XXVIII. Tchau

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Enfrentar os corredores da St. Margaret nunca tinha sido uma tarefa especialmente árdua. Claro, eu sempre soube que 90% daquelas pessoas estavam que gostavam de mim e só procuravam um motivo para virar as costas. Bom, agora elas tinham.

Eu não sabia qual versão da história estava sendo sussurrada de ouvido a ouvido, mas pelo olhar desconfiado das garotas e aquele nada discreto dos garotos, as coisas não estavam muito boas para mim. Eu precisava me lembrar de respirar a cada passo que dava.

- Bom dia!

Dei de cara com Ben Navarro ao fechar a porta do meu armário. Eu sentia como se não o visse há séculos, mesmo que apenas um fim de semana tivesse passado. Ele estava falando comigo como se nada tivesse acontecido; será possível não saber dos rumores? Eu não me surpreenderia, na verdade, já que Ben não tinha contato com muitas pessoas que pudessem colocá-lo em dias com as fofocas da semana.

- Bom dia - respondi.

Ele enfiou as mãos na calça que era folgada demais para os padrões da St. Margaret, e espremeu os olhos ainda mais, fazendo com que quase sumissem.

- Eu... é... eu encontrei aquele filme - ele tirou um pendrive do bolso e estendeu para mim. Eu devo ter parecido muito confusa, e de fato estava, porque Ben logo começou a se explicar - Ah, você não lembra... Aquele filme francês de terror. Eu falei sobre ele uma vez e você disse que queria assistir, mas nunca tinha encontrado... E você ainda não lembra - ele riu.

Balancei a cabeça negativamente, forçando um sorriso. Agradeci e recebi o pendrive, era muito adorável de sua parte.

- Você ouviu o que estão falando de mim? - perguntei, enquanto fingia ter esquecido algo no armário.

Ben parecia não saber o que responder. Eu até podia imaginar seu dilema: ser sincero e arriscar machucar meus sentimentos ou mentir e sentir-se mal depois.

- Sim - disse, simplesmente. E se Benjamin Navarro já sabia dos boatos, então toda a St. Margaret já devia saber.

- E você acredita?

Terror tomou conta do seu rosto. Em outra ocasião, eu até riria do desespero que Ben expressava agora. Ele retirou a mão do bolso para tocar no meu braço, se arrependeu e voltou a escondê-la.

- Claro que não, Liz! Eu sei como as pessoas desse colégio são. Você esqueceu que Jasmine é minha irmã? Você é só a vítima da vez. Eles vão cansar em alguns dias e pular pra outra pessoa.

- Você é um anjo, Ben. Não deveria perder seu tempo comigo.

- Liz, do que...

- Tchau, Ben - depositei um beijo rápido em seus lábios, antes de sair quase correndo dali.

Eu estava falando sério. Ben merecia algo muito melhor do que alguém que o mantinha no banco de reservas em busca de um namorado que talvez nunca encontrasse e esquecia dos filmes sobre os quais ele falava tão apaixonadamente. Eu havia percebido isso durante minha conversa com Cassie, um dia atrás. Ben merecia alguém que o amasse pelo que ele era, e não pelo que podia ser.

Quando percebi, estava fechando a porta do cabine do banheiro e o alarme do primeiro horário soava distante. Ótimo. Meus planos par aquela manhã envolviam passar o maior tempo possível trancada ali.

Eu estava cansada de procurar. Estava exausta de me envolver em situações e relações que não me cabiam à procura de algo tão impalpável quanto o rosto borrado que assombrava minhas lembranças. Nada daquilo teria acontecido se eu não tivesse ido atrás de Steve, em primeiro lugar. Eu estaria feliz e todo mundo me trataria como antes. Se eu havia pedido, às lágrimas, para esquecer meu namorado naquela noite infame, então era isso que eu faria daqui para a frente. O esqueceria.

Procura-se Meu Namorado [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora