vinte - adeus

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Encaro o garoto deitado ao meu lado, seu peito nu subindo e descendo enquanto dorme tranquilamente

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Encaro o garoto deitado ao meu lado, seu peito nu subindo e descendo enquanto dorme tranquilamente.

Não sei por quanto tempo fico ali, mas parece segundos porque mal acredito que isso está acontecendo.

Fiquei com tanto medo na noite anterior, quando ele se mostrou decepcionado por tê-lo beijado depois de terminar com Harry.

Ele abre os olhos calmamente e sorri ao perceber que estou ali, como se achasse que eu fosse um sonho.

— Sabe... — digo passando as unhas curtas pelo peitoral dele — Se você quiser sair sem encontrar meus pais, é melhor ir logo.

Jayden parece alarmado e se levanta, enquanto procura a cueca boxer.

— O que é? Achei que você queria algo sério comigo... — brinco, fingindo estar ofendida

Ele se preocupa, se virando para mim depois de vestir a cueca.

— Quero, só.. o que seus pais vão achar de acordarem e darem de cara comigo? Eles vão saber que eu dormi aqui...

Dou uma risadinha

— Estou brincando. Vem aqui. — digo e ele obedece, ficando por cima de mim, eu ajeito seus cachos rebeldes

— Você é a garota mais linda que eu já vi. — ele diz depois de passarmos um bom tempo nos encarando

Sorrio abertamente, puxando seu corpo e o abraçando.

— Estamos namorando agora? — ele pergunta

— Não sei. Você quer? — pergunto, o fazendo revirar os olhos

— O que você acha? Não insisti tanto para nada.

Jayden começa a distribuir beijos pelo meu rosto, depois desce pelo meu pescoço, meus seios e aí...

A porta abre e Tereza adentra, com algumas roupas de cama na mão. Eu puxo o lençol para nos cobrir e Jayden enfia a cabeça no travesseiro, como se pudesse desaparecer.

— Querida, fiz waffles como você gosta... — ela diz, mas para assim que vê o montinho debaixo do lençol ao meu lado — Eu to atrapalhando? — a mulher pergunta

— Um pouco. — digo fazendo uma pinça com os dedos e ela abre a boca, entendendo.

— Okay. Seu café está pronto lá embaixo. Volto mais tarde para trocar a colcha de cama. — diz e com isso desaparece, fechando a porta.

Solto uma gargalhada e escuto Jayden rir debaixo do lençol.

— Pode sair. — digo, mesmo que ele já soubesse que podia. Jayden reaparece de debaixo dos panos — Deveria ter trancado a porta.

— Devia mesmo. — ele diz suspirando e se levantando da cama — Acho que vou sair pela janela.

— Deixa de ser bobo. — falo me levantando e vestindo a calcinha e a blusa masculina, quando me viro para ele novamente, está encarando uma foto de Park

— Quem é?

— Meu irmão. — digo suspirando

— Tem seus olhos.

— É.. eu sei.

— Onde ele tá? — pergunta e me encara, engulo em seco pensando no que responder

— Tenho algumas coisas para te contar. — falo calmamente — Antes de virar a página, totalmente, entende? Preciso seguir em frente.

Ele se senta na cama e me encara, ficamos calados por um tempo

— Minha mãe se matou. — ele diz — Fui eu que encontrei ela.

Ergo as sobrancelhas em surpresa, porque Jayden não parece o tipo de garoto que encontrou a mãe morta.

Não sei se existe esse tipo de garoto, mas Jayden não parece estar quebrado como eu.

Entendo o que ele está fazendo. É um incentivo para que eu fale sobre os meus traumas, sei disso. Jayden está se abrindo para que eu possa me abrir também.

De repente, me sinto idiota por tê-lo feito mal por tanto tempo. Ando até ele e sento em seu colo, deixando um beijo em sua testa.

Junto nossas mãos e encaro nossos dedos entrelaçados enquanto tomo coragem para contar.

— Era meu irmão gêmeo. — explico

Quando termino de contar do mesmo jeito que contei para a psicóloga, nós nos abraçamos.

— Sinto muito. — dizemos em uníssono, o que nos faz rir em seguida, mesmo eu estando a beira de lágrimas.

— Preciso ir vê-lo para deixar isso para trás. Não fui ao velório dele, me escondi em casa. Foi patético.

Ele passa o dedão pela minha bochecha, limpando as lágrimas.

— Vou com você. — ele diz.

Simples assim.

Vou com você.

É mais importante para mim do que ele conhecer meus pais.

— Se quiser... claro.

Dou uma risadinha e um selinho nele.

Horas depois, Jayden está dirigindo até o cemitério.

O cemitério que meus pais escolheram parece mais um condomínio do que um cemitério. Sério, as grandes pilastras claras na entrada, e os portões enormes.

Fico feliz que seja assim, é menos deprimente. Parece algo que Park gostaria.

Andamos um pouco até eu achar o jazigo de Park.

Parker Lucas Farren.
31/10/2002 - 17/11/2014
Irmão e filho amado.

— É o meu nome do meio. — Jayden diz ao olhar a lápide

— O que?

— Temos o mesmo nome do meio. — explica — Lucas.

Gosto de saber dessa informação. Não sei. Eu adoro o nome de Parker, as vezes acho que se tiver um filho, vou colocar o mesmo nome.

Jayden segura a minha mão, entrelaçando nossos dedos.

Passamos em uma floricultura antes para comprar algumas flores. Comprei lírios, porque meu irmão me dava lírios nos nossos aniversários.

— Tá tudo bem. — diz

Assinto com um meneio de cabeça.

Já passa das seis da tarde, e o sol está quase para se pôr.

A visão é linda daqui, e sinto vontade de chorar porque o cemitério parece um jardim, digno de Parker. Sinto vontade de chorar porque estou com Jayden, e ele me provoca essa sensação de conforto. Sinto vontade de chorar porque finalmente acho que vou seguir em frente.

— Sabe de uma coisa? — pergunta enquanto caminhamos de volta para o carro de mãos dadas, o céu escurecendo

— O que? — pergunto

— Quando eu publicar um livro, você vai ler? — pergunta e eu dou um sorrisinho

— Posso tentar...

— Espero que consiga, porque tenho um livro sobre você.

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