Você? - cap 4

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Murilo

Após muitas horas de viagem deixei Eric em Danver, vi minha mãe e meu padrasto e fui para Fênix, que ficava a pouco mais de duas horas de Danver. A verdade é que eu não tinha vontade nenhuma de voltar pra lá, tenho saudade de morar em Danver, e motivação zero para continuar aqui.

- Chegou rápido, pensei que vocês voltassem só amanhã. - Lisandra falou ao me ver entrar em casa

- Ficou incomodada por eu ter voltado mais cedo? - Perguntei, colocando a chave do carro na mesa

- Não né Murilo, você e sua mania de colocar palavras na minha boca.

- Vai começar? - perguntei

- Vou fazer algo para eu comer que ganho mais, ao invés de ouvir você falar.

- Me dá menos dor de cabeça.

Ela bufou e foi para a cozinha. As vezes penso que estar com Lisandra é um erro, na verdade tudo que eu faço ultimamente parece um erro. Desde que perdi Bryan, meu último paciente, não tenho tido cabeça para nada, não consigo me concentrar em cirurgias, nem nada, por isso pedi uma licença, mas não sei se consigo voltar tão cedo. Ainda tem Lisandra que não ajuda, no começo do nosso relacionamento era tudo muito bom, apesar de eu nunca ter superado meu passado. Ela me fazia esquecer disso, as vezes, mas esfriou, nosso relacionamento esfriou, não sei se posso dizer que a amo.

- Lis... - falei pegando no ombro dela, na intenção de me redimir

Ela saiu tirando minha mão de seu ombro.

- Estou cansada, trabalhei o dia inteiro.

- Podemos conversar pelo menos? - perguntei já sentindo meu peito ferver

- Vou deitar. - entrou no quarto e fechou a porta. Ótimo, eu vou dormir onde?

Peguei meu casaco e saí, mesmo sendo tarde, não tinha cabeça para aguentar mais um problema. Dirigi por um bom tempo e cheguei em casa, na minha verdadeira casa.

Bati na porta, pela hora meu padrasto ainda estaria acordado, e como eu esperava, quem abriu foi ele.

- Murilo, meu filho, entre. - ele me deu espaço pra entrar. - A que devo a honra de sua visita?

- Eu só vim pra esfriar um pouco a cabeça. Ando muito confuso e aqui me traz boas lembranças.

- Ué, e a Lisandra? Está tudo bem entre vocês?

- Aquelas coisas, né!? A gente tem brigado muito, por isso eu estou aqui. - abri um sorriso amarelo e ele gargalhou.

- Seu quarto está intocado, como sempre. Sinta-se à vontade. - ele me abraçou e me deu uns tapas leves nas costas. - Sua mãe está no décimo sono.

- Tudo bem, amanhã eu falo com ela.

Falo já subindo as escadas, mas ele chama a minha atenção novamente.

- Ei, você está de licença? - confirmo e ele continua. - O que acha de vir trabalhar no hospital comigo? Tenho a vaga perfeita pra você, e, de bônus, ainda volta a morar conosco aqui. - ele fala numa animação só.

- Sr. Cooper, eu não... - ele me interrompe.

- Antony, meu filho, Antony.

- Antony, eu agradeço muito o seu convite, mas eu realmente preciso esfriar a cabeça, senão vou endoidar.

- Tudo bem, eu entendo. Mas a proposta vai ficar de pé, ein?

Confirmo e vou para o meu quarto. Minha mãe fez questão de deixar tudo no mesmo lugar que eu deixei quando sai de casa. Infelizmente. Assim que eu entro, me deparo com um quadro nosso, na "nossa" praia particular. Ela está sentada na minha frente, com as costas no meu peito e a cabeça no meu ombro, e eu estou fazendo cosquinha com a barba no pescoço dela. Ela, como eu costumo lembrar, sempre com esse sorriso lindo. Meu peito dói ainda mais. Guardo esse e as outras milhares de fotos espalhadas pelo quarto numa gaveta e vou tomar um banho para relaxar a cabeça. Mas antes de entrar no banheiro, me viro e analiso todo o quarto. Não sei se eu que estou ficando doido ou, se eu me concentrar, o quarto ainda tem o cheiro dela. Não, óbvio que não, eu estou ficando doido. Mas uma certeza eu tenho, lembro de todos os momentos que tivemos aqui, mas em que adianta eu pensar nisso? Ela quem foi embora sem dar explicações, ela que me deixou péssimo, ela que me fazia feliz. Sem exceção. Péssima hora pra lembrar disso. Cancela. Tomo um belo banho, visto apenas uma cueca e vou dormir. Amanhã quero acordar bem cedo pra poder surfar. Meu grande xodó.

Quando o dia amanhece, dou um pulo da cama, com as energias bem renovadas e já sinto o cheiro típico do café da minha mãe. Vou ao banheiro e faço minhas higienes, visto uma roupa apropriada pra surfar, coloco um short e uma camisa e desço. Ela me recebe com um sorriso enorme e me abraça.

- Meu amor! Que saudade de você. Quando seu padrasto falou que você veio, eu nem acreditei.

- Pois é, eu vim passar um tempo aqui. Não tem problema, né!?

- Claro que não, meu filho. Fique o tempo que quiser. Vem, vamos tomar café. Fiz o bolo que você tanto gosta.

- Humm, assim eu penso seriamente em ficar.

Nós ficamos um bom tempo conversando e comendo. Sempre me dei muito bem com o meu padrasto, ele é um homem muito bom pra minha mãe e a faz feliz. Além de ser um grande médico e dono do hospital daqui, tem um coração gigante. Minha mãe é quem administra o hospital, já que ele ama as cirurgias e não as larga para cuidar de papeladas.

Me despedi deles, peguei a prancha e fui à praia, afinal, é na "esquina" de casa. Todos os que moram nessa redondeza se conhecem, então não tem perigo. Amo essa brisa, esse cheiro de mar faz um bem danado. Tiro a roupa, coloco na mochila, ficando só com a de banho e vou pra água. Eu realmente estava precisando disso. Pego umas ondas maneiras, levo algumas (muitas) quedas por estar meio sem prática. Mas nada que o tempo não aperfeiçoe de novo. Pego uma última onda e vou saindo do mar, quando vejo uma movimentação na casa ao lado da minha. Vou chegando na areia e avisto um carro estacionando na frente da casa dos Melchior. Deve ser mais um inquilino. Minha mãe me falou que faz um bom tempo que eles não aparecem por aqui. Por que será, né!?

Dou de ombros e vou indo em direção a minha casa.

- Filho, seu padrasto já já chega para irmos almoçar no seu restaurante favorito, tá bom?

- Tá b... Ei, vocês estão me mimando de propósito?

- Quê? Nós? Não, é, jamais. Vou terminar de arrumar algumas coisas. - e sai toda desconfiada, mas esse pessoal não tem jeito.

Ela dá uns passos, mas recua e me chama.

- Meu filho, eu sei que você acabou de chegar, mas Antony irá realizar uma cirurgia em outra cidade e eu terei que acompanha-lo, mas estamos de volta em uma semana. A casa é sua.

Concordo e resolvo subir, preciso de um banho daqueles que limpam até a alma.
Subo e vou tomar um belo banho pra tirar o sal do corpo. Termino e pego o primeiro calção que eu vejo. Minha mãe já entrou aqui e guardou minhas roupas, agora eu não sei onde ela botou as camisas. O quarto está meio escuro porque a luz já está querendo queimar, então eu vou abrir a janela. Emperrada, ótimo. Faço um pouco mais de força e ela abre num solavanco, fazendo uma bela zuada. Me assusta e assusta a pessoa da casa ao lado que fica estática ao olhar pra mim. Não é possível.

- Você. - dizemos em uníssono.

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