"E a vida é assim, você
Você cai e você rasteja
Você quebra e você pega o que pode
E você aprende com isso".
Complicated- Avril Lavigne
Há algumas semanas eu pedi um tempo ao Caio para que ele tomasse uma atitude, se arrependesse dos erros que cometeu se realmente me amava como ele dizia, mas nada me tirava da cabeça o jeito saidinho com que ele falava com as meninas nas conversas em que peguei no seu celular. Vê-lo no colégio e ter que ignorar que ele existia estava sendo quase impossível, meu coração sangrava, meus braços queriam abraçá-lo, meus lábios queriam os seus enroscados, meu corpo sentia falta do dele, mas eu tinha que me valorizar em primeiro lugar. Que namorado era esse que me trataria como uma mera colega quando havia algo a mais entre a gente e não iria impor respeito as outras meninas atrevidas?
Eu podia estar sofrendo, mas não ia demonstrar, isso é a força da mulher, a gente sempre esconde a tristeza e as lágrimas por trás de um sorriso e uma boa maquiagem.
Naquela tarde eu estava deprimida no meu quarto ouvindo Avril Lavigne, e aquela música combinava bem com a minha fossa quando de repente algo chamou a minha atenção. Na página da escola no facebook havia um meme e ele também estava no what'sapp, e quando avaliei a imagem mais a fundo descobri que quem estava ali era eu. O meme cobria o rosto do Caio, mas não o meu, e claramente me acusava de ser santinha do pau oco, menção ao ditado antigo.
Aquilo só podia ser vingança do Caio por ter dado o ultimato nele, e eu já devia saber que como um dos caras mais populares da escola até parece que ele ia assumir algo sério com alguém, que tola que eu fui!
A minha reputação estava acabada por causa de uma foto idiota que eu mesmo sonolenta ainda implorei que ele jamais mostrasse a alguém.
Os comentários me zoando foram tão fortes que só conseguia chorar em desespero, minha vida estava acabada. Meu mal foi amar demais.
Não consegui comer nada o dia todo e no dia seguinte inventei para minha mãe que estava com muita cólica para não ir ao colégio. Cat me encheu o saco por mensagens, ela deve ter enviado umas cinquenta no what's app, mas não respondi, a última coisa que queria ser lembrada era daquilo.
Tive febre naquela noite e minha mãe ficou cuidando de mim, ela sentia que algo estava errado, mas respeitava que eu não quisesse lhe dizer nada.
Coração de mãe nunca se engana.
Depois que eu melhorei criei coragem para ir para a escola apesar de tudo por que devia entregar uns trabalhos e atividades ou me prejudicaria. Mas foi um verdadeiro inferno estar no colégio naquela manhã. Sentia os olhares sobre mim, as risadas, as piadinhas, e o pior de tudo foi o recado do lado de dentro da última porta do banheiro feminino. Foram muitos xingamentos que doeram na minha alma.
Então depois disso imaginei que nada mais me restava, para que continuar vivendo um inferno todos os dias? Quanto tempo aquilo iria durar? Eu nunca quis ser o centro das atenções? Na verdade, estava acostumada a ser apenas a nerd e invisível, agora me sentia como a Jamie Sullivan de Amor para recordar que também era assim até participar de uma peça de teatro na escola e usar um vestido que mostrou melhor a sua beleza e feminilidade, o que deixou os homens alvoroçados e os fez fazer cartazes destruindo a reputação dela na escola por maldade.
A diferença é que não tenho um Landon Carter que me defenda nesse momento. Sendo assim não me restava alternativa a não ser fazer algo que jamais pensei ter que recorrer alguma vez na vida.
Evitei falar com qualquer pessoa na escola, quando as aulas acabaram me apressei para ir embora. Pedi um uber até a minha casa e tratei de colocar o plano em ação.
Chorei durante o trajeto e o motorista do uber não me fez perguntas sobre isso, apenas recebeu o dinheiro quando o paguei e foi embora. Chorei mais ainda ao olhar para a minha casa e pelo que aconteceria.
Desci as escadas apressadamente depois de abrir o portão, e ao entrar em casa procurei guardar na mente cada parte daquele lugar. Depois fui até a escrivaninha do meu quarto e peguei um papel e uma caneta. Nela escrevi uma carta para minha mãe primeiro.
"Mamãe,
Peço perdão pelo que irei fazer, provavelmente quando ler esta carta eu não estarei com você. Não foi culpa sua. Você foi uma ótima mãe, e supriu muito bem as minhas necessidades afetivas, não precisei do meu pai para nada.
Você é uma guerreira e vai conseguir seguir em frente, tenho certeza.
Vai sentir minha falta, mas vai se acostumar. Você é forte. Eu tive o melhor exemplo a ser seguido durante todos esses anos. Minha mãe, minha amiga, minha incentivadora, meu chão, meu porto seguro, meu abrigo, meu lugar de paz, meu tudo.
Se cuide um pouco mais, se divirta mais, a vida não é só trabalhar feito maluco, precisamos relaxar de vez em quando.
Se eu fiz o que fiz é por que tive motivos para isso, mais uma vez reintero que nada teve a ver com você. Eu só não vi motivos para continuar depois do que aconteceu.
Eu te amo e sempre a amarei.
Seja feliz como puder.
Com amor,
Estela".
Lágrimas rolaram pela minha face quando deixei a carta sobre a cama de minha mãe. Em seguida escrevi a carta para Cat que foi tão difícil quanto a primeira. Falar da minha melhor amiga e irmã de alma era difícil.
" Cat, minha irmã de coração
Quando encontrar essa carta não estarei mais aqui para ouvir seus longos áudios, nem para te atormentar de vez em quando, ou arremessar travesseiros na sua cara na festa do pijama que sempre fazíamos.
Lamento por isso, sei que sentirá minha falta assim como a mamãe, e peço que prometa que vai cuidar bem dela para mim, não a deixe muito sozinha.
Como minha melhor amiga pode entender a minha dor e desespero com tudo que está acontecendo. Eu estou quebrada, me destruíram. Nada nunca mais será como antes.
Eu sonhava em ir para a faculdade e ser sua colega de quarto em um apartamento quem sabe, te ver pegando o buquê no meu casamento, e ser a madrinha dos seus filhos, foram tantos planos que fizemos, não é?
Me desculpa por quebrar nosso pacto e ir assim, mas peço que mantenha no coração as melhores memórias do que vivemos. Eu te amo.
Sei que você vai se tornar uma grande mulher, e eu tenho orgulho de você.
Seja feliz!
Com amor,
Estela".
A carta para Cat ficou em cima da cama de hóspedes para que ela lesse quando viesse dormir em minha casa naquela noite. Depois de ter escrito as cartas de despedidas, procurei a cartela de remédios que achei dentro do armário na cozinha, tomei todos que haviam ali junto com o vinho que tinha na geladeira e esperei que o efeito da dormência viesse pouco a pouco e eu pudesse morrer logo.
De todos os métodos para o suicídio que pesquisei na internet, a overdose de medicamentos era a menos dolorosa do que enforcamento ou ferimento a bala, ou saltar de um lugar alto. Por isso escolhi ele para dar fim a minha vida.
Aos poucos senti meu corpo amolecer, a respiração foi ficando mais fraca, mais lenta, e meu corpo foi esfriando e mergulhei em uma sensação de leveza que jamais senti antes.
Apaguei acreditando que iria partir dessa para melhor.
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As coisas que eu odeio amar em você
RomanceEstela é uma adolescente prestes a completar os temidos quinze anos, é nerd, ama literatura e não vive sem música, é tímida e extremamente ansiosa, ela tem pânico de se apresentar em público, mas um dia se vê obrigada a participar de uma peça teatr...