Íris

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Miami, Flórida.

Point Of View's Willowdean Lawson, 'Lottus'

Enfiei a mão dentro do pacote sobre minhas pernas, antes de colocar para dentro os salgadinhos em minha boca, fazendo com que minhas bochechas parecessem de um esquilo comendo nozes. Desviei o olhar da estrada, sentindo minhas pálpebras pesadas pelo fato de não ter dormindo desde que saí da grande Vegas. A resposta para o que aconteceu nas noites anteriores estava nas bolsas debaixo dos meus olhos.

Peguei a latinha de Coca-Cola, balançando e sentindo pouco líquido chacoalhar. Ouço o som de um animal rugindo e de soslaio, olho para baixo percebendo que era a minha barriga roncando.

Ela não estaria roncando se você não se alimentasse como uma criança de 12 anos. Ouço meu subconsciente e murmurei um palavrão.

Foda-se!

Voltei a jogar os salgadinhos de pizza para dentro da boca, vendo que estava quase acabando e eu continuava faminta.

Continuei dirigindo pela interestadual e alguns quilômetros mais tarde, avistei um posto de gasolina. Gritei Aleluia aos ventos e diminui a velocidade, estacionando na frente e desço do meu bebê.

O venenoso Shelby Mustang GT500 1967 preto.

Sem querer me gabar, porém meu carro – potente de quatro rodas –, era o mais lindo que eu já vi. Comprei meses antes de cair na estrada, com cerca de 1.500 dólares que eu juntei trabalhando de garçonete e cinco anos depois, continuo vivendo assim.

De estado em estado. Posso estar um dia em Rhode Island e no outro, tomando suco de limão no Texas. Eu posso caminhar por cada cidade, menos a que costumava ser meu lar. Aquela cidade consistia em passado e eu me recusava a voltar para ele.

Eu deixei o passado onde ele deveria ficar. Para trás.

Desci do automóvel e enchi o tanque de gasolina. Entrei no posto, jogando porcarias dentro da cesta e fui para o caixa.

— Preciso ir ao banheiro. – Anunciei para o menino, que estava distraído desenhando em um papel de cabeça baixa. — Ei! Ei! Eu tô' falando com você.

— Ahn? – Levantou a cabeça e me encarou, suas bochechas ganharam um tom escarlate e eu riria senão estivesse desesperada para ir ao banheiro.

— Banheiro.

— Ah! Claro, claro! Aqui. – Entregou-me as chaves e tirei as notas amassadas de dólares do bolso traseiro da minha calça, jogando na mesa após ele colocar meus alimentos em uma sacola. Acenei com a cabeça antes de sair e ir ao banheiro.

Entrei no banheiro completamente imundo, os zunidos das moscas adentrou meus ouvidos e chaveei a porta. Respirei fundo, lavando meu rosto e minha nuca para espantar o sono. Eu precisava descansar e sabia disso. Contudo, não poderia arriscar que os capangas de William Warren me encontrasse.

Sequei o rosto com toalhas de papel, antes de fazer minhas higienes básicas e lavar minhas mãos.

Vi dois homens altos e fortes, vestidos de preto enchendo o tanque de seu SUV e pareciam estar discutindo. Meu corpo travou, com medo de ser os homens de Warren, porém não reconheci suas feições. No entanto tratei de ir embora logo.

Entreguei as chaves para o menino e entrei no meu carro, jogando as compras no banco passageiro.

Eu sabia que precisava descansar e assim que atravessei Miami Beach, sentindo a maresia bagunçar meus fios rebeldes e o som das ondas se quebrarem chegarem aos meus ouvidos, procurei pelo Motel mais barato que poderia existir. O encontrei, cerca de quase 40km depois, quase caindo aos pedaços e com drogados na frente.

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