No Terreno Do Inimigo

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Agradeceu a carona com um aceno e em retorno ouviu uma buzina. 

Longe demais pra escolher desistir, o jeito era encarar a fera sem correr. Tremendo, ajeitou a postura pra parecer menos covarde.

Com poucos MB disponíveis no pacote de Internet, era capaz de acabarem assim que ativasse o 4G graças aos arrombados que lhe enfiavam em tudo quanto era grupo, então optou pelo bom e velho SMS para avisar sua chegada. Tomara que ela não fosse do tipo que deixava o celular em modo avião com o Wi-Fi ativo, pois preferia morrer do que ter que tocar naquele interfone e interagir com qualquer um dos moços que rondavam o terreno.

Manter seu otimismo se complicou mais ao perceber que até a casa de sua deusa sensual tinha ares ameaçadores. Riu de nervoso olhando pra fachada que assustava mais que a cara de mau que Hanabi fazia, mas dali via um belo jardim e ficou empolgadinho como o amante de flores que era. Será que podia levar uma pra casa? Estavam muito bem cuidadas, perfumadas e lindas… Pareciam Hanabi. Aliás, onde ela estava? Ok, que a casa era grande e ficava relativamente longe dos portões, mas nem sinal dela…

Será que ela queria deixá-lo plantado? O psicológico traiçoeiro atiçava a vontade de ir ao banheiro e tratou de mudar o foco do pensamento porque falta de condições de segurar nada por muito tempo sem sentir a morte chegar. Por sorte, logo sua deusa magnânima veio em seu socorro. Linda, reluzente, com sua pose de badwoman... E dirigindo um fucking carrinho de golfe!

— Mas nem fodendo! - desacreditou da naturalidade que ela vinha pilotando. 

Nem ferrando. Mano... Que porra era aquela? Ah, não, velho. Sabia que ela era uma burguesa safada, mas aquilo foi demais. Pior que era melhor nem falar nada ou ela passaria por cima de seu lindo e frágil corpitcho.

Nabinha acenou e algum dos caras apertou o botão que destravava o portão automático, com ele estático quando ela estacionou, desceu e foi sensível o bastante pra imaginar que ele estava paralisado e nem lascando entraria ali sem que ela fosse chamar. O ruim é que ela parecia o chamar pro paraíso como num comercial dos anos 2000, apesar da cara de má de sempre que mais se assemelhava a um demônio tentador.

O foda de viver um clichezinho romântico com Hanabi começava pelo fato de que ela não era uma típica personagem do tipo. Ela não seguia a linha "odeio meu corpo, preciso escondê-lo e me fazer invisível" da maioria das famosas S/N. Além de saber que era muito bonita, ela era conhecida por ser quase egocêntrica de tão convencida sobre sua aparência. Mas quem podia julgar porque se fosse uma menina tão linda como ela era em qualquer dia normal na escola, até ele seria um nojo. Arranca da lista, também, qualquer trope de mudança da nerd desajeitada que se torna uma miss com uma simples retirada dos óculos, como se beleza curasse miopia. Essas transformações megalomaníacas manjadas que no fundo passam a mensagem de que só se pode conquistar o que quer se estiver em algum padrão, eram desnecessárias tanto na ficção quanto na realidade pois ela só alternava entre a Nabi arrumada pra ocasiões especiais e a Nabi de todos os dias e as duas Hanabi eram, com todo o respeito, gostosas pra caralho.

Outra que ela até podia negar gostar de muvuca, mas a real é que ela amava ser o centro das atenções e se expressar através do que vestia, independente se eram roupas casuais de otaku – nesse caso, cheirosa –, ou mais glamourosas. Ela tinha um ótimo senso de moda e dinheiro o suficiente pra bancar e, em vez das vestes feias e largas demais citadas a rodo na literatura, ela adorava mostrar, quando tinha vontade, todo o estilo que tinha e arrasava corações – principalmente o dele –, nas festinhas que raramente ia. Entretanto, nem nos looks mais badalados que ela já havia usado ela estava tão bonita e bem vestida quanto naquela roupa e ele não estava preparado pra isso. 

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