Boataria

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Engoliu o choro e a vontade de sumir.

Um dos mais importantes ensinamentos de Naruto e também o único que de fato valeu a pena levar para a vida é que não dava para morrer sendo um garoto covarde que foge de seus problemas.

Depois de ser jogado numa piscina sem saber nadar, trancado em locais escuros e surrado até quase perder a consciência, umas fotos à toa eram brincadeira de criança, mas o bastante para levá-lo ao limite. A famosa gota que transbordava o copo cheio, um gatilho que o fez disparar tudo o que o engasgava nos últimos anos, soterrando seu pacifismo natural.

Ele queria guerra? Conseguiu!

— Foi você, não foi? - exigiu uma confissão rápida para não perder tempo.

Foi a vez de Inari bancar o sonso e terminar seu suco tranquilamente, balançando os ombros para fazê-lo parecer doido.

— Eu o que? Nem desenhar eu sei.

Não colava. Claro que estava puto com Nabinha e seu desenho, mas ela não se daria ao trabalho de distribuí-lo na surdina. Pensaria nas chances de um complô depois, focando seu ódio em uma pessoa de cada vez.

— Você pode até não ter desenhado, mas eu sei que foi você que espalhou na sala. - pontuou com a voz 2 tons acima do normal.

A essa hora, Kono não se importava com reputação e nem nada além do acerto de contas e do que faria nas fuças do desafeto se pudesse, sem nem levantar a hipótese de ser essa a intenção de Inari. Perderia algo? Talvez uns arranhões, mas só o prazer de arrastá-lo para a lama junto já valia.

— E se for? Vai fazer o quê, seu fracassado? - provocou briga e Kono nunca quis tanto meter a porrada em alguém quanto agora.

O clima não podia ser mais propício. Muitos alunos bisbilhotavam e até alguns professores estavam perto. Só precisava incitá-lo até levar um soco e pronto! O outro perderia qualquer razão e o consagraria como vítima, ótimo. O derrubaria de jeito e sem precisar sujar as mãos.

Usar o oponente contra ele era uma tática suja que funcionava que era uma beleza e quase laçou o injustiçado esquentadinho. Antes que cedesse aos impulsos, um anjo impediu a merda. Hanabi era forte o suficiente para agarrá-lo pela cintura e ainda resistir ao intenso debater do garoto.

— Me solta! - pediu doido pra avançar naquela cara risonha pra fazer justiça por todos os anos que o aguentou.

Todo mundo queria que agisse de uma forma mais natural no lugar de sua

tradicional personalidade fabricada, não era? Pois bem, conseguiram e não estava entendendo porque cacete aquela garota se meteu no meio pra proteger o saco de lixo que chamava de ex.

Não que Nabinha ganhasse alguma coisa com isso ou que achasse injusto que amassassem a cara do otário como se fosse a massa de um pão, mas não seria uma boa pessoa se deixasse o circo pegar fogo e se alguém ali merecia proteção, era o amigo de infância. Conhecia o cretino bem o bastante pra saber que tudo estava arquitetado.

— Eu não vou soltar. Ele quer que você bata nele para você ser punido e assim ele conseguir pegar o seu lugar. - alertou sem ser ouvida. - Para com isso! Um soco não vai doer nada nele se ele puder usar contra você. - insistiu cuidadosa.

Inari fez seu show pra bancar o forte, mas não deixou de mirá-la com parte do ódio até então direcionado ao contido. Ela continuava intrometida tirando a graça de suas artimanhas, né?

— Deixa, Nabi. Ele não é o brabo? Deixa ele vir! - reclamou como se ela fosse participar desse circo por uma fala mais grossa.

— Cala a boca antes que eu bata em você! - ameaçou altiva, usando a fama de monstro a seu favor.

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