Cheirinho De Paz

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Como Jorja Smith cantava em Tomorrow, não mais choraria e tudo faria sentido no dia seguinte, Hanabi pensou.

Sempre diziam que depois da tempestade vinha o arco-íris, mas, no caso dela, a chuva preferia um céu cintilante de estrelas. Independente da formação da frase, o sentido permanecia e, tirando algumas olheiras escondidas com corretivo e com as lentes amarelas de seus óculos, ela continuava imponente e inabalável como se o dia anterior fosse chuvisco em dia de verão.

Vaidosa, conferiu a roupa do dia ajeitando o decote canoa da blusa de manga comprida para combinar com o dia frio que estava fazendo uma jaqueta vermelha que cairia muito bem amarrada em sua cintura. Podia até estar aos frangalhos mas ninguém saberia. Malandra, estalou a língua, apontou e piscou para própria imagem, demonstrando o quanto confiava em si mesma para mais um dia na selva escolar que não a tiraria do eixo como o anterior - e estava gata demais pra combinar com mais essa fase.

Nada como seguir o baile com estilo, não é mesmo?

Torceu para que a aura fotógrafa de sua babá desse uma baixa pois a última coisa que queria ver era câmeras fotográficas e estava sem saco para poses e sim para descer as escadas rumo ao que mais almejava: o café da manhã cheiroso e reforçado do dia. A fome voltou com força total e ela atacou toda a sorte de pães e docinhos matinais à sua disposição como se há eras não provasse algo do tipo, desperdiçando toda a educação caríssima que lhe foi dada pelo pai que, deixando de lado seu jornal com a mais genuína expressão de nojo, a assistiu espalhar farelos por toda a mesa.

Moça bonita, inteligente e bem criada, em vez de exercer bons modos tava ali fazendo porquice. Ah, para, né?

Negou com a cabeça, fechou as folhas e pigarreou limpando a garganta e chamando a atenção da herdeira, recebendo um acanhado sorriso colorido por fios de frango e geleia de morango, sem conseguir esconder o horror. Ela nunca foi nenhuma glutona e achou mais do que esquisito ela recorrer à comida como uma bárbara. O que diabos rolou?

- Está tudo bem, estrelinha? - questionou preocupado e, depois de limpar os lábios, ela acenou positiva.

- Por que não estaria? - retrucou pouco convincente.

- Eu não sei, me diga você! - insistiu, ignorando seu bater de pernas acelerado pelo incômodo.

Tinha que se orgulhar da princesinha esforçada que criou.Nabinha se controlava muito bem para não ser tão transparente assim com as emoções, pena que, enquanto ela ainda vinha com a farinha, ele comia o segundo prato de pirão. Se ela queria tudo do jeito mais difícil, fez seu jogo sorrindo amigável e receptiva.

- Algo me diz que essa casa esteve bastante movimentada ontem... - comentou por alto apostando com todas as fichas que essa repentina mudança tinha a ver com a tarde que ela passou lado de seu futuro enteado.

Precisava matar alguém? Independente dele ser ou não parente de seu benzinho, jamais toleraria que alguém machucasse sua estrelinha. Mais brando, também não seria tão legal que já começasse a se aproximar com mágoas ou más impressões. Hanabi, ignorando os longínquos devaneios, riu ladina e debochada, dando mais um gole em sua bebida e apoiando o cotovelo sobre a mesa.

- Esse algo se chama Naná? - antecipou o óbvio, se esforçando para não gargalhar com a tentativa da governanta de se esconder atrás de uma das pilastras do corredor.

Grande amiga ela estava sendo, hein? Nada fora do previsto e a sensação de ser uma baita detetive sempre um passo à frente, mesmo que irrisória, era muito boa. Hiashi, entretanto, surpreendeu-se com a dúvida dela de que poderia conhecê-la por si mesmo, o que não o incomodou mais só porque de fato muito de seus palpites se basearam nas dicas de Natsu. Feridas no ego de pai à parte, não quis prejudicar a relação tão bela das duas, desaprovando com a cabeça.

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