Capítulo 7 - Choque

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"A vontade, se não quer, não cede,
é como a chama ardente, que se eleva com mais força quanto mais se tenta abafá-la."

Dante Alighieri

Dante Alighieri

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DANTE

Quinta-feira. Hoje faz exatamente duas semanas que tento esquecer Marina.

O tempo é uma merda cruel. É injusto para caralho. Dá pesos e importâncias diferentes aos dias, ferrando com as pessoas.

O dia tem 24 horas. Todos os dias. Mas alguns parecem demorar bem mais para passar. Os ruins, obviamente.

Conheci Marina em um domingo, e cortei o contato com ela quatro dias depois, em uma quinta-feira.

Quatro malditos dias em que vivi dentro uma sedutora miragem em meio ao deserto da minha vida de merda.

Agora estou há quatorze dias sem vê-la, sem nem conversar com ela. Mais do que o triplo do tempo. E este período maior, apesar de torturante, não foi capaz de me fazer esquecer do outro período, dos quatro dias fodidos. Pelo contrário.

Penso diariamente em seu sorriso bonito, seus olhos castanhos, seu cheiro doce, sua pele que se arrepiou sob os meus toques, sua boceta quente e molhada, pronta para mim. Porra!

Ah, Nina... Fico em dúvida se não teria sido melhor nunca ter lhe conhecido. Porque tê-la da forma que tive — tão fugaz, tão incompleta — está me destruindo.

Há anos que minha vida é uma merda, há 15 fodidos anos. Pensei que não tivesse como piorar. Afinal, do fundo do poço ninguém passa.

Só que piorou.

Parece que depois de respirar por um breve instante sob a luz de Marina o diabo me puxou com tudo para baixo, para além do fundo do poço. Para um lugar mais sombrio, fétido e ruim.

Me sinto fisicamente fraco, não tenho conseguido me alimentar direito, e mentalmente fodido, com os pesadelos vindo até mesmo durante os menores cochilos.

A única distração que tem me tirado momentaneamente deste inferno é jogar videogame com Gabriel. Ele lá e eu aqui, é lógico. No entanto, desde que suas aulas começaram o moleque tem ficado menos online, por causa das lições e trabalhos escolares.

Pelo o que me contou, está também com a agenda mais ocupada por causa das aulas no condomínio, aprendendo sobre futebol de verdade. Tem tido aulas com um tal de professor Rodrigo, e se sente bem empolgado.

"Agora que sei chutar, nunca mais vai ter o prazer de furar minha bola, velhote! Vai ter que arrumar outro passatempo para assustar as criancinhas do condomínio." Ele riu pelo chat do jogo.

Confesso que senti certa irritação, ciúmes talvez, do modo como fala orgulhoso do professor. Queria eu ter condições de ensinar o pirralho a jogar bola. Aposto que colocaria este bosta do Rodrigo no chinelo.

Reflexo Quebrado [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora