Piorando ou Melhorando?

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Toda nerd fanfiqueira que se preze tinha um local favorito para ficar sozinha durante o intervalo e o da nossa era sob a sombra da maior árvore do quintal do IHS, onde ela tinha todo o espaço pra ficar isolada do convívio social e nenhum grupo de fedelhas profanaria seu cantinho.

Na maioria das histórias, quando a personagem mal encarada com ares de vilã chegava em um espaço, bastava um estalar de dedos para que quem ocupasse um local sem a sua supostamente necessária permissão saísse correndo de lá. Com Hanabi até isso era diferente pois ela não precisava nem se dar ao trabalho de fazer qualquer sinal. Bastava sua aproximação e, quando muito, um olhar sério com sobrancelhas arqueadas que todos fugiam dali como se suas vidas dependessem disso.

Muito que bem, pensou pouco disposta a conversinhas e aproximações, jurando como suficiente passar no vestiário para pegar a muda de roupa que havia deixado lá e flagrar suas parceiras de time se acabando de fofocarem sobre ela, assim fortalecendo sua tese de que não precisava estar envolta de gente que achava que se afastava delas por motivos variados que iam desde rancor por não se aproximarem, descontar nelas a frustração de ser preterida por todos e até mesmo inveja física delas. Tudo, menos a possibilidade delas serem um bando de babacas, foi levantado. Quem é que precisava dessas otárias? Ela que não.

Estalou o pescoço ignorando as recomendações médicas e se ajoelhou com cuidado para não derrubar sua coxinha, pois já estava estressada o bastante pra ter que desperdiçar comida, mordendo o bico do salgado antes que cometesse um crime de ódio. Que dia de merda! Recebeu um puta spoiler desagradável de uma de suas histórias favoritas, o PicsArt travou bem no momento em que estava finalizando sua capa para o projeto novo sem salvar seu progresso e estava puta porque ligou para lembrar o pai de que queria perguntar se ele se importava com o uso de parte dos acessórios de cena que tinham em casa e quem atendeu foi Kurenai. No celular pessoal dele. Eles eram burros demais ou combinaram pra tirar a atenção de outra pessoa, só podia ser.

Franziu as sobrancelhas e saboreou o quitute pra ver se tinha algum prazer no dia, pois sabia que a merda podia aumentar e seu pessimismo tomou a forma de um moleque alto, com riso bonito que não valia o plano odontológico e boné tampando os cabelos castanhos, ajeitando melhor a camisa recém vestida ao vir em sua direção. Ela conhecia aqueles olhos de quem lhe achava presa fácil. Sair de casa para tomar sorvete à noite era uma infração tão grave assim no código de Pecados para ter um dia ruim desses?

— E aí, Nabi? - Inari cumprimentou invasivo, se jogando na grama e sentando ao seu lado.

O único traço de respeito à sua figura era foi solicitar um pedaço de comida, pois não se encaixava na limitada lista de pessoas que tinham esse privilégio. De resto, seguia sendo um abusado e foi com um baita desgosto, ela o assistiu invadir seu espaço e sentiu saudade das pessoas que a evitavam, porém foi divertido ver a cara besta e convencida dele, que só faltava esfregar em seu rosto o pano que ainda cheirava ao amaciante barato que Kono usava nas roupas, se achando.

— Gostou da minha braçadeira nova? - perguntou como se isso a impressionasse.

Desacreditada, Hanabi revirou os olhos, sorriu nervosa e sacudiu a cabeça em negação. Ele tomava seu tempo pra se gabar de algo que nem conseguiu sozinho? Sério? As pessoas procuravam levar foras seus, não era possível. Teve cuidado para não broncoaspirar frango desfiado durante sua gargalhada baixa, olhando-o soberba.

— O pedaço de pano que você só pendurou no braço porque eu tirei seu maior rival de campo? - rebateu fazendo questão que, se era pra tocar nesse assunto, que fosse dando graça ao santo certo.

O rapaz não gostou muito do que ouviu. Não que esperasse que ela caísse na sua de novo por causa do novo posto ou que se animasse consigo, mas merecia uma parabenização, não? Um tratamento menos ríspido, talvez. Fez um bico magoado, mas nada convincente e até chato, não sendo bem recebido numa tentativa de toque.

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