cinco - cortes e lembranças

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Desde que meu irmão foi diagnosticado, eu só conseguia pensar e perguntar nas minhas inúmeras conversas com Deus

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Desde que meu irmão foi diagnosticado, eu só conseguia pensar e perguntar nas minhas inúmeras conversas com Deus..

Se você me levar.. você deixa ele? Oh meu Deus, você não pode trocar os nossos lugares? Eu mereço isso, Park não.

E era verdade. Park não merecia, era o filho perfeito, o aluno perfeito, o amigo perfeito. Park era perfeito em absolutamente tudo o que fazia. Já eu? Eu era um desastre em tudo o que fazia... ainda sou.

Ainda estou viva.

Tenho de me lembrar disso as vezes, já que sempre sinto que já estou morta.

Minha alma morreu junto com Park.

Não estou vivendo, estou sobrevivendo desde que meu irmão gêmeo se foi.

Encaro o porta-retrato na minha cômoda e me levanto, procuro uma tesoura pelas gavetas, até finalmente achar uma no armário do meu banheiro.

Me encaro no espelho e solto meu cabelo, que antes estava em um coque bagunçado.

Meus olhos fundos denunciam que não dormi bem. Mas fazem anos que não durmo mais bem.

Fazem anos que não me sinto bem.

Levo a tesoura a altura do meu ombro e corto a primeira mecha.

Depois a segunda, e assim eu faço com metade do cabelo.

Não sei porque estou fazendo isso, mas sinto como se estivesse me livrando de um peso.

As lágrimas começam a descer assim que eu pego outra mecha. Não sei se estou chorando por causa do meu cabelo, ou do meu irmão, ou por me sentir sozinha. Deus, quando eu me tornei isso?

Eu parecia com ele. Os mesmos olhos verdes. Eu ia lembrar dele toda vez que me visse no espelho.

— Porra! — grito e bato no espelho, o quebrando, que machuca minhas mãos. — Por que? Eu te pedi... te pedi tanto... — continuo batendo no espelho

Minhas mãos devem estar doendo, não sei. Não sinto nada. A dor emocional é maior. Sempre vai ser.

Sinto sua falta. Sinto sua falta para caralho, Park. Por que você me deixou? Eu não estava preparada... eu ainda não estou. Preciso de você!

— Grace? Que barulho foi esse? — ouço a voz de Tereza e a porta do meu quarto abrindo

Deixo meu corpo escorregar até o chão, sujando o tapete com o sangue da parte interna das minhas mãos.

Encosto a cabeça na parede fria assim que Tereza entra no banheiro. Ela me olha preocupada e pergunta coisas que eu não entendo.

Ao invés de responder, apenas abraço ela. Abraço ela forte e choro.

— Ele me deixou, Tereza. Ele me deixou. Eu não sei o porquê disso. — sussurro chorando

Acho que ela diz que vai ficar tudo bem. Quero dizer que não. Que ele se foi, e não vai mais voltar.

Meus pais não estavam em casa, então não iriam se deparar comigo no chão do banheiro, com as mãos sangrando e o espelho quebrado.

Pobre Grace. Enlouqueceu.

Gostaria de ter enlouquecido, talvez assim eu fosse internada ou algo parecido.

Tereza me ajudou a terminar de cortar o cabelo, ela também cuidou da minha mão. Quando meus pais chegaram, eu deixei ela explicar.

Meu pai não se importou muito, disse que ia comprar um espelho novo. Minha mãe veio direto para o meu quarto, perguntou se estava tudo bem.

Eu mandei mensagem para Harry, mas ele só respondeu quando eu já estava dormindo, então eu só vi na manhã de domingo. O garoto disse que estava ocupado com coisas da faculdade.

Por um minuto, pensei que seria bom eu ter algum amigo de verdade. Mas eu não tinha. Acontece que eu era difícil quando se falava de amigos.

Nenhum amigo meu é amigo de verdade. Gostaria de ter um amigo que fosse como Meredith e Yang: que fosse a minha pessoa e eu fosse a dela.

O jeep branco para em frente a minha casa e eu suspiro, pegando uma bolsa e me encarando no espelho antes de sair do quarto. Íamos comer alguma coisa.

Harry notaria que eu havia cortado o cabelo?

— Mãe! Vou sair com Harry! — aviso e bato a porta de entrada da casa, andando até o jeep

O garoto está encostado no carro, usa um tênis branco, calça jeans e uma blusa polo vermelha. Seu cabelo está perfeitamente penteado e ele me olha através dos óculos escuros.

— E aí?! — ele diz e passa a mão pela minha cintura, me puxando para perto dele e juntando nossos lábios em um selinho

— Tudo bem lá na faculdade? — pergunto e ele assente

— E na escola? — pergunta e dou de ombros

— O mesmo de sempre.

— Desculpa não ter respondido você ontem. Você sabe, a faculdade acaba comigo. — diz Harry e passa a mão pela minha coxa

— Tudo bem. Não quero atrapalhar seus estudos. — digo e ele sobe um pouco mais a mão

— Você nunca atrapalha. — diz e começa a beijar o meu pescoço, eu sorrio

— É melhor a gente ir. — digo e ele suspira decepcionado, se afastando

— Você está linda como sempre.

Como sempre? Ele não notou nada de diferente?

— Nada de diferente para você? — pergunto e encosto minha cabeça no banco

— Nada. Sempre perfeita e gostosa. — diz e da a partida no carro

Suspiro em decepção. Ele não notou o meu corte de cabelo, não notou que não estou usando nenhuma maquiagem, que estou mais reservada... Harry não notou nada.

Encaro minhas mãos que tem alguns cortes, como se alguém tivesse rasgado ela.

Me pergunto se Jayden notaria.

Para de pensar nele, Grace Farren.

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