XV

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Kj Apa

Eu acordei com o corpo dolorido, olho ao redor e reconheço o lugar. Não, não podia ser, eu no podia ter voltado pra cá, então aquilo tudo foi um sonho? Aquele dinheiro, aquelas empresas, Camila... Era tudo um sonho?. Levanto e vejo a comida estragada esparramada pelo chão, a água já infectada, o papelão que durmo já desgastado e o mal cheiro. A porta se abre e vejo quem é, e esse era mais um momento onde eu era espancado.

- Amor...

Ele encostava mais...

- Amor

E aí quando ia me dar o primeiro murro.

- Amor!! - Camila chama, eu desperto, acordo com a respiração acelerada.

- Fala que ele não voltou, por favor, fala. - Digo sentindo as lágrimas molharem o meu rosto.

- Amor, calma, respira fundo. Toma, bebe. - Me sento na cama e Camila me entrega um como d'água. Bebo toda a água me acalmando mais.

- Tá melhor? - balanço a cabeça confirmando.

- Agora me conta, o por que que você estava gritando e pedindo pra que não encostasse em você?. - Ela pergunta com um semblante preocupado.

- Não... Não era nada... Não.... - É o que consigo dizer.

- Não é nada? Amor, você tava gritando pedindo socorro, você acorda e me diz que não é nada. - Ela diz.

- Eu já falei que não é nada porra! - Grito, logo depois percebo o que fiz. Eu jurei não gritar mais com ela. Vejo o seu semblante de assustada e lágrimas brotam nos olhos de Camila.

- Amor... - Tento encostar nela, mas ela logo se afasta e sai do quarto. Mas que merda eu tenho na cabeça. Idiota!

Levanto rapidamente e vou a procura de Camila, a chamo mas ela não responde, entro em todos os cômodos e não a acho. Lembro do último lugar que ela ficou quando nós brigamos. Desço correndo e vou até o quintal, e lá está ela toda encolhida no banco. Quando me vê, se levanta rapidamente pra sair, mas consigo pegar no braço dela e a puxar. Ao ver seu rosto, meu coração quebra.

- O que você quer? Quer gritar comigo de novo? - Ela pergunta com a voz embargada e limpando as lágrimas que caiam.

- Me perdoa por favor, eu não queria ter feito isso. Foi automático. - Digo mas nem na minha cara ela olha, fica de joelhos na sua frente.

- Me perdoa amor... - Digo novamente.

- Levanta. - Ela diz e eu logo levanto, ela me beija carinhosamente.

- Tudo bem, eu te perdoo. Eu estou sendo muito intrometida na sua vida, querendo saber coisas que você não quer me contar. - Ela diz.

- Eu vou te contar o que aconteceu, só... É difícil pra mim, mas eu vou te contar. Vamos subir, lá em cima te conto. - Falo pegando em sua mão, entramos pra dentro de casa e subimos. Ao chegar no quarto, ela se senta na cama e me olha, esperando eu contar. Me sento ao lado dela.

- Eu posso ser um dos empresários mais rico e famoso do mundo, posso ter várias mansões, posso ter tudo. Mas eu nunca contei pra ninguém o que eu sofri quando era mais novo. - Digo e ela me olha atentamente.

- Quando eu tinha uns 12 anos, eu fui sequestrado e levado para um orfanato. Só que lá eles não nos tratavam bem, eu fui uma das crianças que mais sofreu. Eu tenho algumas marcas no meu corpo ainda daquela época, uma delas é o corte que você me perguntou ontem. Eles me trancaram em um quarto e um dos adultos vinha e me espancava, depois de me espancar, me deixavam 2 dias sem comer nada. Quando traziam alguma comida pra mim, era um pão que provavelmente já estava estragado e um copo d'água, essa era minha refeição de quase todo dia. As vezes que eu tentava escapar da casa, eles me batiam com chicote, já me queimaram com água quente e tudo de ruim que pode imaginar... Se passou 8 meses, e aí chegou o dia que eu consegui escapar. Nesse dia eles me cortaram, e aí foi o limite pra mim, eu estava muito fraco mas aí quando eles me deixaram sozinho no quarto, eu consegui fugir pela janela. E aí quando eu fugi, eu passava na frente de bares que passava o anúncio na tv a procura de mim. Quando conseguir chegar em casa, a minha mãe agradecia todo segundo a Deus por ter me levado de volta a ela, contei tudo o que sofri para ela. Tive que ir pra hospital fazer exames e curativos, fiz tratamento psicológico pois fui diagnosticado com depressão e fiquei muito traumatizado com tudo que aconteceu. Eu só queria esquecer tudo que aconteceu naqueles meses, mas eu ainda tenho a marca de tudo. - Digo tudo de vez quando olho pra Camila, a mesma está chorando muito, seu rosto todo vermelho.

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