Vinte

892 101 17
                                    

“É fácil para quem está no porto, excitar e aconselhar a quem se acha em plena tormenta!”
(Prometeu Acorrentado)-Ésquilo

A respiração dele sobe e desce tranquilamente,os cabelos cobrem a testa e a boca está entreaberta.O quarto está escuro, só vejo o corpo do Luih por causa da luz do poste entrando pela janela aberta.Vê-lo dormir é minha despedida momentânea.

     Mamãe falou que minha febre, sensação de sufoco,olhos negros e nenhum controle de magia negra são indícios de uma transformação e agora vou ter uma estadia no inferno,sem previsão de voltar a minha vida normal e para perto dos meus amigos.Ela não quer correr o risco de eu machucá-los sabendo o quão arrependida eu ficaria nem de que eles vejam a minha instabilidade.

     Tiro o celular do bolso e digito uma mensagem no grupo de amigos,eu peço muitas desculpas e que preciso de tempo para me controlar,quando estiver estável contarei tudo o que aconteceu.

     Quando o corpo do Luih se mexe,eu levito até o chão e saio andando para perto da mamãe.

-Vai ver que é a melhor escolha.-Ela acaricia meu rosto,que ainda está sujo.

-Você realmente se importa comigo,mãe?Você me ama?-Questiono apertando sua mão.

-Docinho,como você pode duvidar?-Ela me olha magoada.-Eu amo e me importo com você, seu ser é tudo de bom e valioso que tenho.Não dê ouvidos ao Chaz.

     Aceno com a cabeça e ela me puxa para mais perto, envolvendo seus braços ao meu redor.

-Eu nunca fui uma mãe ruim para você.-Ela diz.-Te ensinei a como ser boa e gentil,educada e respeitadora mesmo não sendo da minha natureza.Eu fiz um esforço enorme para que você tivesse uma vida normal,deixei que lidasse com os próprios problemas,escolhesse os próprios atos,se descobrisse por conta própria.

-Vamos logo para casa.-Me separo dela fungando.-Estou fraca e quero saber como exatamente isso aconteceu e o que será de mim daqui para frente.

-Casa?-Mamãe arqueia as sobrancelhas.-Não acho que aquele lugar seja apropriado para você chamar de casa.

-E do que devo chama-lo?Uma parte minha pertence aquele lugar,você nasceu lá,é a rainha de um lado,meu sangue tem traços que me ligam para lá.Nós duas querendo ou não sabemos que o inferno é nossa casa.-Rebato.

-Vamos logo para casa.-Mamãe ri incrédula.

     As sombras nos engolem pelo portal,e a primeira coisa que constato é o cheiro forte de fogo, depois de terra molhada me causando uma maior dificuldade em respirar.

-Amanhã quando a luz nascer você conhecerá meus domínios e se surpreenderá com a perversidade do lugar porquê farei questão de que conheça minimamente seu lar.-Mamãe me olha com escárnio.Já estou me arrependendo de tudo.

     Sou guiada para um quarto.A porta de ferro tem uma coroa de rubis encrustada na porta,o cômodo é espaçoso,com duas portas,cama de casal,armários, mesas.

-Eu tive que reformar o quarto para ficar um pouco próximo do seu gosto.-Mamãe adentra comigo.-Mas não há como mudar as paredes de pedras.

     Os móveis tem uma pegada rústica,os lençóis brancos,uma penteadeira com um espelho redondo,prateleiras com livros modernos.

-Esse é o closet.-Mamãe aponta para uma das portas.-Aquela outra porta é o banheiro.Tudo aqui é meio antigo,nunca pensei muito na possibilidade de te trazer para cá.

-Antigo como você,Roberta.-A voz do Chaz me faz enrijecer.Ele entra hesitante no cômodo,se postando ao lado da minha mãe.

-Não é tão jovem quanto seu rosto aparenta,Chaz.-Mamãe debocha.-Docinho,se sente a mesa.

Imperatriz em AscençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora