Escolha errada - cap 3

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Murilo

Estava ficando cansado de esperar já, não entendo porque Eric me fez vir para a cidade com ele dessa vez. Ele estava resolvendo algo à respeito do trabalho e me pediu para vir com ele, mas confesso que só vim mesmo para me livrar um pouco de Lisandra.
Ah, só de pensar já dá desânimo em voltar para Fênix, tudo era mais fácil quando Eric ainda morava lá, antes de me abandonar e ir morar em Danver. As coisas em Fênix não estavam como eu gostaria que estivessem, incluindo meu relacionamento, que, no começo foi lindo, eu estava tentando tampar um buraco que um certo alguém causou em mim, e ela me consolou, e aos poucos fui melhorando, mas nunca melhorei por completo. Agora não sei mais o que somos, moramos juntos, mas nem parece que somos um casal, ela não faz questão de mim, não faz questão nem dela mesma, chega do trabalho e a única coisa que faz é dormir, eu até tento agradar, tento melhorar as coisas entre nós, mas já estou desistindo, afinal, ninguém aguenta lutar sozinho.

Cansei de pensar, estava no estacionamento do prédio de advocacia sem fazer nada, então resolvi ir comprar algo para comer enquanto esperava Eric, liguei o carro e saí, mas quase atropelei uma mulher, droga, Murilo.

não consegui ver seu rosto, mas era bem mais baixa que eu, e tinha um corpo que... Meu Deus. Não, cancela, não posso olhar assim para outra mulher, que tipo de pessoa estou me tornando?
Até tentei oferecer ajuda, mas ela se recusou e foi embora.

- Fala cabeça, o que tá pegando, cê tá bem? - Eric perguntou ao se aproximar, pouco depois que aquela mulher foi embora.

- Sim, por que?

- Tá meio distante, distraído, não sei.

- Impressão sua. São só pensamentos

- Tenho a solução pro seu problema, seja lá qual for.

- Duvido, diz aí.

- Larga aquela mocreia e vai trabalhar em Danver, tá perdendo tempo, seu mongol.

- Se fosse fácil como você diz

- Tá vendo? Nem negou, é isso que você quer, admite logo.

- Tô com fome, podemos procurar algum canto pra comer e matar quem está me matando? - perguntei desviando do assunto

- Leu meu pensamento. Mas não pense que vai fugir fácil desse assunto.

Eric é meu braço direito, um irmão pra mim, o conheci quando me mudei para Fênix, trabalhamos no mesmo hospital durante esses anos, até que ano passado meu padrasto faz uma proposta para nós dois irmos trabalhar no hospital dele, em Danver, Eric como não tinha nada a perder, aceitou, já eu... Bom, eu tento todos os dias me convencer de que fiz a escolha certa.

Encontramos uma lanchonete em frente a um parque, compramos os lanches e fomos andar para conhecer.

- Ô seu cabeça de vento, quanto você tá ganhando naquele hospital?

- Ah, eu... - ele me interrompeu

- Agora pensa como seria ganhar o triplo, ou até mais.

- Você sabe que não é pelo dinheiro

- É pelo seu "casamento"? - falou fazendo aspas com os dedos

- Claro, não posso simplesmente jogar tudo para o ar, apesar de eu sentir vontade

- Você não precisa jogar tudo para o ar, ela já fez isso por você. Ah não ser que ela esteja grávida, aí eu entendo esse afastamento, são os hormônios.

- Impossível, só se o filho não for meu.

- Tá tão ruim assim? - perguntou chocado

Apenas confirmei com a cabeça. Há quase três meses não nos tocamos, em nenhum sentido.

- Então, vai ficar nessa relação mentirosa e desgastante até quando?

- Tenho que tentar lutar antes de desistir de uma vez.

- E por falar em lutar, acho que tô xonadão.

- Você? Aham, e eu sou o Batman. Você é o cara mais galinha que eu conheço.

- É sério, mané, conheci uma mulher, meu Deus, não é nem gente.

- E como você conheceu ela?

- Através da minha prima, aliás, outra gata, se você fosse solteiro eu te apresentava.

- Você não toma jeito mesmo, mas e aí? Não vai mesmo nem tentar?

- Já chamei ela para sair uma ou duas vezes, mas ela não me dá moral, cê acredita? Acho que isso me deixou mais apaixonado ainda.

- Para Eric, isso é fogo, sei bem. Daqui a pouco passa.

- Não é, tô falando, ela é diferente.

- Mas como você é trouxa, vai embora, e nunca mais verá essa menina na vida.

- Nem brinca com isso, meu coração chega a falhar aqui

- Tem o contato dela, pelo menos?

- Sim, quando eu vier pra cá, vou tentar outra vez.

- Sei não, hein. Pra mim isso é fogo.

- Ai vambora, cansei de te ouvir falar abobrinha.

- Quem começou foi você.

- E você terminou

- Quer dirigir? - perguntei

- Me dá essa chave.

Joguei por cima do carro e ele pegou.

Como só iríamos embora amanhã, voltamos para o hotel, Eric foi para o seu quarto e eu para o meu.

Me joguei na cama e comecei a lembrar de tudo que ele falou, sobre perder tempo, ficar em uma relação mentirosa e desgastada, e querendo ou não, ele tem um pouco de razão. Esfreguei meu rosto e pensei em como tudo estaria diferente agora, se ela não tivesse sumido do mapa, provavelmente estaríamos juntos, casados e com filhos, por que não pôde ser assim? Ficar pensado nisso agora só vai piorar tudo, afinal, quem me deixou foi ela, e eu fiz minhas escolhas desde então.

Resolvo tomar um banho pra esfriar a cabeça, mas tudo que eu conseguia pensar eram nas palavras de Eric. Lisandra não faz questão de mim, meu emprego não é o que eu sonhava, perdi um paciente recentemente e isso me abalou muito, não consigo mais focar em meu trabalho, minha vida não estava como eu queria, será que tem como piorar? Acho que não.

Pensei muito e cheguei a conclusão de que eu preciso de férias! Está decidido, vou pedir licença do hospital, e quanto a Lisandra, vou ver o que faço, mas só sei que isso não pode continuar do jeito que está.

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