Runaway

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Toronto, Canada.

Point Of View's Willowdean Lawson, 'Lottus'

Estava sentada em frente a máquinas de lavar, observando minhas roupas virarem tantas vezes que me deixava tonta. Esse era um daqueles dias que as pessoas tiravam grande parte do seu tempo para organizar a sua casa. No meu caso, era meu carro.

Eu havia acordado cedo e o lavei, troquei os pneus e passei uma cera para manter sua tinta.

Beberiquei um gole do meu café e vi algo que chamou a minha atenção. Uma mecânica. Um homem acabara de colocar uma placa improvisada, dizendo: Precisa-se de mêcanico. E isso me fez sorrir. Joguei meu café no lixo e atravessei a rua, entrei na oficina sentindo o cheiro de graxa.

— O que posso fazer para ajudar a mocinha? – Um homem sujo, usando macacão, barrigudo e careca, questionou. Ele parecia ser inofensivo, seus olhos azuis demonstravam cansaço e gentileza.

Algo raro de encontrar.

— Quero ser a nova mecânica da Oficina. Você, presumo que seja o Joe. – Apontei para o letreiro.

— Joey, mas caiu a letra. – Soltei uma risinha sem querer e me desculpei rapidamente. Ele me avaliou com cuidado. — A moça queira me desculpar, mas não acho que você esteja... Ahn... Dentro dos padrões...

Ri com a sua hesitação.

— Vou ser franca, Joey. – Destaquei seu nome. — O fato de eu não ter um pênis não me faz menos qualificada. Me dê algo para fazer e eu vou provar que posso fazer isso tão bem quanto os seus homens.

Seu silênciou durou incontáveis minutos, quando ele assentiu.

— Vamos ver o que sabe fazer. – Tirei minha jaqueta e deixei sobre uma cadeira giratória de couro rasgada. Joey me apresentou um carro que havia chegado dias atrás, um Honda Civic preto. Ele estava em forma, senão fosse pelo fato de estar perdendo a potência.

Bufei ao ver que apenas teria que trocar as peças que foram danificadas pelo combustível adulterado. As velas estavam completamente desgastadas e não havia muito o que fazer senão trocá-las.

Prendi meus cabelos em um coque antes de começar o trabalho. Eu consegui terminar até o final da tarde, como Joey já havia pedido as peças. Ele ficou surpreso pelo meu excelente trabalho e sob seu acordo, ficaria alguns dias em "treinamento" até sua resposta final.

Tudo o que eu sabia, aprendi com o meu pai. Ele havia feito engenharia mecânica, mas mamãe engravidou quando ele estava quase completando a faculdade, e nas horas vagas, trabalhava em uma oficina para ajudar nas despesas. Porém quando Hakeem nasceu e um ano depois, Hero, meu pai desistiu de seu sonho para ficar com mamãe e seus filhos. Ele pretendia voltar um dia, quando eu cheguei ao mundo.

— Menina, aqui. – Joey entregou-me um copo de café descartável. — Está trabalhando desde manhã, precisa repor as energias.

— Obrigado, chefe. – Ele riu com o apelido.

Limpei minhas mãos cheias de graxa e bebi um gole do mocha, minhas costas doiam de ficar debaixo dos carros e apreciei o Sol que estava se pondo entre as nuveus.

Foda!

Aquela, provavelmente, era a coisa mais linda que eu veria em toda a minha vida.

O chefe está furioso, não sei como roubaram aquela grana!

Engasguei com o meu café, deslizando para debaixo de um dos automóveis e ouvi os passos se tornarem mais próximos. Vi a sombra de suas botas pesadas de chumbo e me encolhi ainda mais.

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