Capítulo 6

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" Ando louco e desesperado em busca do seu amor.

Não me deixe nesta solidão, eu te peço.

Se você me chama, te juro que vamos dançar. "

Subeme la radio – Enrique Inglesias.


Quando a Catarina ficou sabendo que eu ia ensaiar a peça na casa do Caio ela só faltou cuspir o suco de laranja na minha cara naquela tarde enquanto a gente comia um lanche no Mc donalds depois de darmos uma volta no shopping, e eu claro tinha passado na saraiva por que eu sou assim, mesmo que não tenha um centavo furado se eu for ao shopping preciso passar na livraria, é um hábito que nunca vou conseguir largar, é mais forte que eu, quando me dou conta já estou lá conferindo os lançamentos, sentindo aquele cheiro delicioso e único de livro novo e feliz da vida igual criança em parque de diversão.

- Agora eu senti firmeza, hein? Acho que vai rolar alguma coisa entre vocês ali, não é possível que vão continuar por mais tempo essa TPF!

- Me explica o que é essa sigla que você acabou de inventar.

- TPF para os adultos é outra coisa, e como você é inocente demais eu prefiro não entrar em detalhes... mas no nosso caso como ainda somos pirralhas como a minha irmã diz, então entenda como tensão pré ficada, ok?

- Como assim tensão pré ficada? Existe isso?

- Ah, claro que sim, criatura. TPF é quando existe um clima entre um cara e uma mina, só que eles ainda não conseguem desenrolar isso e beijar de uma vez. É a tal da química que a gente sente perto de quem gostamos, uma eletricidade meio louca que percorre o nosso corpo, mas nunca conseguimos ir além daquilo. - respondeu ela enquanto molhava sua batata frita no ketchup e se deliciava com aquilo.

- Certo, acho que entendi o lance da sigla, mas se o que a sua irmã quer dizer for o que eu estou pensando, então sei o que é, apesar de não ter feito ainda. Ei, você já fez?

- É claro que sim, não tem muito tempo que deixei de ser virgem, mas para minha irmã ainda não sou tão madura quanto ela que já está terminando a faculdade. - ela cochichou para não escandalizar as pessoas ao redor.

Por essa não esperava, sabe quando alguém solta uma bomba e larga na sua mão? Eu me senti exatamente assim com a revelação da minha amiga.

Nós duas temos quase a mesma idade, ela só é mais velha que eu alguns meses, ainda completarei quinze, enquanto que ela está próxima dos dezesseis e já não é mais virgem, será que a mãe dela é tão moderna assim ou nem imagina o que ela fez?
Estou achando que ela nem contou para a dona Alzira se não já teria reclamado de um grande castigo, e de a mãe quase arrancar suas orelhas fora de tanto puxar com força.

- E você já fez isso com o garoto que está ficando? - terminei de comer o meu Big Tasty e me senti saciada por que se tem alguém que fica de mau humor sou eu com fome, preciso alimentar o dragão no meu estômago ou eu é que me transformo em um.

- A gente só deu uns amassos por aí, eu ainda não me sinto segura para dar esse passo com ele, sabe? Está muito recente ainda, e eu quero ter certeza que o Noah é um cara legal e que realmente gosta de mim,e não quer apenas se divertir comigo, entende?
Eu tenho essa cara de maluquinha, mas também tenho sentimentos e já sofri com meu ex-namorado, por isso deixei de acreditar em relacionamentos sérios, preferi só o carpe diem sem me entregar ou me prender a ninguém.

- Eu sei que foi uma barra o que você passou com o Léo, foi um saco e eu lamento não saber lutar artes marciais para fazer picadinho dele por quebrar seu coração, amiga. - Cat sorriu com a minha resposta.

- Ele merecia um chute no meio das bolas pela cachorrada que fez comigo, por ter me enganado, me iludido e estar com outra garota ao mesmo tempo é pra ganhar o óscar de canalhice, mas tudo bem, quem é que nunca teve um embuste na vida que atire a primeira pedra, não é?

- É isso aí! A vida segue, a catraca gira e amanhã é outro dia, gatona.

- Olha! Dona Estela tá filosofando hoje, quem diria?

- O papo tá ótimo e nosso passeio também foi maravilhoso, eu adoro te acompanhar em rolés, mas vou ter que voltar para casa para estudar por que fiquei de passar na casa do Caio depois da aula para começarmos a ensaiar e eu não quero fazer feio na frente dele.

- Eu tenho certeza que tudo vai dar certo. Minha intuição não falha, amiga. Eu disse que devia procurar ele para te ajudar, e acertei em cheio nisso.

- Você e as suas superstições. - revirei os olhos e ela riu.

- Vai lá estudar então que eu vou chamar meu uber para me levar embora, já está ficando tarde e não quero chegar depois das nove da noite. Não vejo a hora de ser que nem a minha irmã, poder chegar na hora que me der na telha, dormir fora com o namorado e toda a liberdade que ela tem e eu morro de inveja.

- Não esquece que ser adulto inclui ter um emprego para pagar as merdas das contas e dos boletos todo mês, não vai gastar seu salário todo em comprinhas, do contrário vai se lascar depois.

- Ah, eu tinha esquecido esse combo terrível, pensando bem dá pra aturar mais um tempinho até os dezoito. Aí vou poder ir para a balada com a minha irmã, e vou te arrastar junto.

- Vai me levar para o mal caminho, sua danada.

- Você tem que curtir mais a vida, estudar é importante, mas socializar também. Se não for eu para te tirar da caverna do teu quarto é capaz de hibernar ali igual os ursos.

- Onde eu fui amarrar meu jegue, meu pai do céu? Isso que dá dar liberdade demais para uma amiga... Bom, já vou indo. Tchau!

Nós nos despedimos com um beijo e um abraço, e ela chamou o uber dela pelo celular e eu fui para o ponto de ônibus do shopping Tamboré, um dos mais famosos em Alphaville, o polo industrial que mais parece uma cidade onde moram os ricaços, e muitos famosos como Rodrigo Faro.


Minha amiga mora no jardim Califórnia, um dos bairros mais distantes do município de Barueri, e eu moro Belval, que fica bem pertinho do centro da cidade.

Barueri está entre as cidades mais desenvolvidas em São Paulo, sempre se classificou bem no ranking da educação por causa das escolas técnicas como a que eu estudo, bem como os hospitais e todos os programas sociais que ela desenvolve através do espaço mulher, ou das secretarias que atuam em diversos departamentos como assistência social ou nas necessidades das pessoas com deficiência, por exemplo.

Eu tenho um orgulho enorme de morar nessa cidade por que conheço toda a história dela, temos até o Museu Municipal em que se pode entrar em um dos bondinhos do século passado ou encontrar os artefatos de tribos indígenas que viveram ali na época dos jesuítas.

Gosto muito de passear nos parques ecológicos que temos quando tenho tempo livre, me sinto mais conectada com a natureza, e é nela que eu recarrego as minhas baterias.

Me lembro de um dia que minha mãe me convenceu a ir com ela para o parque municipal por que ela queria fazer uma aula experimental de zumba que era gratuita ali no espaço de eventos do parque.

A contragosto eu a acompanhei e sem mais nem menos me vi dançando e seguindo os passos da coreografia do professor Alejandro, um homem alto, forte, e levemente bronzeado que tinha um corpo que fazia a mulherada babar. Desconfiei logo de início que elas não estavam ali só pela dança, mas para tirar uma casquinha do professor que era muito gato e tinha uma voz grave de fazer a gente se apaixonar imediatamente.

Ele dançava ao som de Sube me la radio de Enrique Iglesias, um cantor latino que virou sucesso mundial e que hoje em dia tem apostado no som do momento: o reggaeton.

A batida da música era viciante, os passos eram simples, mas trabalhavam as coxas, panturrilhas, e o abdômen, você terminava de dançar exausto, mas bem alegre por que a aula dele era muito divertida.

Minha mãe adorou soltar as frangas ali e rebolar até umas horas, e decidiu que sempre que pudesse viria participar da zumba.

Eu estava bem cansada e quase cochilando no ônibus, mas me sentia agradecida por minha amiga ter marcado um cinema de última hora só para me ajudar a relaxar um pouco mais.
Eu nem poderia ficar até tarde acordada por que tinha aula cedo, levantava um pouco depois da minha mãe para tomar banho, tomar café, me arrumar e pegar o busão para o colégio, tinha que entrar as sete horas, do contrário só entraria na segunda aula, e eu não queria chegar na sala e ser o centro das atenções, se o quisesse eu usava uma melancia no pescoço ou fazia a dança do peru como naquele programa Encrenca que a minha gosta de assistir aos domingos por que só tem palhaçada e pegadinha com as pessoas.

Cheguei em casa por volta de umas nove horas e minha mãe já estava indo dormir. Ela falou comigo rapidamente e depois foi para seu quarto.


Decidi comer um pedaço do bolo de fubá cremoso que ela tinha feito e tomar um copo de leite antes de dormir.
Depois treinaria minhas falas mais algumas vezes e dormiria para não perder o horário outra vez.
Só de pensar no tanto de matéria que eu tinha que copiar da Cat por ter faltado já me dava um desespero danado, ter sete aulas em um dia não é moleza, mas sabia que estudar naquela escola técnica abriria as portas para o meu futuro profissional e por mais puxado que fosse eu aguentaria o tranco como disse minha mãe por que sou dedicada e focada no que eu quero para mim.


As coisas que eu odeio amar em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora