Capítulo 23

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*****🥀 MENTE e Iras 🖤*****

Conforme o desenrolar dos dias, a calamidade que presenciei, as dores de cabeça e os grandes afazeres para o grande concerto, decidi cancelar a viagem com Jefferson; não só pelo fato de que ando um pouco chateada por ele ter escondido algumas coisas, por mais que sabemos que não conhecemos uma pessoa completamente, achei injusto ele passar por seus mau bocados sem ao menos eu poder ajudar. Depois de outras três entrevistas para revistas, os contratos assinados, presença confirmada do grande maestro, salão disponível e nossos alunos ensaiando mais que o necessário para o evento, me sentia preparada, não fisicamente, pois me mantive acelerada e dei tão pouca atenção para o cansaço que frequentemente meu corpo pedia arrego.

Como um pedido de repouso, aproveitei que Jefferson iria passar seu final de semana, acompanhado de seu amigo, arrecadando alimentos para o Lar das crianças e pedi que Flávia viesse para casa, me acompanhar nesse momento. Por mais que Jefferson tenha insistido em querer me ajudar, ficar ao meu lado, persisti que ficaria tranquila em casa com minha amiga, pois de tanto trabalho não tivemos tempo suficiente para colocar o papo em dia.

Flávia chegou um pouco antes do almoço ficar pronto, ainda cozinhava ao pé do fogão, com minha roupa de dormir, pantufas no pé, calça moletom, blusa de frio e uma touca na cabeça.

Ela parecia mais animada, o que para mim é uma surpresa, pois ela trabalhou tanto quanto eu. Sua aparência parece estar deslumbrante, com entusiasmo que vêm dela mesmo, por mais que eu achasse que dessa vez parece ser um pouco mais que o normal.

Abriu a janela e a porta da sacada, retirou a taça de vinho de cima da mesa de centro que havia deixado na noite passada, acariciou Mol, arrumou as almofadas de cima do sofá e veio até a cozinha.

- Está animada em Flavinha...

- Ah me poupe dos seus comentários. Você não sabe de nada.

Ela me cutuca com o cotovelo rindo; em seguida abriu a torneira da pia para lavar o pouco de louça que está suja.

- Por isso mesmo, não sei de nada. Aliás, quase nada. Sei que nesse angu tem caroço.

- E que caroço. - Rimos de nossas interpretações individual.

- Conheci um cara.

- Sério? Me conta mais. - Mostrei entusiasmo, até porque ela merecia, depois de tanto tempo juntas e só eu falando de Jefferson, ela precisava sair, conhecer alguém e depois eu escutar as suas aventuras românticas.

- Ele é uma graça, formado em informática, já ganhou vários prêmios, é escritor de romance/ficção.

- Nossa, mas é um homem completo. E, quantos anos?

- Vinte e cinco. - Não fingi o espanto. Pelo currículo do rapaz descrito eu não dava menos que trinta anos. - Sei que você o acha muito novo, sempre fui fã de homens mais maduros, mas dessa vez eu me senti tão bem com ele. Me deu atenção, me levou para jantar semana passada. E, não foi em um restaurante desprovido de riqueza não. Foi no Pop Up 23.

- Não! - Hotel e restaurante maravilhoso, com uma vista espetacular da cidade, ela sabe o quanto sou fã do local e que ficaria eufórica por ela ter experimentado essa experiência.

- Mas, então é isso. Estou gostando.

- Vamos planejar certinho e logo você traz para um jantar aqui casa e, me apresenta. Chamo o Jefferson e fazemos um programa de casal.

- Gostei da ideia. E o seu coração, como está, seu boy?

- Estamos bem. - A poupei dos acontecimentos da semana passada e decidi deixar isso somente entre mim, e Jefferson. - Estou ansiosa para o concerto com Robert Wicken.

- Eu também estou. Feliz pela sua conquista. - Comecei colocar a mesa para que pudéssemos almoçar. - Andei pensando, é um evento tão grande, seu pai Antônio não mandou mensagem perguntando sobre isso? Será que ele não vai aparecer no concerto?

- Chegou informações para mim, que ele está viajando e volta essa semana. Espero que não. Nem ele, nem o Ulisses, que é outro que não deixa de me mandar mensagem. Um arrogante e outro louco.

- Está aí algo que não entendo, por que esse cara, o Ulisses, não leva a vida para frente, esquece o que vocês tiveram?

Sentamo-nos às duas à mesa.

- Talvez tenha prazer em rejeição. Até agora está tudo bem, mas meu receio é que ele descubra o meu caso com Jefferson.

- Você sabe que ele vai descobrir, não sei o que vai ser pior. Jefferson ou Ulisses.

- Com Jefferson eu me resolvo. Então, quanto mais postergar, melhor para nós dois.

Ela concordou com a minha linha de raciocínio, por mais que fosse uma questão de tempo até que tudo desabasse e esse não era o único problema que tirava o meu sono. Enquanto degustava de um almoço rápido, com poucas palavras – da minha parte -, deixei que Flávia continuasse a contar sua experiência romântica. Da mesa o olhar foi para a sacada, diretamente para o horizonte. Presumi que é o momento de deixar os fatos me perturbasse, como se eu me libertasse de um peso enorme nas costas e tivesse um apoio, como uma dupla. Eu tenho a permissão, o conteúdo e a garantia que tudo ocorreria de uma forma bem sucinta e eficaz.

- Flávia... - A interrompi, voltando convicta dos meus pensamentos e ela intacta, na esperança que eu prosseguisse depois de chamá-la tão freneticamente. - Há muito tempo vejo que somos grandes amigas, independente se temos algumas desavenças no trabalho, que isso é normal, você é uma mulher trabalhadora e me mostrou estar sempre à frente... Eu tenho algo para te mostrar...

- Ih, mas a senhorinha está enrolando demais, desembucha logo isso Tamara.

- Só vou contar se você prometer manter em segredo entre eu e você.

- Eu prometo. Juro!

Me levantei e fui para o quarto, na volta eu trouxe comigo, nos braços, uma caixa. Sentei-me no sofá, pedi que Flávia fizesse o mesmo. Confusa, silenciosa e pausadamente ela veio até ao meu lado.

- O que você vai ver hoje é algo que nunca mostrei para ninguém, pois é sigiloso e tenho direito a mostrar somente para uma pessoa. E, decidi que essa pessoa é nada mais e nada menos, você. Eu confio em você!

Apontei o dedo na intenção de ser convicta no que estava falando, como se ela acabasse de aceitar um elo e não tivesse volta. Com a televisão na minha frente, embuti o pen drive, voltei para o sofá e notei que ela parecia estar preparada. Sentada, encostada e com as mãos sobre as pernas, olhando a tevê e a caixa sobre a mesa.

- A caixa depois você leva para sua casa, você irá ler toda a papelada. Agora esse vídeo é a introdução para a sua nova vida. Nossa aliança. Nosso segredo.

Play.

Com a luz do televisor refletindo em seu rosto, Flávia foi desencostando lentamente do sofá, deixando os olhos mais perto das imagens. Em prazo de segundos a sua mão bruscamente tapou a boca, parecia estar perplexa, como se estivesse vendo um defunto se levantar dos mortos.

*****🥀 MENTE e Iras 🖤*****

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