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Santa Fé, Novo México.

Point Of View's Willowdean Lawson, 'Lottus'

Acordei com batidas no vidro do meu bebê e levantei rapidamente, acertando minha cabeça no teto do automóvel. Gemi de dor, massageando o local atingido.

Puxei as cortinas improvisadas e observei um homem usando um capacete laranja e com uniforme de construção.

— No puedes dormir aquí, ¡esta es un área privada! ¿No ves? ¡Está escrito allí mismo! – Ele dizia sem parar.

— O que? – A confusão estava evidente, pois o mesmo respirou fundo e começou a falar em Inglês, porém com um sotaque extremamente forte.

— Essa é uma área privada, menina. Não pode dormir aqui e senão sair, terei que chamar a polícia. Olhe ali! Não pode entrar aqui, é privado, é restrito! – Olhei para a direção em que ele apontava, vendo uma grande placa vermelha escrito "Área Proibida".

Oh!

— Sinto muito, e-eu não sabia. Me perdoe!

— Está certo, mas agora saia daqui. Por gentileza! – Assenti, pulando para o banco motorista e abaixei o vidro, o fitando.

— Sabe me dizer onde é o posto de gasolina mais próxima? Preciso encontrar a minha avó que está doente e passei a noite inteira dirigindo, minha gasolina está quase no fim. – Contei a história tão naturalmente que apenas percebi segundos depois o que havia dito.

— Dirija uns dois quilômetros, vá sempre reto. E se precisar descansar, existe uma pousada bem na frente do posto de gasolina. – Concordei, memorizando o que ele disse. — E espero que a sua avó melhore!

— Obrigado, muito obrigado! – Sorri, girando a chave na ignição e dando partida.

Segui suas instruções, encontrando o posto depois de alguns minutos. Eu desci do carro, ouvindo todos os meus ossos estalarem e massageei meu pescoço.

Abastei o suficiente para alguns dias e enchi os galões de gasolina, colocando no porta malas. Entrei no posto, escutando o sininho soar e vi um homem lendo jornal.

Peguei algumas garrafas de água, energéticos, biscoitos ou salgadinhos. A minha alimentação era uma merda e eu ainda não sabia como não havia parado no Hospital, porém eu tinha consciência que em breve algo assim aconteceria. Eu estava há cinco anos na estrada apenas vivendo de comida trash. E não morri.

Ainda.

Antes de ir para o caixa, agarrei uma garrafa de vodca, sorrindo em seguida para o homem que me observava assustado quando larguei todas as baboseiras que eu comia. Eu sentia saudades de comer coisas saudáveis ou uma comida caseira, no entanto era impossível colocar um fogão em meu carro e eu sabia que meu pescoço estava sendo caçado, não poderia me dar o luxo de simplesmente parar e esperar por isso.

— Tenha um bom dia! – Ele disse.

Bom dia? Encarei o relógio de ponteiro em seu estabelecimento notando que ainda era quase dez da manhã.

Foda!

Fechei a porta do carro e vasculhei as sacolas, abrindo em seguida uma lata de energético e bebendo.

Quando as pessoas tinham conhecimento sobre como a minha vida era, a primeira coisa que mudava em sua feição, eram os olhos. De curiosos para pena. Eu não precisava de pena. E depois surgiam perguntas como "E quando está menstruada?" ou "E se estiver doente?". Como eu tomava uma injeção, muito dos meus problemas estavam resolvidos e bom, se eu ficasse doente, me automedicava até que eu estivesse em perfeitas condicões para por o pé na estrada novamente. Eu não tinha amigos para me ajudar, o máximo eram "conhecidos" ou pessoas que me deviam favores. Eu não tinha ninguém. E para muitos isso poderia ser bom, mas depois de cinco anos, se torna... Vazio.

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