Doze

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"Amor e desejo são coisas diferentes. Nem tudo o que se ama se deseja e nem tudo o que se deseja se ama."-Miguel de Cervantes

As paredes mofadas do Palácio fazem meu nariz coçar e o ar ficar abafado,mas meus dedos deslizavam pelas paredes e portas,sentindo a textura do seco e do molhado,do ainda pintado e do descascado.Quase todos os cômodos superiores estão arruinados e eu ando entre os escombros tentando reviver memórias e imaginar coisas e cores novas.

Passei pela sala do trono,agora com as janelas de vidro quebradas,os cacos caídos pelo chão.Abri a porta da biblioteca, centenas de anos escondidos entre os livros expostos nas prateleiras,uns caídos e espalhados,planilhas e contratos,histórias de diversos pontos de vista momentaneamente perdidos e eternamente gravados para outras gerações.

Deslizo os dedos pela mesa empoeirada e apoio minhas mãos nela encarando o quadro quebrado com uma foto da Adne e das filhas,Felipa e Sumara. Sinto uma leve mudança do ar,a porta bater suavemente e meu pulso latejar.

-Chaz Wright.-Anuncio ainda de costas para ele.-Quanto tempo.

-Sabe como é,eu tinha pescoços para morder e quebrar.-Sua voz fria chega até mim.

-Minha única certeza de que estava vivo era a nossa ligação, suas ondas de prazer e raiva chegavam até mim de forma demasiada.-Me viro a procura dos seus olhos vermelhos frios.

-Essa é a minha forma de sobreviver,de diversão.-Ele caminha pela sala sem me olhar.-Como você está?

-Estou relativamente bem,digo que estou sobrevivendo a toda a tempestade.-Respondo seguindo-o com os olhos.-E você,Chaz?Como está?

-Estou bem,levando a vida como sempre.-Ele responde.

Sua postura está rígida,seu rosto sério e sua voz mais fria do que nunca.Ele não me chamou de sangue doce ou sequer olhou para mim,o que me faz questionar o que aconteceu com o vampiro.

-Tem certeza que está bem?-Franzo a testa.

-Foi o que eu disse,não foi?-Ele ergue os olhos vermelhos claros para mim por um segundo e desvia para a próxima prateleira.

-Se arrepende de ter aceitado o acordo?-Questiono agarrando à beirada da mesa.-Você entrou na guerra e perdeu pessoas,só ficou por perto nas duas primeiras semanas e depois sumiu.

-Eu cedi meu espaço para vocês treinarem.-Chaz rebate.

-Através da mamãe que recebemos a notícia.Você não deu as caras,pensei que fosse te ver nos treinos.-Digo relembrando das vezes que perguntei pelo vampiro a mamãe.

-Sentiu a minha falta,Lavine? Que meigo.-Sua voz sai macia e eu Franzo a testa por ele ter me chamado pelo meu nome.

-Há algo de errado com você.-Declaro.

-Não há nada de errado comigo.-Ele rebate.

-Você está estranho.-Insisto.

-Eu sou um vampiro,é normal que eu seja estranho.-Ele pega um livro e o folheia.

-Não,não é por você ser vampiro.-Nego com a cabeça.-Você está distante,um pouco mais frio,não fez piadas ou insinuações,me chamou pelo nome.

-Eu não entendo você.-Seus olhos se erguem na minha direção,o livro é jogado para trás e em um piscar de olhos ele está na minha frente,o vermelho ardendo.-Está mesmo reclamando que estou distante e frio?

-Só acho que tem algo de errado com você.-Repito encarando-o.

-E eu acho que tem algo de errado com você.-Ele rebate.

Imperatriz em AscençãoOnde histórias criam vida. Descubra agora