Capítulo 20

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*****🥀 MENTE e Iras 🖤*****

Apertei pela terceira vez a campainha da casa de Leonardo. Provavelmente ele deve estar dormindo a esse horário da noite, mas precisava conversar.

- Você ficou louco? - Minha imagem reflete para ele devido a câmera fotográfica embutida na campainha.

- Preciso conversar, abre logo!

Sentados no sofá, frente a frente, iniciei a minha ponderação em forma de palavras atropeladas.

- Ela me encontrou. Me viu com a Tamara!

- Quem?

- Mariana, a Mariana... - Passei a mão no cabelo em sinal de preocupação.

- Você encontrou a sua tia?

- Tia, só se for tia do capeta. Cara, ela me viu justo com a Tamara. - Balancei a cabeça de negação. - A Tamara é quase uma celebridade. Pelo jeito a mulherzinha a conhece e é capaz de ir atrás dela ou me extorquir.

- Então, conte para a Tamara.

- Contar para a Tamara? - Estou exausto e inconformado. - Contar que a minha própria tia me deixou ao Deus dará, pelo mundão e foi viver a sua vida mundana? Que tenho uma tia drogada, mendiga, desorientada?

- Você não acha que a sua mina vai aceitar?

- Se vai aceitar ou não, isso é irrelevante. O que a mulherzinha pode fazer para me prejudicar eu não ligo, mas ela sabendo quem é a mina que estou, ela provavelmente vai fazer de tudo para ganhar algo com isso.

- Sabe onde ela está, sua tia?

- Sim. - Me sentia mais calmo em esbravejar pelas palavras. - O que faço? Justo agora, cara...

Tampo meu rosto com uma mão. Impaciente.

- Conversa com ela, sugere um abrigo, um lugar para ela viver, ter uma vida melhor.

- Você fala isso como se eu já não tivesse aconselhado, que eu não sugeri um lar para ela viver em paz. E, ela aceita? Não! Ela tem casa, mobiliada, vive nas ruas por prazer. Ela tem prazer em desgraçar não só a vida dela. Mas, de todos.

- Mano, vai para casa. Descansa. Iria pedir para ficar aqui, mas só tem o sofá e amanhã você trabalha... Descansa, pensa com calma e veja o que vai resolver. Tenta novamente tirá-la da rua.

Não seria a primeira vez que eu tentaria ajudá-la, mostrar que a vida não é tão injusta a ponto de morar na rua. Mas, de todos os problemas e empecilhos, Mariana seria a última que pensei que iria aparecer.

Parecia tudo planejado, como se eu fosse obrigado a encontrar ela novamente. Na manhã seguinte fui designado a resolver uma burocracia na prefeitura e aproveitei o intervalo ocioso e decidi voltar ao mesmo local da noite passada. Alguns pedintes, escondidos pelos becos mendigavam o seu pão. Uns deitados no papelão, outros conversando com o seu cachorro magricela. Retirei uma nota do bolso e ofereci como uma oferta em troca de informação.

Não foi difícil descobrir o local que ela se esconde, nem mesmo abstruso em reconhecer aquele rosto maléfico. As rugas em seu rosto aumentaram drasticamente desde a última vez que nos vimos, o mal odor se sente a metros de distância e, permanecia asquerosa com as suas manias de cutucar o nariz enquanto come algo.

- Dona Mariana!

- Olha que não é o queridinho da titia. - Seu dedo sujo retira do dente resto de algo melecado que come. - Agora lembra de mim, o que devo a honra?

- Você sabe porque estou aqui...

- Pra me oferecer uma grana e sumir da sua vida?

Apoiando na parede e sentindo a luz do sol bater em seu rosto ela se levanta.

- Quero te propor um acordo. Quero te dar um lar...

- Já tenho um lar menino. - Interrompe ela. - Já tenho minha casa, já tenho minha vida maravilhosa.

- Se isso é maravilhoso, então eu vivo no mundo da magia.

- Coloca magia nisso. Acredito que esteja mesmo. Pensa que não sei que você está de namorico com a mocinha da escola de música?

Seus dentes podres e o sorriso maléfico deixaram aquelas palavras saírem com mais hostilidade e terror.

- Acho que você confundiu... - Tentei inverter a situação, deixar uma dúvida na cabeça dela.

- Você me acha boba menino? Eu posso morar na rua, mas tenho um cérebro de um gênio, olhos de águia... - Uma pausa, me olhou bem nos olhos e mais uma vez o seu sorriso maléfico. - Querida Tamara, minha futura nora...

Ri sarcasticamente.

- Nora? Queria saber de onde você tira essas ideias absurdas.

- Ué, mãe é quem cria...

A ira tomou o meu corpo.

- Fazer uma criança roubar, passar fome e depois deixar sozinho no mundo é considerado criação hoje em dia? - Retirei do bolso a carteira. - Só se for no seu mundo. Quanto você quer para sumir?

- Tudo que você tem na carteira.

- Mas assim você quebra minhas pernas.

- Tudo bem, logo você terá mais dinheiro para esbanjar, aí peço para você e a minha futura nora.

- Você não ousa a chegar perto da Tamara! - Aproximei-me dela, queria deixar claro o protesto com o meu dedo apontado para o seu rosto judiado.

- Vai me bater igual ele?

- Nunca serei igual aquele mal caráter. - Entreguei o dinheiro para ela. - Isso é tudo que eu tenho.

Deixei o mal e desci a rua sem olhar para trás.

- Até logo meu chuchuzinho, filhinho da mamãe...

Alguns meses se passaram...

*****🥀 MENTE e Iras 🖤*****

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