precisamos terminar o restante dos exames para que seja liberado. - informou a enfermeira e eu assenti ao voltar a olha-lo, ainda envergonhada.

- Terminamos isso mais tarde. - disse com um maldito sorriso de lado, deixando as segundas intenções previamente visíveis.

- Lamento informar senhor... - olhou na ficha antes de prosseguir - Samulles, mas é necessário repouso absoluto então terá que dizer adeus para qualquer coisa que esteja pensando.

Desejei que houvesse um buraco para esconder o meu rosto ali. Reuni forças e coragem o suficiente para selar nossos lábios uma última vez e provocar da melhor forma possível.

- Pelo visto o senhor Samulles terá que esperar até o fim do seu querido repouso. - arqueei a sobrancelha em provocação e sai, sem esperar por qualquer outra resposta.

Senti minhas pernas bambearem no momento em que virei o corredor. Era traída pelo meu próprio corpo enquanto tentava caminhar de uma forma não desastrosa até a recepção.

- Tu tá bem, Aysha? - Menor indagou assim que sentei em uma das cadeiras da sala de espera.

- Sim. - respondi de imediato.

- É que... o batom tá borrado, sabe? - passou o dedo próximo ao lábio e repeti seu movimento no meu rosto. Desejei que houvesse um espelho e me arrependi por não ter trago nada comigo. - Aysha...? - chamou novamente enquanto eu ainda tentava limpar o possível borrado.

- Oi?

- Tu não veio com maquiagem. - lembrou-me e então, abri um sorriso tentando disfarçar a grande magnífica queda na armadilha.

- Por que você não resolve fazer algo invés de ficar me perturbando?

- Como por exemplo... - iniciou para que eu prosseguisse.

- Ir atrás da Lua. - o suficiente para que ele desse meia volta e caminhasse em sua direção. No momento em que ele se aproximou, ela ergueu a cabeça e ele passou direto, indo até o bebedor na mesma direção.

Ela voltou a abaixar a cabeça e ele me encarou, implorando em silêncio por ajuda.

Balancei as mãos em sinal para que "se virasse" e sai até o banheiro, com o único objetivo de deixá-los sozinhos.

A Filha do ComandanteOnde histórias criam vida. Descubra agora