Delirando

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De um lado pro outro em looping inquietante.

Agoniada, bateu o pé contra o chão, resmungou baixinho, voltando a andar em círculos desesperada, com a ponta da unha de seu polegar entre os dentes e os olhos mirando seus próprios pés. Era como se só ela e a aflição estivessem naquele corredor apesar de tanta gente curiosa para ver em que estado ela deixou o moleque desmaiado na enfermaria.

Conferiu o relógio pela décima vez desde a fatídica bolada que derrubou Konohamaru. Foram os mais longos 15 minutos de toda sua vida, parecia até que estava em frente ao microondas esperando algo gostoso esquentar. Até aí, só sabia que ele estava vivo graças à respiração ainda existente, porém a falta de reação e notícias preocupava. Se Naná estivesse ali, já teria descoberto até a hora do enterro e mal via a hora de sua amada e querida babá retornar pra lhe salvar de mais essa enrascada e dizer que tudo ficaria bem e a saudade aumentava quando largada ali com a impressão de que a cercavam pra fazer chacota de sua brutalidade como na infância.

Usou ao máximo sua força de vontade para não conter a crise de pânico que se aproximava com uma velocidade maior do que a que a bola de vôlei alcançou na hora do impacto. Merda. Tanto esforço para não assassinar ninguém durante a vida escolar jogado no lixo por um acidente a toa que com certeza lhe renderia a temida advertência escolar, afinal, ter sido uma fatalidade não ia lhe eximir da culpa de deixar o atacante da equipe de futebol fora de alguns treinos ou um jogo que fosse e dariam um jeito de lhe punir. Tomara que suas costas quentes como filha de investidor da escola e estrelinha do vôlei a tirassem dessa!

Pior que isso não era nada comparada à aflição de ser culpada por algo sério. Tudo bem que tinha seus assuntos não resolvidos com ele e se pudesse o chamaria para meia hora de socos trocados, mesmo sabendo que ele recusaria por não ser nem doido de levantar a mão para uma mulher independente de contexto, porém não desejava algo tão potente.

Era por isso que não gostava de treinar fora da quadra de vôlei! Lá ao menos não tinha gente correndo por trás da linha de fundo igual um bocó na reta dos ataques alheios. Se viessem lhe culpar, ia jogar tudinho nas costas da priorização ridícula com o time de futebol. Putz, não funcionaria com a escola visto que nem se convenceu.

Na dúvida entre rir, chorar ou arrancar os próprios cabelos, fechou as pálpebras como se isso impedisse-a de ouvir as piadinhas que os colegas de classe, de longe, faziam. A vontade de chorar bateu em sua porta e ela abriu. Senhoras e senhores, ela estava prestes a se jogar no chão. Se encostou na parede e foi lenta e discreta ao virar para o lado oposto ao deles pra não ser apontada como chorona. A paranoia era tão real em sua cabeça que teve a impressão de ser chamada de "monstro arrependido" e o nervosismo lhe traiu.

Por que sua cabeça aumentava tanto o incidente? Não foi de propósito, então porque a culpa apertava tanto seu peito a ponto de só faltar fazer purê? Merda de autossabotagem que junto de todo esse turbilhão de sentimentos trouxe a tremedeira. Desistiu de se segurar, abrindo as comportas do chororô. Foi como se a máscara de "fria, calculista e sem sentimentos" que usava no dia a dia rachasse e caísse lasca a lasca junto das lágrimas. Se por um lado a vida tinha um verdadeiro roteiro de porno hard nas mãos na hora de lhe foder, nem sempre ela lhe trazia fel. O destino enfim demonstrou nutrir compaixão e antes que todos testemunhassem sua queda, sentiu o cheirinho do perfume caro exclusivo de seu pai e o abraçou com força.

— Não foi de propósito... - desculpou-se de antemão.

Aos sussurros de "eu sei", Hiashi lhe beijou a testa e acenou para a namorada que ficaria por ali enquanto Kurenai ia ver conferir o enteado. Acariciou a bochecha da filha na tentativa de tranquilizá-la, matutando algo que funcionasse melhor. Como era mesmo que sua falecida esposa fazia mesmo? Ah, sim!

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