Capítulo 6

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Não digo nada por algum tempo, fico o encarando durante esses minutos. Ele me olha de volta como se não entendesse a minha reação.

Conforme o meu silêncio prolonga por tempo demais, decide se pronunciar:

Minha esposa e eu temos um acordo: podemos manter um relacionamento de patrocínio, se quisermos. Ficamos juntos de segunda a quinta-feira e nos dedicamos aos nossos respectivos babies de sexta a domingo.

— Isso não estraga a relação entre vocês?

— De maneira nenhuma. É, na verdade, completamente o oposto — explica rápido demais. — Dalila e eu nos casamos muito cedo e isso afetou nossa relação ao longo dos anos. Começamos a nos afastar por algumas situações insustentáveis e chegamos ao ponto de apelarmos para a traição de fato. Os dois fomos infiéis, mas superamos do nosso jeito. Ela tem os desejos dela e eu tenho os meus, assim como ela é profissionalmente bem-sucedida, como eu também sou. Não haviam razões para não sentarmos e colocarmos as cartas na mesa como dois adultos, em uma conversa franca e sem filtros. Foi ótimo para nós e abriu a jaula que havíamos trancafiado ao nos casarmos. Ela deixou claro onde errei e eu fiz o mesmo. Ainda havia amor entre nós, não queríamos nos separar, então procuramos meios de continuar sem estragar. Foi no relacionamento aberto que encontramos o gás que faltava para manter nossa chama acesa, isso fortaleceu nossos laços e tornou o sexo muito mais intenso e proveitoso. Dalila sabe, eu sei, somos felizes... Isso nos basta.

Tomo um longo gole da minha bebida apenas para não comentar. Isso é inédito para mim. Nunca conheci ninguém que mantivesse um casamento aberto, menos ainda podia imaginar que isso realmente desse certo para alguém. É comum ver esse tipo de coisa nos filmes, séries e livros, contudo ainda é um tema pouco visto e abordado abertamente. Há um grande preconceito com relação a isso, sejamos francos.

Sempre pensei em relacionamentos assim como algo que nunca durasse por muito tempo. Talvez fosse porque fui sempre do tipo que prefere um relacionamento tradicional com duas pessoas focando exclusivamente um no outro, sem procurar sexo por fora. Embora, sendo bem honesto comigo mesmo, não há nada de tradicional no tipo de relacionamento que venho tendo de uns anos pra cá.

Isso dá até uma sensação de incompetência, pois pode parecer que o sexo nunca vai ser bom o suficiente para o parceiro e fará com que procure em outra pessoa pelo que falta em mim, sem falar que pode ser algo superficial demais.

Apolo fica me encarando e sei que está estudando minha reação.

— Isso é novo para você, não é?

— É, sim. — Não minto. — Nunca pensei que algo assim desse certo. É... diferente.

— Sim. Claro, eu entendo — garante. — Nem todo mundo compreende ou concorda com nosso modo de pensar e é por isso que mantemos segredo. Mas não quero te obrigar a se envolver comigo se não for da sua vontade.

Concordo lentamente.

— Entendi. — Penso em George. — Mas não acha que ficarmos juntos poderia afetar de algum modo a sua relação com George?

— De maneira nenhuma — certifica. — Na verdade, nem pensei nisso... Mas você se relacionou com ele, sabe que George também é desprendido. Ele não liga com quem você vai estar agora, desde que esteja feliz. E outra, ele não faz nem noção que serei eu a bancar você a partir de agora.

— Você falou com ele a meu respeito?

Demora a responder e antes mesmo que o faça já sei a resposta.

Ele anui com a cabeça.

— Não falei diretamente, mas pesquei informações. — Balaço a cabeça, concordando. Baixo os olhos e encaro minha xícara. — Sei que te peguei de surpresa, porém quero que pense com carinho.

NAS MÃOS DO PRAZER (COMPLETO)   [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora