Capítulo 2 - Café no jardim

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"Abandoneis toda a esperança
vós que entrais no inferno."

Dante Alighieri

Dante Alighieri

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DANTE

Pouso meus olhos mais uma vez no saco de papel, com o número e o nome dela. Marina. Ontem foi um dos raros dias que decidi ler do lado de fora de casa, e ela apareceu.

Mesmo a certa distância, pude analisar sua simpatia leve, seus olhos doces, sua educação cordial e, ainda que eu a tenha destratado, consegui notar seu interesse fugaz.

Sim, interesse. Percebi o modo como enrubesceu quando fixei meus olhos nos seus.

E a mulher foi atrevida, sustentando meu olhar por longos segundos. Até que a inconveniente da Nice chegou, quebrando a porra do encanto.

Sei que, em um primeiro momento, desperto o interesse das mulheres. Sempre despertei, e em um passado longínquo usava isso a meu favor em todas as oportunidades. Minha cama nunca ficava vazia. Um jogador de futebol no seu auge é um afrodisíaco irresistível.

Mas hoje em dia, com a mesma rapidez com que o interesse surge, ele desaparece.

Quando me conhecem — quando me conhecem por inteiro, de verdade — elas não ficam.

Nenhuma mulher em sã consciência iria querer ficar com um homem quebrado como eu. E foda-se, porque eu também não quero ninguém. Não preciso de ninguém.

Portanto não me dou ao trabalho de ser gentil. Prefiro já abreviar o contato, antecipando o inevitável.

Fui rude com Marina, confesso, e me diverti com sua reação irritada, gritando com o rosto vermelho que preferiria dar os biscoitos aos cachorros.

Quase dei risada, e admito que fiquei deslumbrado. Seus olhos castanhos faiscando de raiva não saíram da minha cabeça até tarde da noite.

Tem alguma coisa em Marina que me intriga... Me sinto curioso, instigado, quase empolgado, e não me reconheço. Não costumo me sentir assim.

Normalmente as únicas sensações que permeiam meus dias são indiferença, tédio, desinteresse, torpor.

Não posso negar que é algo diferente e estimulante. Como uma chama bem fraca, mas capaz de me lembrar de que ainda estou vivo. Quebrado, sim, mas vivo.

E foi perdido nestes pensamentos que ontem adormeci.

***

Hoje é segunda-feira. Ainda estou deitado preguiçosamente na cama. Nice abre as cortinas com tudo, quase me cegando com o sol. Porra.

— Hora de acordar, menino Dante. Já passa das 09:00. Bom dia.

Suspiro fundo, concluindo que ela ainda me vê como uma criança de dez anos de idade. Igual na época em que começou a trabalhar para a minha avó.

Reflexo Quebrado [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora