Nem Tão Brilhante Assim

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Já era a hora das caveiras deixarem suas tumbas segundo algumas canções infantis de apresentadoras de programas de desenhos para baixinhos.

Tarde, principalmente para atletas estarem acordados mas ambas as pontas na corda cheia de nós tinham dificuldade em dormir. Apática depois de esvaziar tudo o que tinha para chorar, Hanabi tirou da impressora a cópia de uma das várias cartinhas da amizade que ganhou de Kono quando menor, encarando a letra garranchosa com mais desgosto do que puro preconceito estético, e fazendo com a nova versão tudo o que não tinha coragem de fazer com os recados originais: rasgar em pequenos pedaços, amassar tudo em uma única bolinha jogar no lixo, restaram fósforo e tacar fogo.

Tinha até uma trilha sonora propícia para isso, com Burn, do musical Hamilton, na voz de Phillipa Soo, embalando a cena dramática que tinha como um ritual produzido a cada nova decepção arrasadora com o infeliz que não deixava seus pensamentos por nada.

Sentada no chão, apoiou o cotovelo direito na coxa, segurando o próprio rosto, cantarolando que "iria assistir queimar", letra propícia para quem literalmente via a chama arder sobre as fake-cartas enquanto segurava as verdadeiras com a força gerada pela vontade de voltar ao passado, fazer tudo diferente ou conseguir reimaginar um tempo presente em que nunca perderam contato e ele se tornava tão superficial e fútil. Com um suspiro doloroso, jogou a água que deixou de prontidão dentro da lixeira antes que provocasse um estrago maior do que em seu peito.

Murmurou a letra da canção misturada a algumas reclamações sobre o filha da puta que, além de tirar a paz, tirou o seu apetite em pelo dia em que o jantar era lasanha de frango. Quem conseguia disfarçar abalo emocional assim? O pior é que, por mais cúmplice sua que Natsu fosse, ela gostava muito de sua menina para não contar que toda essa mudança era graças à discussão com o "garoto feio, lesado e dispensável", como ela repetia. Não dava nem até a hora do café da manhã para que ela contasse para seu pai que a negação à comida vinha de mais que uma indisposição.

Tinha menos de 5 horas para se recuperar, levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima. Que bom que ela adorava desafios, era muito boa com maquiagens elaboradas de aspecto natural e tinha plano confiança de que pela manhã estaria brilhando mais do que as estrelas projetadas pela luminária em seu teto. Pena que até o nascer do sol faltava muito tempo, mas nada que se entreter não resolvesse.

Disposta a ficar confortável em sua cama, recolheu os vários guardanapos que precisou para secar os litros de catarro que expeliu nas 2 horas que chorou como criança até chegar ao estado em que sequer sentia raiva, deitando em seguida com uma face enigmática e assustadora. Diziam que uma mulher barulhenta era perigosa porque nunca lidaram com uma bomba parruda de sentimento comprimido. Temeu como seria quando extravasasse tudo o que socava em alguma parte de seu desgastado psicológico e torcia pra não ter ninguém inocente na reta. Caso mais cedo, iria na quadra de esportes pra dar saques que, caso pegassem em alguém, a pessoa não sairia viva pra contar a história.

Por falar em história, será que conseguia encaixar algo do tipo de Popularity pra desabafar? Receosa, olhou pra mesinha onde o telefone carregava com o temor de que a crise desencadeasse um bloqueio criativo sobre sua escrita, já que não conseguiu dar prosseguimento ao desenho que começou para o trabalho como deveria.

Estendeu a mão para pegar tanto o caderno quanto o aparelho, esperando que o sistema operacional iniciasse enquanto, conflituosa, encarava o que fez. A crise lhe jogou num estado de imersão que sequer conseguiu dizer em que momento desenhou Kono segurando uma versão quebrada de seu rosto com a palavra fake estampada no lugar dos olhos. Logico que não poderia expor, mas ficou tão bem feito... Se guardasse aquela quase caricatura ninguém ia ficar sabendo mesmo, não era? Só virou a página como queria fazer com o capítulo de sua vida que ele participava e que talvez caísse bem fazer com OEE, disposta a encher o cu de ilusões fofinhas com sua fanfic favorita. Assim que as notificações do Wattpad chegaram, notou um oi recente de Lilmonkey e se assustou porque ele costumava dormir cedo. Preocupada, foi direto pras mensagens cutucar sua ferinha de rabo preso.

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