XVI. Eu gosto de me desafiar

967 177 99
                                    

Matteo e Leigh Anne foram para um bar decadente do outro lado da cidade, após deixarem o Central Station no dia do show de Christofer. Aparentemente, ela conhecia um dos sócios do lugar. Lá, minha irmã ficou tão louca que Matteo não podia deixá-la em casa, nem levar para a casa dele sem que seus pais surtassem (mais um boato falso para a lista interminável: a única droga ilícita que ele usava era maconha, e, ao contrário do que diziam as más línguas, ele não vendia. Minha irmã, no entanto, usava tudo que a ofereciam). Leigh Anne subiu na mesa para dançar e deu em cima de todos os caras de meia-idade que estavam no recinto. Matteo então alugou um quarto num motel ali perto para que ela ficasse em segurança, e Leigh passou metade da noite vomitando e a outra metade dormindo como uma pedra. Nas palavras de Matteo: foi decepcionante. 

- Mas vocês ainda vão sair amanhã...

- Sim. Espero que ela não encha a cara dessa vez.

- Porque você ainda tem esperanças de transar com ela - afirmei. Ele apenas balançou a cabeça de modo desatento, concordando. E então algo me veio à mente - Você tinha planos de transar comigo hoje?

Matteo virou-se para mim com um sorriso divertido no rosto.

- Bom, você está na minha cama, não? - ele deu uma piscadela.

- Que filho da puta! - gritei, aos risos. Levantei de rompante de sua cama, num ato dramático. Ele me puxou pelo braço, de modo que eu voltasse a sentar do seu lado.

- Eu não tinha planos de transar com você, Elizabeth Davis - ele agora estava sério, sua mão ainda envolvendo meu pulso - Por mais que eu a ideia seja tentadora, me parecia algo impossível. Eu ainda nem sei porque você está tão empenhada em falar comigo, para ser sincero. Espero que você não ache que eu caí naquela historinha de que você é apaixonada por mim e queria uma tarde legal no paintball.

Não consegui não rir. No fundo, eu sabia que ele não tinha engolido uma palavra do que eu dissera. Mas não importava, desde que eu conseguisse meu encontro. E agora ali estávamos, em seu quarto, e eu nem queria mais o tal encontro.

- Eu gosto de me desafiar - dei de ombros.

- Eu sou um desafio pra você? - Matteo ergueu uma sobrancelha e se inclinou tanto sobre mim que eu tive que me inclinar também para que nossos corpos não se tocassem. Transar com ele não parecia algo tão impossível naquele instante.

- Era - retifiquei -, agora que sei que você é só um garoto normal com muito folclore ao redor, não sei se é tão desafiador assim.

- Ei! - ele fingiu estar ofendido - Nem tudo é mentira! Algumas coisas são verdade. Por exemplo: eu realmente fui preso.

Arregalei os olhos empurrei com as duas mãos sobre o seu peito para que eu pudesse me endireitar. Passei tempo demais com as mãos ali, mesmo depois de ter conseguido que ele se movesse. Retirei vagarosamente.

- Por que você foi preso?

- Bati em uns caras em um bar porque eles estavam sendo extremamente homofóbicos com um funcionário, mas acho que calculei mal a quantidade de socos que deveria dar em um deles para assustá-lo e ele terminou a noite inconsciente em um hospital. - ele disse, como se estivesse falando sobre as compras da semana.

- Então você é tipo um espancador do bem? Se é que isso existe - o provoquei, insinuando-me. Agora era eu quem tinha meu corpo inclinado sobre o dele, mas ele não parecia lidar com aquilo tão bem quanto eu.

Matteo cravou as mãos em meus quadris, e tinha uma expressão urgente no olhar. Eu tive a sensação de que me arrependeria do que estava prestes a acontecer em seguida. 

Felizmente, a batida de Nicola na porta nos tirara do nosso transe antes que fizéssemos qualquer coisa. Ele queria que descêssemos para ajudá-lo com o quebra-cabeças de mi peças que acabara de iniciar. Saí de cima de Matteo, envergonhada, mas grata por Nicola não ter ideia do que estava se passando ali. 

Onde vc tá? Quer ir na Sweet Jesus comigo se entupir de sorvete e ouvir sobre minha nova briga com meus pais?

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Onde vc tá? Quer ir na Sweet Jesus comigo se entupir de sorvete e ouvir sobre minha nova briga com meus pais?

Li a mensagem de texto de Cassie quando já estava na porta dos Caputo e o sol já estava sumindo atrás das nuvens. Eu tivera uma tarde maravilhosa; Nicola finalmente deixara que eu me aproximasse dele e agora me considerava uma amiga. Enquanto tentávamos montar uma parte impossível do quebra-cabeças e Matteo ajudava a Sra. Caputo na cozinha, ele até chegou a dizer que queria que Matteo namorasse comigo. E, pela primeira vez, eu respondi que também queria. Se ele fosse o meu namorado, eu não protestaria mais. E eu sentia que não precisava arquitetar encontros que só existiam em minha memória para compará-lo com alguém que eu nem tinha certeza que era real.

No fim daquela tarde, eu sentia que eu saberia quando encontrasse meu namorado, seja ele Matteo ou não. Não somos todos versões diferentes de nós mesmos? A versão de Matteo que eu conhecera hoje era diferente da de antes. Eu sentia que saberia quem é o meu namorado quando encontrasse a versão dele pela qual me apaixonei, 1 ano atrás.

Mas eu não diria nada disso para Cassie, então apenas a tratei como ela vinha me tratando o tempo todo: omitindo.

Voltando do paintball. Tô mt cansada. Matteo não é o meu namorado. Bjos!

Quando Matteo estacionou o carro na frente do meu prédio, eu não o convidei para subir. Eu queria passar aquele momento sozinha, para entender tudo o que acontecera e o que estava sentindo. Também pela primeira vez. 

Antes de sair do carro, devolvi o selinho no canto da boca que ele me dera mais cedo.

Quando eu já estava prestes a cair no sono, deitada na cama, uma mensagem:

Você deixou seu cheiro na minha cama. Vai ser especialmente difícil convencer minha mãe de que você não é minha  namorada.

Não pude conter a risada. Joguei o celular no canto da cama, sem responder. Mas com um sorriso bobo no rosto.

Procura-se Meu Namorado [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora