New Orleans, Louisiana.
Point Of View's Willowdean Lawson, 'Lottus'
Se eu me concentrasse bem, ainda podia sentir o cheiro de panqueca com calda de chocolate e a risada de minha mãe enquanto meus irmãos tentavam roubar alguns pedaços. Essa era uma visão que eu sempre via antes de chegar em casa da escola.
Mas se eu abrir os olhos, tudo foi apenas uma lembrança. Uma lembrança que ainda sangra.
Suspirei cansada.
Eu estacionei o carro duas quadras de distância daquela casa, a minha antiga casa. Agarrei o pacote pardo com os 15 mil e saí do mesmo, ajeitando meu capuz. Era um bairro pobre, mas muito caloroso. Todos se conheciam e se ajudavam. Todo domingo tinha um churrasco como se fóssemos uma grande família. No entanto, tudo estava silencioso e escuro agora. Era madrugada.
Parei em frente a casa de tom azulado, as flores secas e mortas sem qualquer resquício de mamãe ali. Ela era a alma de casa. E quando ela se foi, não sobrou absolutamente nada. Hoje em dia, apenas garrafas de cerveja jogadas pelos canteiros e o vazio. Eu poderia bater na porta, tomar um café com meu pai e entregar o dinheiro. Mas... Não. Eu era fraca e não conseguiria o encará-lo depois de cinco anos. Ele se destruiu e levou todos consigo, eu queria acreditar que havia sido imune, porém não fui.
Contudo, mamãe no leito de morte havia pedido para cuidar da família e queria continuar cumprindo sua promessa. Mesmo longe.
Respirei fundo.
Bati na porta fortemente, como se pudesse quebrá-la e deixei o dinheiro na frente da porta antes de correr para trás de alguns arbustos.
Uma luz foi acessa.
A porta foi aberta e um homem, acabado, estava ali. Seu rosto pálido demonstrava cansaço, o efeito das bebidas e o tabaco apareciam em seu físico, a respiração ofegante e roupas amassadas, provavelmente usada durante consecutivos dias.
Ele pegou o pacote do chão, abrindo e vi o sorriso preguiçoso surgir em seus lábios. O mesmo fechou a porta com força. Senti meus olhos marejarem.
Faça bom proveito... Pai.
Levantei da grama, apertando o casaco contra meu corpo e corri para longe, entrei em meu carro e dei partida. Saindo o mais rápido que podia da cidade.
— Mamãe? – Toquei em seu ombro calmamente, com medo que ela sentisse dor. Mas nada. — Mamãe? M-Mamãe? Por favor, acorde.
Lágrimas se formavam em meus olhos. Suas pálpebras estavam fechadas e deitei a cabeça em seu peito, tentando escutar o seu coração. Eu sempre fazia isso antes dela dormir. Uma cachoeira escorreu de mim quando não senti qualquer batimento, por mais fraco que fosse.
— N-Não... Mãe? M-Mãe? – A balancei. — Por favor, vamos lá!
A balancei ainda mais forte, implorando para que fosse mais uma de suas brincadeiras. A sua pele negra estava pálida e quando agarrei sua mão, a senti gélida como gelo. Olhei para a máquina que cuidava de seus batimentos, observando que não havia qualquer sinal, apenas uma linha reta e um som que fazia minha cabeça doer.
— Mãe! – A abracei fortemente, minhas lágrimas molhando a sua camisola de Hospital. Ela dizia odiá-las e isso sempre me fazia rir.
— Garotinha, você não pode ficar aqui. Precisa sair.
Murmurei um "Não" para o enfermeiro, agarrando-me ainda mais em minha mãe. Eu não conseguia me afastar, não poderia deixá-la sozinha. Ela não poderia me deixar! Ela prometeu. Prometeu que sempre estaria comigo.

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Loyalty
FanfictionUm erro. Um mísero - não tão mísero assim - erro será capaz de unir duas pessoas com o grande dom de causar estragos. Por muitos anos, Willowdean esteve correndo e percorrendo por entre milhas, indo de estado á estado. Uma mulher sem lar. Ela sabe q...