XXXI. A história de nós três

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Elizabeth e Tobias conheciam-se desde a infância. Sempre haviam estudado na mesma escola, e em algumas vezes até tinham dividido a mesma sala. Nunca trocaram mais do que algumas palavras, no entanto, até a garota decidir que se tornaria atriz depois de assistir Cantando na Chuva e resolver que entraria no clube de teatro. Tobias respirava teatro desde os 10 anos de idade, quando interpretou o pequeno príncipe em uma peça da escola, da qual a mãe de Elizabeth nunca soube da existência porque a garota sabia que seria obrigada a participar se tocasse neste assunto em casa. Naquela noite, o quarto de Elizabeth recebia a primeira de muitas festas do pijama em que Cassandra seria a única convidada, enquanto Tobias descobria nos palcos o que viria a ser a sua verdadeira paixão.

No primeiro dia de Elizabeth no clube de teatro, Tobias mal a notou. Ele estava muito ocupado caindo de amores por Henriette, que por sua vez mal o notava. Ele e Elizabeth tiveram a primeira conversa no seu quarto dia no clube de teatro. Tobias estava lendo O Capote, e ela achou o título engraçado, então decidiu perguntar despretensiosamente sobre o que o livro falava. O garoto respondeu com o começo, meio e fim da história. Elizabeth fez alguma piada relacionada ao fato de ele ter contado o final, e Tobias respondeu que era uma regra bem conhecida que, se já passaram-se mais de 10 anos, é completamente aceitável revelar o final de qualquer obra. Ela discordou, é claro, e eles engataram em uma discussão sem sentido que durou quase 10 minutos. No fim, chegaram a um meio termo.

O primeiro beijo de Elizabeth e Tobias aconteceu embaixo da arquibancada. Eles não sabiam o que estava acontecendo, por que de repente passaram a trocar mensagens de madrugada até um deles dormir sobre o celular, por que tinham tanta dificuldade em formular as frases mais simples quando estavam perto um do outro ou por que sentiam como se estivessem prestes a sofrer um infarto quando o outro aparecia na porta do anfiteatro. Era a primeira vez que estavam apaixonados, e queriam manter aquilo em segredo por medo de que qualquer interferência externa destruísse a bolha cor de rosa com cheiro de lavanda em que haviam se encarcerado por vontade própria. Nem Emma Barret sabia. Naquele dia, o treinador Stewart havia liberado a sala mais cedo, e estava com muita pressa para encontrar Stella no estacionamento dali a 5 minutos, então nem se preocupou em expulsar os alunos da quadra. Elizabeth e Tobias, que não haviam parado de se encarar por nenhum segundo durante toda a aula, fizeram um acordo telepático de ficar por ali por um tempinho extra. De preferência embaixo da arquibancada. E Tobias girou-a no ar ali mesmo, no campo de futebol, assim que a última pessoa deixou o local.

Um mês depois, já cansados de se encontrar às escondidas e cada vez menos criativos na procura de novos esconderijos, Elizabeth e Tobias assumiram o relacionamento para toda a St. Margaret. Quando se despediram na frente do armário dela com um beijo discreto porém apaixonado, todos os olhos viraram-se para o mais novo casal do colégio. E aquela novidade era tão interessante que ofuscou a briga que Matteo e Christofer tiveram mais cedo na cantina por conta de um mal entendido que nunca seria esclarecido.

Cassie conheceu Tobias naquele mesmo dia. Eles já se conheciam, é claro, como todos naquele colégio, mas aquele foi o primeiro dia em que trocaram mais do que três palavras. Durante a aula de história, Cassie não aguentou e perguntou:

- Então é você quem está namorando a minha melhor amiga?

Ela estava furiosa por ter sido a última a saber. Todos estavam fazendo perguntas e ela não sabia como responder nenhuma delas. Porém, como Cassie não conseguia ficar zangada com Elizabeth por mais do que meia hora, no fim dos dias os três saíam juntos para o Prince of Wales e tinham seus pedidos atendidos por Ben Navarro.

Tobias percebeu que tinha muito mais em comum com Cassie do que com Elizabeth quando sua namorada marcou uma reunião no Parma Cafe e chegou 2 horas atrasada. Ele normalmente odiava quando ela fazia isso, mas dessa vez nem percebeu o tempo passar enquanto conversava sobre políticas públicas com Cassandra.

Eles perceberam que havia algo muito errado quando começaram a marcar um ao outro em posts no Instagram e a conversar por mensagem direta no Twitter, fora do grupo que compartilhavam com o terceiro vértice do triângulo. Mas Tobias amava Elizabeth; ele tinha certeza absoluta de que amava. Então por que quando ela dormia mais cedo ele continuava acordado de madrugada para conversar com Cassie?

Nunca houve segundas intenções - não verbalizadas, pelo menos - entre Tobias e Cassie até aquele fatídico dia. O aniversário de Elizabeth estava se aproximando e eles acharam que seria uma boa ideia encontrar-se no Parma para discutir como organizariam a maior festa surpresa já organizada neste mundo. Liz estaria no colégio até mais tarde, porque estava contribuindo com a escrita de uma peça, então não havia risco de serem pegos. Pode ser difícil de acreditar, mas eles não tinham a intenção de que aquele encontro se tornasse a materialização do sentimento platônico que estavam guardando há pelo menos 6 meses; Tobias e Cassie estavam contentes em serem amigos e apenas isso. 

Quando Elizabeth entrou no Parma para comprar um café e tentar manter-se acordada para estudar para a prova de amanhã e acabou vendo Tobias e Cassie aos beijos, no entanto, eles não pareciam tão inocentes assim. Pelo amor da santa, eles não eram tão inocentes assim. Ela correu para casa sem dizer nada, as lágrimas embaçando sua visão.

Elizabeth não aguentava mais sentir aquela dor. Para alguém que nunca tinha passado por qualquer grande sofrimento na vida, aquilo que estava sentindo era insuportável. Seu peito ardia, a cabeça rodava e tinha aquela sensação horrível na barriga de que poderia vomitar a qualquer segundo.

Ela sentou na cama para não desmaiar.

Como não percebera aquilo antes? Como deixara tudo chegar àquele ponto? Elizabeth tinha certeza de que, naquele momento, não havia nada no mundo que ela odiasse mais do que a si mesma. Enfiou o rosto no travesseiro para abafar o som desesperador do seu choro, sem se importar com a maquiagem que descia por seu rosto como água e que agora manchava sua roupa de cama.

Deus! Como ela queria esquecer o que acontecera momento atrás! Suas memórias eram uma câmara de tortura. Ela revivia cada segundo com tantos detalhes que já nem sabia o que era presente e passado.

Como ela queria esquecer tudo!

Procura-se Meu Namorado [COMPLETA]Onde histórias criam vida. Descubra agora