Quatorze

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"Ao desatar os nós da tormenta de um mar revolto, jamais esqueça que a calmaria vem logo após a grandes tempestades"-Randerson Figueiredo.

Aos poucos os raios de luz vão adentrando meus olhos,me fazendo fechá-los com força e me contorcer na cama fofa.

-Docinho?Abra os olhos.-A voz da mamãe chega até mim juntamente com suas mãos quentes no meu rosto.

Relaxo o corpo e a face abrindo os olhos para encarar o teto branco do meu quarto no internato.Devagar,eles passeiam pelo cômodo encontrando a Lala roendo as unhas e com o rosto vermelho,os gêmeos com expressões sombrias,a Liz observando a todo momento a namorada,o Luih segurando a minha mão esquerda visivelmente preocupado,a mamãe encarando-me de cima os olhos brilhantes por lágrimas,e o Chaz no canto do quarto de braços cruzados,meu pulso me incomoda levemente revelando a agitação dele.

-O que houve?-Pergunto apoiando o corpo nos cotovelos.

-Você desmaiou depois que contei o motivo das suas sombras.-Luih pisca mais que o normal olhando-me atentamente.

-Como isso é possível?-Questiono num fio de voz relembrando as palavras dele.

-Eles estão no Nada.-Mamãe responde fazendo-me virar o rosto para ela.-Presos em sua memória,culpa e tormenta.

-Eles querem paz,Lavine,e só você pode libertá-los.-Luih diz.

-Eu não entendo.-Murmuro sentando na cama e puxando o cobertor até o queixo.

-Adriel e Turvelos morreram para por fim a oitocentos anos de guerra tanto entre irmãos como entre povos,o que eles mais almejavam era a redenção,mas ao que parece sua ligação com eles não se partiu,ainda há sentimento de culpa,você não aceita que eles estejam mortos.-Mamãe acaricia meu rosto olhando-me carinhosamente.-O Eric que também foi alguém importante para você,permanece preso em suas memórias e sentimentos.O fato de você não aceitar a morte deles,de sentir culpa pela morte deles,ainda ter o que perdoar fez com que as almas dos três ficassem presas no Nada,atormentadas não pelos próprios erros,mas por você que não os deixa ir.Lavine,meu doce, sei que é difícil deixar partir,mas eles precisam de descanso,tem que deixá-los encontrar seus caminhos.

-Eu não queria prendê-los a mim, eu juro.-Sinto a primeira lágrima cair.

-Eu sei que não,meu docinho.-Mamãe se aproxima mais de mim,se ajeitando na cama para que meu rosto encoste eu seu ombro.-Ninguém aqui está culpando você.É difícil perder alguém,é difícil deixar tudo para trás quando sente que ainda há pendências,quando não se queria isso,infelizmente são coisas da vida e os meros mortais não podem fazer o que você irá fazer: vê-los uma última vez e acertar as contas.

-Como é?-Levanto o rosto surpresa.

-Procurei em livros antigos e nos meus próprios conhecimentos.-Mamãe começa.-Há um jeito de entrar em contato com as almas presas no Nada.

-Detalhes,mãe.-Peço.

-As sombras estão te perseguindo para entrar em contato,buscar paz,elas estão presas ao Nada por suas ligações o que significa que assim que vocês entrarem em contato podem por fim a qualquer questão pendente e assim libertar as almas fazendo com que elas sigam seu caminho.-Mamãe começa,mas eu a interrompo.

-Só haverá contato porquê eles estão presos a mim?-Pergunto.

-Sim.-Ela concorda.-Se não houvesse sombras no seu encalço,eles poderiam estar no Reino Celestial desfrutando do paraíso.

-Como alguém não pode me culpar?Claro que eu tenho culpa!Eles poderiam estar bem,mas estão presos porquê não sou emocionalmente forte e não sei lidar com droga nenhuma.-Grito jogando os lençóis para o lado e levantando da cama.-Eu sou culpada por eles terem perdido a vida e por estarem em uma tormenta por três meses!

Imperatriz em AscençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora