Capítulo 24

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*****🥀 MENTE e Iras 🖤*****

Antônio Contessoto acabava de chegar na cidade, exclusivamente na construtora. Essa é a minha chance de poder estar frente a frente com o homem que acabou com a minha vida. O pai de uma mulher que acabei me apaixonando. O malfeitor incapaz de amar, que me fez virar um morador de rua e ser jogado de lar em lar.

Não é de hoje que o procurava, que investiguei cada passo e cada detalhe da sua vida insignificante. Depois de, exatamente, vinte e três anos que não nos vemos, hoje, dentro da sua construtora, sentado sobre uma cadeira e diante de uma mesa que ele apanhou, me sento com repulsão, ambicioso para fazê-lo sentir a dor da perda.

Até os meus nove anos de idade realmente vivi no interior de Minas, em um lar humilde e aconchegante, com uma distância de quinze quilômetros da cidade mais próxima. Tínhamos vários alqueires, devido a ganância do meu falecido pai, que juntamente com meu avô compraram muitas terras para a lavoura e eram fortes na produção.

Não me recordo do meu avô, que era viúvo e morava junto com os meus pais. Na época que faleceu eu tinha alguns meses de vida. Deixara toda a herança – casa, terras, veículos – para sua nora e seu filho, pois não havia mais herdeiros.

No sítio o trabalho era árduo e por implicância de minha mãe, eu fui para escola, pois se dependesse do meu pai estaria trabalhando na lavoura, pois ele dizia que o futuro estava naquele lugar. Seria o meu porto seguro para sempre. Mas, o para sempre não foi tão longe assim. Recordo que voltei da escola em um dia normal, no período da tarde, cheguei acelerado na esperança de comer algo, mas fui surpreendido com a minha mãe chorando aos prantos, pois o meu pai havia se acidentado em um dos maquinários do canteiro e veio a óbito instantaneamente.

Desde aquele acidente as nossas vidas mudaram e isso acarretou a raiva que carrego no peito aonde vou até os dias de hoje. Não foi pelo fato de ter que viver sozinho com minha mãe, até conseguiríamos, mas, os funcionários perceberam que sem o patrão a lavoura não iria aguentar muitos meses, pois não confiavam estar nas mãos de uma dona de casa, que poucas vezes colhia algumas verduras nas colheitas mais leves.

Então a vida propôs àquela mulher e ao seu pequeno filho de sete anos que se casasse novamente, com alguém importante na cidade, que pudesse administrar o sítio, a lavoura, a casa e as burocracias de venda e recebimentos de verbas. Memórias não me falham quando via homens de toda estrutura no portão de casa, entregando flores, doces e presentes à minha humilde mãe, que ingênua caiu nos encantos do infame, mais cruel vereador da cidade. Antônio.

Antônio, vereador fanfarrão, mulherengo e alcóolatra, é o homem que destruiu minhas esperanças de ter a minha mãe e meu pai ao meu lado. Ele não só tirou as lembranças, que por mais que elas falhem, ainda existem, mas, aproveitou, tirou minha mãe do meu lado e todos os nossos bens. Os domínios familiares. Por isso, eu não vejo a minha vida sem ter a dor dele diante dos meus olhos.

-O Sr. Contessoto está em sua sala esperando você Jefferson. Ele quer te conhecer.

Lembram da secretária robotizada? Quem diria que fosse ela a privilegiada em me dar essa ótima notícia. Agradeci e comecei a me ajeitar para a ocasião.

Quero ver ele olhar nos meus olhos e não reconhecer o seu enteado. Primeiro, demonstrarei ser o melhor funcionário, me dedicarei ao máximo para ser o seu melhor empregado, só assim estarei dentro da sua casa, da sua família e serei dono da sua vida.

Respirei profundamente, incorporei o melhor empregado, deixei que o passado se distanciasse um pouco e fui até a sala de Antônio como uma pessoa totalmente desconhecida.

- Com licença. - Bati na porta.

- Pode entrar. - Ele permitiu sem me olhar nos olhos, está entretido com alguns papéis sobre a sua mesa. Me posicionei à sua frente, ele parecia estar muito mais velho, às rugas surgiram juntamente com o seu mau-caratismo. - Pode sentar, fique à vontade.

Por mais que eu não quisesse, as más recordações atolaram minha mente e me vi enfurecido, prestes a agir como um animal raivoso que não tem limites e avança com garras, pronto para atacar sem piedade. Quantas vezes ele saiu para beber e não voltava cedo, esquecia de nos trazer os alimentos do mercado e quando chegava era tarde da noite, gritava feito louco, ligava o rádio alto, nos acordava e ai de nós se o interrompesse. Nos torturava.

- Jefferson Lima. - Seus olhos fúnebres encontraram os meus, depois de anos. Com o mesmo olhar desprezível. - Fiquei sabendo que o senhor é nosso novo engenheiro sênior.

- Sim, isso mesmo. - Sorri como se estivesse totalmente feliz por estar diante do dono da empresa.

- Queria te ver pessoalmente e lhe dar os parabéns por fazer parte do nosso quadro de colaboradores. Aqui somos uma empresa que foca nos requisitos da política da qualidade, por isso temos tantos anos de carreira e estando conosco estará no paraíso das melhores construções.

Ou no inferno. Pensei.

- Muito obrigado Sr. Contessoto...

- Me chame de Antônio.

Me interrompeu com a sua arrogância e obviamente vai fazer esse sentimento de hostilidade ficar bem mais complicado do que imagino, pois chamá-lo por Antônio é como invocar o próprio satanás.

- Claro, pode ter certeza que estou muito honrado de trabalhar na A.U. e grato por ser receptivo, me proporcionou até uma sala, veículo, celular... Não tenho palavras para agradecer essa oportunidade de trabalho.

- Que bom que gostou. - Ele inclina seu corpo para a frente, fixando o seu olhar no meu. - Você me parece familiar, é de onde Jefferson?

- Sou de São Paulo mesmo. Capital. - Sorrio.

- Interessante. Bom, eu tenho que ir para algumas obras. - Ele se levanta. - Parabéns pelo seu desempenho nesse tempo todo que estive fora, ouvi muitos elogios e logo conversaremos novamente.

Sua mão repugnante, de alguém que nunca tocou em uma enxada, cavou um buraco, plantou nem sequer um vegetal, estava à minha frente em forma de agradecimento, por trabalhar na empresa que ele conseguiu devido ao dinheiro da minha família, do suor do meu pai, do meu avô.

Apertei o necessário.

Disfarçadamente tranquilo fui até a toalete que fica no corredor assim que saí de sua sala; abri uma das torneiras do lavatório e com as unhas eu esfreguei as mãos com ira, em forma de desfazer daquele toque mal-intencionado. Com elas já vermelhas, o alívio incendiou-me e pude respirar pacificamente.    

*****🥀 MENTE e Iras 🖤*****

Olá Mentes🖤, o que estão achando dessa vingança?  Vocês acham que a Tamara irá descobrir?😡 Jefferson vai continuar com essa vingança?⚡... Muito obrigado por estarem acompanhando o livro até aqui, não deixem de curtir👍🏻 e comentar✍. Até a próxima. 

Mente e IrasOnde histórias criam vida. Descubra agora