Confrontos

1K 173 255
                                    

Nunca se esperou tanto por uma segunda.

A decoração floral perfumava a casa tão bem assim? Pois uma alegre Hanabi só reparou agora pela manhã interminável em plenas 7. Péssimo pela ansiedade de encontrar-se com Kono ali sem o fardo da popularidade versus o trope de nerd isolada. Ótimo para preparar melhor e curtir mais da ótima sensação de esperar pelo encontro – e de ainda não ter se decepcionado com as expectativas que ela mesma criou.

Encheu o cu de fanfic durante o fim de semana e estava abastecidíssima de clichê baunilha, pronta pra viver um, mas sempre com um pé no chão como aconselhado por Natsu. Ora, se não viveu esse grande amor em cinco anos, não seria agora que tudo se resolveria da noite pro dia. Respirou fundo até entender que colocava muita pressão em um mero trabalho de escola muito do incômodo de se fazer, diga-se de passagem. Cansou de pensar numa finalização decente pois sempre que olhava para o desenho de Kono sentia que faltava algo, um tchan a mais, uma boiolice visual, essas coisas. Maldita hora em que precisou vê-lo como o machão do time em vez de como o garotinho fofo que ficou no passado. Era bom que desse rolê saíssem uns beijinhos indenizatórios pra justificar esse artblock fodido e outros murmúrios incompreensíveis do outro lado da mesa de café.

Hiashi notou sua porção de ódio matinal diferente, negando com a cabeça e mantendo a civilidade por notar que ela o ignorava desde o dia anterior, pigarreando vez ou outra pra chamar sua atenção. Foi ignorado de primeira pois sua filha se ocupou fanficando. De segunda, foi proposital. Pois bem...

— Tá tudo bem? - perguntou verbalmente e ela deu de ombros.

Hanabi se fez fria, como a mimada sem educação que era no fim das contas, fazendo pouco caso na lentidão em que levou a xícara até os lábios o encarando de canto.

— Você não ficou preocupado com isso quando me deixou falando sozinha, lembra? - remoeu e ele riu de nervoso.

O pior nem era a grosseira matinal, mas o julgamento. Era pesado lidar com alguém tão rancoroso quanto sua estrelinha porque parecia uma miniatura do capitão Nascimento pedindo pra ele sair. Sorriu tímido porque não aguentaria a pressão que ela estava disposta a colocar, pousando as mãos sobre a mesa e o mirando desconfiada.

— Foi divertido me deixar sozinha e sem respostas sem nem se dignar a contar como foi, papai? Comeu bem? - perguntou escondendo seu incômodo sob a curiosidade.

Nervoso, Hiashi mostrou os dentes e tentou conter o pânico. Proibiu-se dar passos em falso e subestimar a inteligência dela, pois para fazer uma pergunta de duplo sentido naquele tom forçado no mínimo ela desconfiava de que ele havia ido se encontrar com alguma mulher. Surtar e ficar negando seria mais suspeito, então agiu o mais natural possível, se é que dava.

— Foi um bom jantar, qualquer dia temos que ir lá! - declarou já pensando em algum nome de restaurante caso ela pensasse em questionar o local onde esteve pois se tinha uma coisa que ele sabia fazer graças a profissão era ser canalha.

Pior é que Hanabi sabia e, já que daquele mato não sairia cachorro, melhor recolher sua carrocinha e se apressar, bufando frustrada. Atrasada como boa protagonista de fic, comeria mais no caminho, recolhendo uns pães e bolinhos em sua marmita e pondo suco no copo, já pronta pra deixar a sala quando se lembrou, dando um estalo de dedos, de que precisava de uma "autorização" pra trazer estranhos pra lá, preferindo evitar problemas posteriores por causa de orgulho.

— Eu vou receber visita hoje, tá? – avisou por alto e só faltou a sobrancelha de Hiashi descolar de tão saltada.

Desde quando ela recebia alguém? Aliás, sua estrelinha gostava de gente? Sempre achou que ela fosse alérgica à contato não virtual com outras pessoas...

Virtu@Onde histórias criam vida. Descubra agora