XXIV. A festa - pt. 2

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- Você está gostando?

Steve sussurrou no meu ouvido, antes de me rodar. Estávamos dançando alguma balada romântica dos anos 90. Eu não sabia onde estavam Leigh e Matteo e, sinceramente, não queria saber. Eu estava dançando com o cara mais bonito da festa e me divertindo!

Antes que eu pudesse responder, senti uma mão em meu ombro.

- Preciso de você.

O sotaque francês era inconfundível. Emma tinha o cabelo preso em duas tranças ao redor da cabeça e estava em um vestido curto dourado que refletia todas as luzes da festa. Ela parecia preocupada.

- Já volto - beijei a bochecha de Steve (eu havia desviado de todas as suas tentativas de beijo no decorrer da noite) e deixei que Emma me puxasse pelo braço.

- Eu não sei como ele entrou aqui. Ele tá bêbado, pensei que fosse causar alguma confusão, quebrar a cara de alguém com um chute ou... Sei lá o que esses encrenqueiros fazem. Mas não. Ele ficou ali sentado, sem responder ninguém. O que é até pior.

Parei de andar, fazendo com que Emma quase caísse quando tentou me puxar. Ela olhou pra mim de modo impaciente.

- Do que você tá falando? Tá bêbada?

Emma revirou os olhos. Emma Barrett nunca ficava bêbada. Ela provavelmente entraria em combustão espontânea se, por algum motivo, não estivesse no controle por alguns segundos.

- O Christofer, Liz! O Christofer!

Ai meu deus! O que diabos Chris estaria fazendo ali? Assenti para Emma e deixei que ela me levasse pelo labirinto que era seu Palácio de Versalhes.

Christofer estava encostado no muro, fumando e olhando para o nada. Ele parecia morto. Tentei lembrar de alguma vez que eu o tivesse visto assim, mas nada veio à mente. Era a primeira vez que eu o via tão... Sem vida.

- Vou deixar vocês dois aí - disse Emma, rapidamente sumindo dali.

- E aí, astronauta? - quando éramos pequenos, ele sempre dizia que seria um astronauta.

- Ir pra Marte parece uma boa ideia agora - Chris deu uma risada seca, antes de tossir.

Me apoiei na parede ao seu lado. Ficamos assim por um bom tempo, observando os jovens bêbados pulando na piscina, bebendo, gritando e até acendendo uma fogueira com uma madeira que só Deus sabe onde conseguiram.

Senti os dedos de Christofer entrelaçando-se nos meus. Ficamos assim por mais um instante. Me surpreendi ao perceber que poderia ficar assim para sempre.

- O que aconteceu? Por que você está aqui?

Ele respirou fundo.

- A ex-sra. Keegan de repente lembrou que tem um filho e resolveu me esperar no sofá de casa. Eu precisava ir para algum lugar... Qualquer outro... Mas todo mundo que eu conheço está aqui.

Christofer não via a mãe desde.... Bom, desde sempre. Ele raramente falava sobre isso, e eu me sentira muito especial no dia que me contara tudo. Natalia, sua mãe, tivera uma gravidez muito conturbada e, com o nascimento de Christofer, desenvolvera um quadro de depressão pós-parto, provavelmente também relacionada a outros transtornos psicológicos. Ela acreditava não ser capaz de cuidar do filho, e se tornara cada vez mais desinteressada em tudo, inclusive na própria vida. E então ela fugiu.

- E como você está se sentindo?

Ele apertou meus dedos com mais força, e eu me segurei para não fazer uma careta.

- Enjoado e com vontade de quebrar algo.

- Bom, então somos dois - o empurrei com o ombro, em uma tentativa falha de melhorar o clima. Longa pausa desconfortável - O que eu posso fazer para melhorar essa situação?

Christofer me olhou de verdade, pela primeira vez na noite. Ele parecia arrasado e meu coração doía com essa realização. Nada mais importava no mundo, nem as brigas com minha irmã, os olhares de Matteo ou o garoto lindo que me esperava em algum lugar dentro de casa. A única coisa que importava era que Christofer não estava nada bem.

- Você já está fazendo. Só estar aqui já é o suficiente. Ajuda a pensar.

- As outras 200 pessoas aqui também te ajudam a pensar?

Eu podia jurar que ele quase havia deixado escapar um sorriso.

- Não muito.

- Tive uma ideia! - anunciei, sem conseguir esconder minha expressão de animação.

Estávamos num dos milhares de quartos de hóspedes de Emma. Esse era especial, porque estava localizado em um corredor que quase ninguém frequentava. Eu sabia disso porque, quando não tive coragem de voltar para casa depois de ultrapassar em 3 horas o horário estipulado por minha mãe, foi esse o quarto que Emma me designou. E eu nem conseguia ouvir o barulho da música ou dos convidados.

- Aqui está muito melhor! - Chris gritou, jogando-se na cama com os braços abertos. Sentei ao seu lado, observando-o atentamente. E então ele me puxou pelo braço, fazendo com que eu me deitasse ao seu lado e arrancando uma risada.

- Por que ela voltou? - o tom sério dele cortou minha risada - Depois de tanto tempo. Eu já estava acostumado com a ideia de não ter uma mãe. Que direito ela acha que tem sobre mim?

- Talvez ela só queira recuperar o tempo perdi...

- Não, não, não. Não é isso - ele balançava a cabeça energeticamente - Você só fala isso porque é boa demais. Eu mantenho minha opinião.

- Bom, eu conheço algumas pessoas que não concordariam com você no momento...

Ele girou na cama, apoiando seu peso de lado no cotovelo e pousando a mão na cabeça. Seu rosto estava perigosamente próximo ao meu.

- Me conte.

Pude me sentir corar. Cassie com cetteza me direcionaria um olhar reprovador ao ver que eu, mais uma vez, direcionara o assunto para mim. Talvez eu fosse mesmo tão egoísta quanto ela dizia. Na verdade, eu tinha certeza que era.

- Claro que não! É você quem tem que falar hoje. Eu só estou aqui para ouvir.

- Me ajuda a ocupar a cabeça - ele desviou o olhar, fitando o edredom - Além disso, eu gosto de ouvir você falar.

Senti um frio na barriga. Ele estava falando a verdade; sempre me ouvia falar sobre qualquer bobagem com o mesmo interesse que assistiria a um TED talk do David Bowie. Quando percebi, estava sorrindo.

E então eu contei tudo. Bem, quase tudo. Falei sobre a discussão com Cassie e a confusão com Leigh, tentando omitir tudo que tivesse a ver com Matteo, o que acabou se mostrando uma tarefa mais difícil do que eu previra. A última coisa que eu queria era despertar o ódio naquele coraçãozinho tão machucado ao trazer o nome do descendente de italianos na conversa. Christofer ouvia tudo com atenção, passando a mão pelos meus cabelos de um jeito que me fazia ficar estranhamente consciente de cada músculo no meu corpo.

- Não sei como colocar isso em palavras mais gentis - ele disse quando eu acabei de falar, os dedos entre meus cabelos descendo pelo meu pescoço e parando na minha clavícula - Mas você tá errada pra caralho.

Bufei.

- Eu sei que estou!

- Saber que está errada não basta, Elizabeth... - ele disse, com uma expressão tão séria no rosto que não consegui segurar a risada. Quem diria que algum dia eu estaria levando uma bronca de Christofer, a pessoa mais cabeça de vento que eu conhecia! Tinha algo de muito cômico naquilo, e acho que ele percebeu também, porque logo juntou-se a mim no riso.

- Ei! - Chris exclamou, ao sair da crise de riso em que nos colocamos - Com quem você veio pra cá, afinal?

"Ah, com Steve...", eu estava pronta para responder. Aimeudeus, o Steve!

Procura-se Meu Namorado [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora