Impactado

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Urias baixou os óculos e Kaique sentiu que conseguia ver através de seus olhos uma alma doce, palpável, crua e nua como o corpo que cobria com doçura.

Estavam mesmo tão próximos e íntimos, depois de todo o rebuliço do último jogo? Urias abandonou a impensada viagem, driblou o verdadeiro time de pessoas que se dispôs a atrapalhar seu retorno e ainda assim chegou a tempo de assistir o último gol da partida? O gol que lhe dedicou ainda sem saber que ele veria ao vivo, não pelas telas celulares incapazes de registrar com decência o momento?

Nas memórias o sabor fresco da declaração que marcou o fim de jogo e o som do apito do árbitro como trilha sonora do primeiro beijo público. A pele ainda arrepiada pela adrenalina ardendo em suas veias graças a coragem de ambos de lutarem por aquele amor e enfim vivê-lo naquele quarto. Só os dois. Sem barreiras, sem limites, sem segredos. Sem mais.

Nem ganhar o campeonato fez Kaique tão feliz quanto ter de novo em seus braços quem mais amava.

×

Bochechas aquecidas e infladas até que a umidade nos olhos se controlasse.

Konohamaru deslizou sutilmente pela cadeira, bloqueou o celular e o usou pra tentar esconder o rosto vermelho. Odiava ler fanfic na escola porque, além do risco de ser flagrado pelos colegas, não podia surtar com Popularity, uma de suas histórias favoritas que por coincidência era escrita por Kaiten.

Era horrível ficar quieto nas horas em que sua vontade era arrancar a camisa e sair correndo seminu enquanto a rodava na mão para comemorar que seu casal enfim tinha ficado junto. Não só isso, eles se beijaram. Em público. No meio de um estádio lotado. Eles se beijaram. Bei-ja-ram. Na frente de uma arquibancada cheia.

PUTA QUE PARIU, ELES SE BEIJARAM.

Encolheu os lábios, agoniado, sacudiu as pernas e quem olhasse poderia notar seus tênis quase arrebentando com as contrações de seus pés. Hanabi chegou a crer que passava mal, enfrentando o dilema de chamar ou não o professor. Já pensava até no que dizer caso perguntassem o porquê estava prestando atenção no colega até que ele se controlou. Ufa!

De tão discreto, nem ela viu quando ele mordeu um dos dedos pra descontar seu ataque de fofura, rabiscando o papel de rascunho com o lápis várias vezes até rasgar. Putz, precisava ir até o único lugar em que seus berros seriam bem-vindos àquela hora: a aba de comentários.

@lilmonkey: ELES SE BEIJARAM NESSE CARALHO, PORRA! - completou com emojis que simbolizassem esse momento glorioso.

Que alívio! Agora sim parecia um adolescente normal mantendo em segredo a paz que aquela cena trazia ao coração. Um fudanshi, termo usado para garotos consumidores de obras boys-love como essa, com ship endgame não queria guerra com ninguém, apenas sorrir bestinha e amolecer ali sentado na paz de Deus.

Já que o suposto mal estar era só esquisitice, Hanabi voltou a desenhar. Quase no fim do curso de desenho, precisava treinar além dos exercícios em aula e não era porque sua motivação maior para aprender era a produção de fanarts de seus ships que não podia retratar o crush. Parecia besta e infantil, mas se Lilmonkey podia usar a escrita pra se imaginar com sua doçura, porque ela não podia se desenhar ao lado do besta mais gostoso do IHS?

Fez o esqueleto chibi mais bagunçado do mundo já morrendo de amores com suas ideias para a arte final: ela sentada à esquerda dele deitando a cabeça nesse mesmo ombro e com o braço estendido até o outro, sorrindo. Fez riscos sutis de lápis sobre o que seriam as bochechas coradas dos dois porque esse detalhe não podia faltar, já presente em seu rosto real. Os suspiros que dava ficariam lindos na forma de corações.

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