O Guia

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– O que foi anjo? - perguntou Marco olhando para trás. Eu não respondi.

– E então anjo, o que foi? Por que está olhando para trás?

– Eu torci meu pé quando virei, então ele doeu um pouco, não vi nada - sorri forçadamente para ele, foi a única desculpa que consegui usar para ele - apenas me concentrei para não cair depois de te beijar.

Ele me ajudou a andar depois disso, não gostava de mentir para ele, mas naquele momento não podia falar para ele que era uma Akuma ou uma Eshy e que tinha um cara que estava me seguindo. Algum tempo depois senti cheiro de sangue perto de onde estavamos, fiquei alerta, mas não pude correr pela mentira que contara. Fiquei esperando algo acontecer, sem nenhuma reação.

Continuamos a andar até ver uma poça de sangue vinda de um beco, mas era sangue de um Akuma, pois o seu cheiro exalava e as pessoas não se importavam. Passei perto da poça para ver se conseguia ver algo lá, talvez o assassino, acompanhada de Marco, que não percebera nada. Me surpreendi quando ele me levantou, olhei para o chão e percebi que eu pisaria em sangue se ele não fizesse isso. Humanos podem ver sangue Akuma espalhado? - pensava comigo, mas ele não disse nada a respeito quando o questionei do ato:

– Por que que você fez isso?

– Só quis te levar para não forçar o pé, se avisasse você não deixaria.

Cheguei a conclusão de que humanos não viam o sangue derramado. Marco sempre atencioso comigo me levou até em casa de colo, como se eu não estivesse o caminho todo dizendo que conseguia andar. Estávamos no estilo de recém casados, só que no caso a noiva estava reclamando e pedindo para descer e andar sozinha.

– Mei precisamos conversar - falou John descontraído vendo televisão - agora que já se distraiu temos assuntos a tratar.

– Claro, por que eu nem fui seguida e nem teve uma morte perto de mim e eu não fiz nada.

– Mais uma morte? - suspirou John - Pensei que a caçada acabaria depois que os FN's desaparecessem e que história é essa de ser seguida?

– Acho que existem mais Foices Negras, pois eu me lembro que no começo do ano eram sete, faltam três, por que os outros quatros... Mas voltando ao guia, que por hora, é mais importante.

– Eu fiz algumas anotações sobre as partes que foram modificados depois que eu traduzi aquele trecho.

– E no que que deu?

– Para mim, Eshy é um termo que se utiliza no geral, como usamos pessoas e humanos. Já Akuma utilizam para um determinado grupo de Eshy.

– O que?

– É simples, tipo raça de cachorro. Todos são cães, mas existem os poodles e labradores.

– Sou um cachorro??? - perguntei indignada, estava confusa - Nada contra, mas uma raça de cachorro?

– É um exemplo, eu dei uma olhada nas lendas para descobrir algo a mais, detalhes que não fariam diferença.

– Como?

– A diferença entre chamar vocês de Akumas ou de Eshy's.

– Que seria? Não para de raciocinar continua falando.

– Se você deixar, como dizia. Os Akumas é a parte que decide perder o sangue, ou seja, aqueles que querem poder. Por isso que o guia não conta a verdade, para ver as reais intenções do seus possuidores.

– No caso os akumas são o dito "mal", eu peguntei só para confirmar.

– Sim Mei, como disse mais cedo, Akuma é demônio em japonês, talvez os primeiros relatos vieram de lá, por isso do nome. Anjos caídos, de asas negras, são demônios em muitas crenças. Assim eles o chamaram de Akumas, seres com asas que litam entre si matando os perdedores. Uma mentira dita muitas vezes se torna uma verdade que pode se propagar por muito tempo, era o que meu avô me dizia, é ele tinha razão.

– Então os Eshy's são todos e Akumas são o lado sanguinário. Chamando todos de Akumas não indica que todos são assassinos? E mais, como o guia não sabe o caminho que nós vamos seguir?

– Sim, na lei todos são inocentes até que se provem o contrário. Como advogado digo que todos são culpados até que se provem que não, antes que seja julgado injustamente. Esta regra deve ser aplicada ai também, melhor julgá-los como sendo sanguinários, do que julgá-los como do bem e dae informações que prejudiquem toda a raça.

– E aquele papo de destino de acordo com a cor das asas?

– Pelo visto era somente para mostrar o passado e não o futuro. Sinto muito Mei, mas seus antepassados derramaram sangue.

– Eu também, mas pior que eles eu não me arrependo. Assim tenho sangue em minhas veias.

– Você fez o que julgou ser certo, mas o guia não prevê o que você vai fazer, mas o que cada ato trás como consequência.

– Então mesmo que eu não soubesse do negócio da culpa a pessoa que mata perderia o sangue porque o inconsciente dela a culpa por isso.

– Sim - respondeu me entregando uma latinha de refrigerante - culpa igual a perda do sangue.

– Entendo, começar a anotar minhas descobertas sobre os Eshy's ou Akumas em um caderno assim tenho controle do que está acontecendo. Falando nisso como que Dan está?

– Ótimo, descubrimos que ele tem 2 anos, esqueci de te dizer duas coisas - ele virou o copo como se tomasse coragem para dizer algo - Primeiro precisamos de alguém para ser tutor legal dele e vai ser você. E terminei meu namoro, estando solteiro novamente, não é legal? Agora não preciso me preocupar com ela mechendo nas minhas coisas e perguntando por que de ter um livro enorme em casa escr...

– Perai você falou o que? - perguntei assustada o interrompendo.

– Terminei o namoro ela me culpou de sofrer o assalto de propósito e furar com ela e começou a fal...

– Não isso, eu vou ser tutora legal do Dan, tipo ter a guarda dele? Por quê?!?!?

– A mamãe não pode adotar mais, motivos dela. Papai não pode também, o Leandro é uma criança e pensamos que você ficaria feliz.

– Eu tenho dezoito anos! Você disse que não sou madura o suficiente para cuidar de alguém.

– Mas a mamãe que vai cuidar, só no papel que você vai ser responsável.

– Ok, vou ser a tutora dele, quais são os papeis que tenho que assinar para adoção?

– Não disse adoção. Disse tutora legal, de um jeito mais prático para as coisas você tecnicamente é mãe dele.

– Eu o que?

– Não sabemos o nome de ninguém que seja parente dele e nem documentos.

– Mas eu vou ser mãe? E as reportagens sobre a morte da família dele?

– Foram descartadas pela família do tal Lucien o outro adolescente do local.

– Eu vou simplesmente aparecer com uma criança no colo e dizer que sou mãe e quero registrá-la?

– Não, eu só estou notificado. Dan já está registrado como seu filho, Dan Ilun filho de Mei Ilun.

– Na minha certidão só tem meu nome, sempre estranhei, mas nunca comentei. Como pode acontecer isso?

– Temos contatos, fique contente pelo Dan, ele terá seu nome como referência, como mãe.

– Eu acabei de terminar a escola e tem uma caçada ocorrendo, como posso ficar feliz por ele? A culpa é minha por ele não ter mais família.

– Mei não diga isso você tentou salvar a família dele, mas infelizmente nem tudo conseguimos.

– E hoje, não fiz nada. Simplesmente sai de perto e fingi que nada acontecia.

– Você não pode proteger a todos.

– Mas este eu podia hoje e não fiz.

Sai da sala e fui para o quarto, apesar de ser sempre durona eu comecei a chorar. Todas as mortes causadas, todas que não impedi, todo o meu passado que eu não conhecia, a verdade sobre quem eu realmente sou e o maldito Adriano que me persegue, mas este problema seria solucionado em pouco tempo. Por hora as lágrimas bastariam.

Caçadora de AsasOnde histórias criam vida. Descubra agora