Quem provoca mais?

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Petit Gateau podia até ser a mais simples das sobremesas de rico, mas quem nunca tinha provado o doce se lambuzou.

Orgulho ou vergonha perdiam feio pra vontade de se empanturrar dos famosos bolinhos recheados de chocolate e do sorvete caseiro que pisava em qualquer um da FireBomb. Quando percebeu, Kono já estava no terceiro e só não se acanhou porque seu padrasto mesmo repetia a quinta, o deixando confortável para se servir com mais do gelado de creme.

Antes que Mirai comesse a ponto de vomitar e nunca mais querer nem o cheiro, Natsu interveio com suas conversas sobre brinquedos antes que ela fosse pra escola sem abusar da permissão para entrar no próximo tempo. Ficou um clima pesado entre o garoto e a madrasta por saber que esse não era o papel da moça, com Kurenai desviando o olhar e terminando seu prato mesmo que o apetite tivesse ido embora com sua menina. Ele só não seguiu o exemplo porque de tão acostumado com essas pequenas falhas, só podia usar a comida como escape.

Para bom entendedor um olhar pesado bastava e já que o dever chamava, o anfitrião terminou a refeição e tomou o caminho do escritório depois de acenar silenciosamente para que a filha também os deixasse a sós. Nabi se serviu com mais um Petit gateau sem sorvete e saiu sem falar nada, sendo fofoqueira demais para rumar o quarto. Ficou escondida na ante sala, ouvindo o maior barraco que só gente pobre tinha peito de produzir.

— Você me prometeu que você ia melhorar com ela! – cobrou seco e irritado.

— Kono, eu sei que...

— Você não pode tirar ela das minhas costas pra colocar nas da Natsu e eu não ligo pra se ela é ou não paga pra cuidar de crianças. Ela não recebe pra ser mãe. – cortou encarando seus olhos.

O ciclo vicioso da omissão acabava aqui. Não era justo com Mirai ser tratada como um objeto confiado de mão em mão e era bom que ela percebesse isso antes que a convivência piorasse e tomar a guarda de sua irmã fosse a mais nova prioridade da lista de coisas a se fazer quando arrumasse um emprego.

— Eu tô tentando, mas... – tentando?

Nunca esteve tão perto de mandá-la para a puta que pariu quanto agora. Cansou de ouvir a mesma desculpa pela milésima vez e a bisbilhoteira provou mais uma colherada do doce com o sabor de que agora sim as coisas esquentaram para o lado da senhorita eficiência.

Depois de mais um sermão sobre falta de talento não justificar falta de interesse, o rapaz deu um ultimato: ou ela virava gente ou deixaria a menina tomar raiva dela sem mexer um dedo pra conciliar. Apesar da firmeza, ele não gostava de ver ninguém triste e por isso tentou amenizar a própria bronca, suspirando pra se acalmar e maneirar o Tom.

— Eu só não quero que, sei lá, ela vire uma mimada que briga por causa de lasanha de brócolis. – exagerou pra ver se o susto ajudava a pôr juízo na cabeça da madrasta e a ouvinte se ofendeu.

Em sua defesa, zelava pela paz das comidinhas gostosas pois adorava uma comida mais natural desde que ela não se envolvesse nas porcarias mais amadas da nação. Só não protestou para não revelar sua posição, se escondendo quando Kure passou por ela na pressa de usar o trabalho corrido para fugir de mais essa saia justa.

"Mãe omissa não aguenta descobrir que precisa criar a própria filha e desmaia ao vivo", pensou parafraseando um meme de programa popular sensacionalista e percebeu que ela e seu pai tinham em comum, a única diferença é que Hiashi pelo menos remunerava seu bode expiatório.

Acabou com a sua sobremesa e nem descobriu que foi melhor do que comer pipoca assistindo filme, procurando um jeito de sair de fininho sem que ninguém notasse sua presença, sendo surpreendida com a intervenção do jogador.

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