EPÍLOGO

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O silêncio se instaura no ambiente pesado feito concreto. Fico com a boca aberta durante alguns minutos. Apolo também está passado e seu rosto ficou branco feito papel, com a informação. As batidas dos nosso corações em descompasso quase podem ser ouvidas, como o toque em um filme de suspense.

As lágrimas voltam a escorrer no rosto de Dora e mesmo sem ter convivido com ela a vida inteira, como Apolo, entendo porque o criou como um filho e como esconder esse segredo durante tantos anos deve ter sido tão difícil.

— Você é minha avó? — Apolo está incrédulo. A mão de Dora continua em seu rosto e ela a desce até seu peito, parando sobre seu coração.

— Sim, querido.

— Como?... Por quê?

— Tive que guardar esse segredo para conseguir ficar perto de você. Seu pai me permitiu ficar contanto que nunca contasse nada do que havia acontecido. Ele sabia que uma coisa arrastaria a outra e que tudo recairia sobre ele, como se fosse o único culpado.

— Meu pai era um monstro! — sua voz falha.

— Seu pai era um homem muito insensível, sim.

— Dora, porque você jogou de acordo aos termos dele? Tivemos tantas chances de termos tido essa conversa e mesmo assim você guardou isso para si mesma... — ele engole em seco. Me levanto e vou pegar outra bebida para mim.

— Seu pai tinha muita influência e disse que me afastaria de você para sempre se te contasse qualquer uma coisa. — ela funga. — Tive medo de ser impedida de conviver com você, como ele fez com Laura. Eu sabia que ele era capaz de fazer isso e de destruir a vida de quem se metesse no caminho dele.

— Meu pai destruiu a vida de quem?

— Não importa, querido!

— Importa sim! Se ele fez isso, quero saber. — Dora abaixa a cabeça, pressionada. — Tudo bem, se não quer dizer, então não precisa.

Sei que nenhum dos dois se lembra da minha presença e talvez essa seja a deixa para que os deixe sozinho, todavia não quero fazer isso em partes porque estou curioso para saber mais e em partes porque estou preocupado com eles.

Encho o copo com a bebida que tomei sem me importas se isso é indelicado ou não. Nesse momento, normas e ética não estão comigo, só sinto que preciso encher a cara para me esquecer que esse dia existiu, embora saiba que não tenha tantas razões para fazer isso quanto Apolo.

— Laura finge que nem me conhece e ficar perto de você é mais uma maneira de tê-la por perto também. Sinto falta da minha filha...

— Laura... — reverbera Apolo, quase que como experimentando o sabor do nome da mãe biológica saindo pelos próprios lábios.

Tomo um gole da bebida e volto para a poltrona.

— Você me perdoa por não ter contado?

A bebida queima minha garganta enquanto Apolo a encara com ternura.

— Nem precisa perguntar isso, Dora. É claro que sim! — ela dá um sorriso amarelo, porém de puro alivio. — Sei que fez o que foi possível para ficar.

Tomo mais da minha bebida.

Ele finalmente me encara, seus olhos vermelhos. Franze os lábios para mim, indicando seu descontentamento por me ver beber desse jeito.

— Depois que você cresceu, tive medo que não me entendesse... — soluça.

— Não importa quem seja, a imagem que tenho de uma mãe é você quem ocupa. — garante.

NAS MÃOS DO PRAZER (COMPLETO)   [+18]Onde histórias criam vida. Descubra agora