A loja de conveniência

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Nany não queria falar. Estava chorando encolida no sofá, olhando para a lareira. Nós estávamos ainda em pé, esperando uma resposta dela. Leôncio, o leão, subiu encima do sofá e ficou ao lado da dona.

Como a resposta não vinha, chamei novamente.

- Nany. Eai? Quer ficar livre ou não?

Ela me olhou, com olhos vermelhos.

- O que eu tenho que fazer? - perguntou.

- Nos dar alguma coisa. - disse Bella.

Olhei para ela. Era sério mesmo? Ela viu minha expressão e disse:

- Ela é muito apegada a tudo que é dela, não importa o que seja. Só assim vai ser perdoada. Te dando algo.

- Não! Não vou te dar nada! - disse Nany, pegando uma almofada do sofá e escondendo atrás de si. Pegou outra e abraçou.

Bella se aproximou de Nany. O leão rosnou, mas não atacou. Só atacaria com ordens da dona.

- Olha, Nany. Confesse. Você não está feliz. Eu não estou feliz. Nenhuma de nós está feliz! Quantos anos tivemos que ficar vivas, vendo as pessoas a nossa volta morrerem, tendo que engolir o pecado que nós mesmas cometemos no passado? Essa garota está destinada a nos salvar a anos... A profecia é antiga, lembra? Assim como nós, ela também precisa de ajuda. Quando ela perdoar a última pecadora que sobrar, a mãe dela verá que ainda existe amor. Nyx ria da nossa cara dizendo que nós nunca encontrariamos alguém que nos amasse a ponto de nos perdoar, e seríamos pra sempre amaldiçoadas. Mas essa garota... Já conseguiu perdão para as outras. Todas estão livres, só faltam eu, você, a Harley e aquelas duas chatas. E não viemos até aqui para uma garota mimada como você dizer que não precisa de perdão!

Depois daquele sermão digno de uma mãe, o silêncio reinou por alguns segundos. Nany, por fim, se levantou. Respirou fundo e fechou os olhos. Abriu-os e me olhou.

- Certo. Eu vou... - ela teve um espasmo no olho esquerdo, como se a próxima coisa que iria dizer fosse tão difícil, que usava todos os músculos do seu corpo. - vou... Te... Dar... Uma coisa. Ufa! Não foi fácil dizer isso. Bom, espere aqui.

Ela foi até uma das portas do corredor, com o leão atrás dela. Voltou segurando uma caixinha de música antiga. Ela a abriu, e dentro havia uma bailarina girando, enquanto tocava uma música de piano de Beethoven. 

- É o meu item favorito. Minha avó que me deu quando eu nasci. 

Ela estendeu a mão para me dar o objeto, um pouco vacilante para entregar. Enfim, peguei a caixinha de música e guardei-a comigo.

- Obrigada, Nany. Eu adorei. - disse eu.

Ela franziu a testa, sem acreditar no que acabará de fazer. Mas, depois olhou para mim, e sorriu.

- Me sinto melhor agora... Me sinto aquecida, meu coração está feliz. Obrigada! - ela me abraçou. Afaguei a cabeça dela, já que ela era menor do que eu.

Então, assim que ela se afastou, a mesma névoa que levou as outras, rodopiou pelo corpo de Nany, fazendo-a flutuar. Ela desapareceu, assim como Leôncio. Por um minuto, fiquei aflita pensando se a casa iria desmoronar. Mas não. Estava tudo muito quieto. Provavelmente só acontecia a demolição se a pecadora tentasse fugir.

A Filha de NyxOnde histórias criam vida. Descubra agora