Preço a se pagar

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No segundo dia de aula entrei na sala e Marco veio me dizer um oi depois se juntou a seus amigos. Eu ainda não havia feito nenhuma amizade, alguns me ignoravam como se eu nunca estivesse na sala, e outros me olhavam de longe, mas não falavam comigo, às vezes era a timidez. A primeira aula havia começado, literatura clássica, só falava quando o professor me perguntava algo, demorava a responder um pouco, apesar de saber a resposta.

Na última aula antes do intervalo o professor de sociologia nos pediu para fazermos grupos para um jogo, naturalmente eu não entrei para nenhum grupo, já que ninguém viera falar comigo. O professor me chamou e perguntou:

- Você conhece alguém da sala? Ahn, Mei.

- Não senhor - respondi baixo a ele - eu só falei com o Marco até o momento.

- Entendo, qual grupo aceita a Mei nele? Ah! Menos o do Marco e seus amigos.

Não entendi o porque ele dissera isso na hora, mas agora vejo que era para eu fazer amigos sozinha. Um grupo ao fundo levantou a mão e me chamou para me juntar a eles, reparei que o grupo que me olhara era o mesmo que me chamava. Ao chegar no grupo fui apresentada, lá estavam o Juan, a Ana e o Gustavo. Juan tinha cabelos loiros escuros e olhos castanhos, ele liderava o grupo e nos direcionava para o lugar correto. Ana era ruiva, tinha algumas sardas e usava óculos, ela formulava todas as estratégias do jogo. E Gustavo era forte, tinha olhos e cabelos negros, não ajudou muito nas respostas, mas fez de tudo para ajudar o grupo a ganhar.

No fim ganhamos o jogo, com as estratégias de Ana, a liderança de Juan, a força de vontade do Gustavo e as minhas respostas, não foi tão difícil. Ganhamos uma caixa de bombons e fomos para o intervalo, Ana me convidou para andarmos pelos grupos, passando pelo clube de culinária ela olhou para a lista e me perguntou:

- Você já escolheu qual grupo vai entrar? Tente escolher logo antes que as vagas acabem.

- Ainda estou vendo todos, - respondi sorrindo - acho que tenho dois dias ainda, mas logo vou me inscrever em algum.

Nós andamos cerca de vinte minutos entre os grupos, mas eu devia ir a aula de esgrima, me retirei usando qualquer desculpa e fui me preparar para a aula. Coloquei uma roupa mais folgada e um blusão com capuz para cobrir o meu rosto, usei o banheiro dos professores, já que poucos o utilizavam.

Ao entrar na sala de esgrima me sentei em um banco perto da parede, todos que entravam, olhavam para mim, sentavam-se em algum lugar e conversavam entre si. Eu estava quieta olhando para baixo, quando um veterano veio ao meu lado com seus amigos e disse:

- Hey! Novato tire este capuz, agora!

Eu não fiz nada apenas encolhi e resolvi ignorá-lo, talvez, ele saísse ou tivesse falando com outro. Havia tantos na sala, alguns mais estranhos que eu, mas infelizmente ele continuava ao meu lado.

- Oi! Será que não me ouviu? Tire este capuz! Se não tirar, eu vou!

Senti sua mão na minha cabeça e começou a tirar o meu capuz quando alguém o segurou pelo pulso e falou:

- Deixe o novato em paz, ele não está incomodando ninguém, ou está?

Aquela voz me era familiar olhei cuidadosamente para cima para não mostrar meu rosto, o garoto que me ajudou era o Gustavo, ele me perguntou se estava bem, acenei com a cabeça que sim, quando o professor chegou na sala o veterano indignado foi resmungar a ele:

- Professor nós podemos esconder nossos rostos na sua aula?

Ele apontava para mim, então o professor se virou para mim pensou rápido e respondeu:

- Gabe sente-se e para de resmungar, não precisamos ver o rosto dele somente sua habilidade e técnica.

Fiquei feliz pelo pensamento do professor, mas algo me incomodava eu não tinha técnica alguma com a esgrima, mal sabia o nome dos equipamentos e estava lá por ser o mais perto de uma espada que chegaria nesta escola. O professor me olhou e não precisou falar nada eu havia entendido tudo com aquele olhar, foi como se estivesse me perguntando "Você quer continuar com essa loucura?".

Ele nos contou a história da Esgrima, que ela tem sua origem no mínimo a três mil anos atrás. Pinturas gregas e egípcias mostram guerreiros empunhando uma espada, como na esgrima. Também nos mostrou os equipamentos e como usá-los. Nos explicou também sobre a pista, que tem o comprimento de 14 metros e 2 metros de largura.

Na hora da chamada para reconhecer os novos alunos Gabe me olhava pra saber quem eu era, como o professor iria me apresentar, se souberem meu nome eles iram descobrir a verdade. Em minha vez ele apenas me olhou e pulou para o próximo, antes de mim foi dito Marco, mas eu estava tão preocupada que não havia reparado, olhei para o lado e ele estava lá parecia ser novo na aula também. No último a ser chamado Gabe protestou por não dizer meu nome e o professor pensou e disse:

- Não direi o nome dele, este será sua dúvida, terá que reconhecê-lo por seus atos, mas por hora o chamaremos de Mistério.

Eu sabia que isso seria impossível já que ele procuraria um garoto e não uma garota, eu estava salva graças à inteligência do professor. Ao final da aula eu o agradeci, mas ele me disse que não seria de graça a sua ajuda, eu deveria ser um dos melhores de sua aula senão seria exposta para todos. Eu aceitei sem muita escolha, e este seria o meu preço para praticar esgrima.

Depois da escola eu iria comprar os equipamentos de esgrima, nós podíamos usar os equipamentos da escola, mas como eu deveria esconder minha identidade não podia correr o risco de usar um equipamento que não era meu. Sendo possível mostrar meus dois segredos não podia deixar isso de lado.

Caçadora de AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora