Noite a Dentro

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Revirou-se na cama como fritura em óleo quente. Nas condições nervosas em que se encontrava, seria impossível dormir ou se tranquilizar, quem dirá os dois ao mesmo tempo.

Com o corpo trêmulo refletindo o ferver de seu sangue, Nabinha já estava cansada de se sentir mal pela burrice falta de caráter de seu pai porém nada podia fazer se seu psicológico mais fraco do que gostaria lhe dava impressão de ser excluída até da própria família.

Maldita hora em que achou que seu pai tinha se redimido e virado gente, viu? A maior trairagem que ele poderia fazer era lhe pegar desprevenida e agora entendeu porque Hinata se recusava a crer nessas mudanças drásticas que ele andava tendo nos últimos dois anos, se arrependendo de não ter seguido esse conselho dela. Dormiria melhor se parasse de esperar algo decente vindo daquele omisso do caralho.

Se debateu contra o colchão e agradeceu Naná por tê-lo tirado de perto e evitado o crime de ódio que seria capaz de cometer se ele chegasse em seu quarto alegando inocência ou querer seu bem quando pensou nessa sandice. Que tipo de pai horroroso acha certo esconder um fucking casamento da filha? E o que era aquela madrasta bancando a conselheira como se o simples fato dela estar chupando a rola de seu pai fizesse dela sua grande amiga, parceira e confidente? Sufocou seu grito nos travesseiros antes que fizesse um novo escândalo sozinha com o ódio que estava sentindo. Tinha um pai de merda e uma madrasta babaca que não cuidava nem da própria filha, quem dirá das herdeiras do novo marido.

Tudo bem que não queria alguém que achava que era só chegar e pronto, seria considerada uma nova mãe na casa, mas a mulher nem parecia querer o mínimo de contato e isso foi o que mais despertou seu ranço. Como Konohamaru aguentava aquilo? Só ele com sua mania de se ver como um estorvo difícil de ser amado para achar justo vê-la como figura materna. Ok, podia estar falando merda já que havia muita diferença nas obrigações de lidar com uma nova enteada e a de praticamente adotar o filho do marido morto, mas Nabinha estava puta e cansada demais pra exercer empatia e ver além do próprio umbigo. Que bom que estava sozinha no quarto assim ninguém julgaria seu egoísmo ou daria um sermão enorme sobre o suposto incômodo com a felicidade de seu pai como se essa realmente com essa questão, já que adultos tinham uma mania horrorosa de culpar o excesso de sentimentos dos mais novos para não ter que lidar com as consequências das próprias atitudes ruins.

Segurou a cabeça com as duas mãos antes que ela explodisse em pedaços como seu coração fez mais cedo. Foi obrigada a chorar de novo pois essa agonia precisava sair de algum jeito de seu peito ou ficaria maluca. Odiava a sensação de ter sido enganada por uma das pessoas mais importantes de sua vida e nessa hora podia matar qualquer um que viesse com o papo de que essas situações eram importantes para que entendesse que na vida nem sempre dava para confiar em quem amamos, pois preferia viver iludida com uma vida digna da Morangolândia que passar por esse estresse.

Se esforçando para ignorar ainda mais a discussão que deveria estar acontecendo do lado de fora, usou os fones de ouvido jogados pela cama para abafar sua audição, correndo para dar play na primeira playlist que viu e aumentar o volume até o máximo. Precisava muito se distrair e a música não bastava, o que lhe apressou na busca por algo que prendesse sua atenção e a fizesse esquecer do mundo fora de seu quarto. Tentou ler, mas nem uma milésima releitura de OEE funcionou para acalentar seu coração e temeu que o choque que ainda danificava seu psicológico atingisse sua memória afetiva de seus bolinhos de amor. Não conseguiu escolher nenhum outro título e o sufoco só aumentou.

E se batesse papo com alguém aleatório conhecido na Internet? Verificou o grupo de amigas e para seu azar uma delas estava falando sobre um dia maravilhoso com o pai que não via há muito tempo e ela não quis estragar a vibe de ninguém. Ino estava online, mas preferia morrer a ser experimento sociológico dela a essa altura do campeonato e acabaria a amizade ao mínimo sinal de que ela usava sua dor para estudar psicologia.

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