Reflexo Quebrado [COMPLETO]

Capítulo 3 - Mensagens

MARINA

Segunda-feira à noite, estou descansando depois do jantar. Repasso mentalmente o diálogo que tive de manhã com Dante. Ele é, sem dúvidas, um homem interessante.

Em um primeiro momento, no domingo, se portou de modo estúpido e grosseiro. Mas, surpreendentemente, hoje cedo se mostrou educado, culto e dotado de um senso humor afiado. Uma companhia tão agradável que nem vi o tempo passar.

Um jogador de futebol que lê — e relê — a Divina Comédia? Isto não se encaixa no estereótipo.

E seus olhos verdes, que me desconcertam? Quase me perdi naquele lago de cor esmeralda em mais de um momento. Apesar da vontade de mergulhar de cabeça até me afogar, racionalmente sei que preciso ir com calma.

Não sou a mulher mais sortuda na escolha de homens, longe disso. Sou impulsiva e sempre acabo quebrando a cara. Os três divórcios que o digam.

Dr. Carlos Varela, meu advogado, agradece meu "dedo podre". Os valores que já lhe paguei a título de honorários somam uma pequena fortuna. Se bem que, se este foi o preço para me ver livre daqueles trastes, valeu cada centavo.

***

Três casamentos, três fracassos.

O primeiro foi com Gustavo, o pai de Gabriel. O casamento mais longo de todos. Durou quase cinco anos, dos meus 21 aos 26. Começou com aquela velha história: nos conhecemos na universidade, engravidei, casei. Ele era muito bonito, com seu estilo despojado de surfista.

O problema é que Gustavo era um irresponsável, imaturo, marmanjo de quase 30 anos com cabeça de adolescente. Foi embora com outra mulher porque se cansou de "brincar de casinha", e decidiu "curtir a vida". Foi tarde.

Depois veio Yan, o argentino. Uma dúzia de anos mais velho, charmoso, professor universitário. Era um intelectual, supostamente centrado e produtivo. Ficamos casados por apenas 10 meses, durante os meus 27 anos.