III. Bom dia!

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- O que isso deveria significar?

Eu estava começando a ficar com raiva de Matteo. Era tão difícil assim apenas seguir o roteiro que eu escrevera em minha cabeça, se apaixonar perdidamente e amar incondicionalmente cada pedaço de mim, desde o meu fio de cabelo ao dedão do pé? Por que ele tinha que dificultar a minha vida com toda essa baboseira? Era tão mais fácil apenas se render aos meus encantos.

- Isso significa que você não fala com pessoas como eu.

Levantei em um rompante, com a dramaticidade que me é característica, levando a mesa no caminho e fazendo o maior barulho. Sorte a minha que ninguém em St. Margaret's frequentava aquele lugar e nem a bibliotecária ligava para o barulho que fizéssemos, ela estava feliz que ao menos dois alunos estavam ali.

- Pelo amor de deus, que bobagem! - coloquei ambas as mãos sobre o seu livro, não me importando com seus protestos de "você está amassando as páginas" - Eu falo com todo mundo nessa escola. 

- Ah, é? - ele conseguiu puxar o livro das minhas mãos - Quando você falou comigo por espontânea vontade, nesses 3 anos que estudo aqui? Não precisa de rodeios, Elizabeth, é só falar o que você quer.

Não podia ser tão ruim quanto ele estava fazendo parecer. Ok, eu não conseguia lembrar de nenhuma vez em que eu tivesse trocado alguma palavra com Matteo, mas era apenas porque nunca estávamos no mesmo ambiente, nossos círculos de amigos eram extremamente diferentes e nunca sentávamos em cadeiras próximas nas aulas que assistíamos juntos. Ele estava falando como se eu fosse Emma Barret, que só fala com alguém que tenha algo que ela queira. Eu poderia ser tudo, menos uma Emma Barret.

- Eu já te desejei bom dia - eu parecia uma criança.

- Não - ele parecia estar se divertindo com minha total falta de controle. Mas que filho da puta - Eu lembraria desse acontecimento - Matteo Caputo piscou para mim.

O que ele estava fazendo? Então era assim que ele flertava? Não era de se admirar que raramente ficasse com alguma garota do colégio. Nem eu, que já o seguira até a biblioteca com o único objetivo de cair de amores por ele, estava certa de que ainda o queria. 

- Bom, pode ter certeza de que, depois disso tudo, você continuará sem o meu "bom dia".

- Que pena! - a ironia em sua voz era clara.

Apanhei o livro que estava lendo e coloquei na estante atrás de Matteo e o observei me observar a medida que me deslocava até lá. Não era ali o seu lugar, mas pelo menos isso daria algo para a bibliotecária fazer. Joguei tudo o que havia colocado na mesa em minha mochila, pela primeira vez sem nem me importar se estava colocando cada coisa no bolso certo, ainda sem falar uma palavra. Eu queria que cada músculo de meu corpo mostrasse o quão irritada com Matteo eu estava.

- O Capote - ele disse, sorrindo, um segundo antes de eu pegar minha mochila e sair dali. Apenas balancei a cabeça e fiz uma careta, como se pergunta-se "do que você tá falando, garoto?" - O livro que estou lendo. É O Capote, de Nikolai Gógol. Muito bom, inclusive.

Nessa breve interação, eu já havia notado como Matteo Caputo funcionava. Ele gostava de criar argumentos e em seguida agir como se nada estivesse acontecendo, na maior naturalidade do mundo e com a paz de um monge budista estampada no rosto.

Qualquer bom jogo é feito para se jogar a dois. Antes de sair da biblioteca, olhei uma última vez para o garoto que me encarava e, com metade do corpo já do lado de fora, lhe dei meu melhor sorriso.

- Bom dia, Matteo!

- Bom dia, Matteo!

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Procura-se Meu Namorado [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora