Bola Fora

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A vida de um protagonista de fic clichê era cheia de reviravoltas e Kono não podia se dar ao luxo de querer deitar tranquilo na sala enquanto ouvia seus pagodinhos e curtia as memórias do dia legal em paz.

Cantarolava que sua fantasia era ter alguém um dia, mas não esperava que fosse tão de repente, porém um barulho fora de hora no portão externo o deixou alerta. Com o susto, olhou para o relógio, depois para a porta. O cheiro de estranheza chegou junto com Kurenai, duas horas mais cedo do que de costume. Isso depois de 3 semanas com os horários desregulados pelos problemas médicos das crianças e qualquer pessoa que conviva com uma mãe proletária sabe que, nesses casos, em vez de uma folga extra elas recebem demissão, contudo ela parecia feliz demais pra quem levou um pé na bunda da melhor empresa para se trabalhar segundo o 10º prêmio seguido da companhia.

Surpreso, até levantou o corpo antes deitado no sofá antes de responder a saudação de chegada dela. Estreitou os olhos pois tinha mais coisa fora do comum, a começar por uma coisa brilhante que adornava suas mãos. Atento, acompanhou com as vistas a ida tranquila de seu alvo até a geladeira. Hanabi ficaria muito orgulhosa se soubesse que treinou-o tão bem que ele conseguiu reparar fácil em um detalhe que sua cuidadosa mãe postiça deixou passar. O que era aquela coisa brilhante e relativamente grande nos dedos dela? Em definitivo, não era a aliança de casamento com seu pai, que ainda figurava na mão esquerda como uma graciosa recordação.

Antes que sua boca se abrisse sozinha e fizesse algum comentário sobre a peça, conseguiu segurar seu impulso e agir de cabeça fria. Discreto, apontou o celular para as mãos da madrasta e aplicou zoom suficiente para fotografar a joia sem comprometer a qualidade do registro, tomando todo o cuidado para não despertar curiosidade. Só se viu livre para um confronto quando teve certeza de que Nabinha ficaria sabendo da descoberta, mas antes ensaiou uma aproximação natural.

Levantou-se para buscar um copo d'água e comprimentou a moça acenando despreocupado, fingindo dar mais atenção ao celular. Matou a sede líquida e então pôde se concentrar a matar a de respostas, sorrindo sonso, apontando para ela com o queixo como um pedido por atenção.

— Patrão te liberou mais cedo, tia? - perguntou dissimulado pois se fosse direto ao ponto ela repararia.

— Ele não ia precisar mais de mim então me liberou para ir pegar sua irmã na escola. - comentou e ele já nem sabia mais se podia confiar.

Desde quando o senhor Hyuuga sabia fazer alguma coisa sem ela? Como ela parecia muito cansada e ainda tinha ordens para parecer desinteressado, evitou puxar muito papo bebendo seu copo d'água antes de simular espanto com seu novo acessório.

— Anel bonito! - comentou como quem não queria nada.

Foi o suficiente para que a tão esperta Kurenai se desse conta que, de todos os detalhes que o cansaço da rotina lhe fez esquecer, cometeu o pior e mais amador vacilo. Como deixou passar um diamante grande desses? Ainda correu o risco de ser assaltada e perdê-lo no mesmo dia que o ganhou. Foi desleixada demais e agora precisava inventar uma história bem convincente.

— Gostou? Comprei na promoção na loja de bijuterias lá do centro! - dissimulou pouco natural.

Sério que parecia tão burro assim? Desconfiado, Kono fitou seu rosto e depois sua mão. Aquele adereço parecia tudo, menos comprado em promoção. Ainda bem que aprendeu a se fazer quadrado para que não o embolassem, acenando para garantir à ela sua inocência.

— Bonito. Parece até de verdade! - comentou sonso, deixando-a de lado para não levantar suspeitas.

Ouviu-a suspirar o alívio da tensão enquanto prestava atenção em seu denguinho detetive que a essa hora catava o queixo caído ao chão com a revelação. Que bom que a câmera do telefone dele tinha uma qualidade razoável que ele permitiu reparar em de onde conhecia aquele tipo de joia, matando a charada assim que jogou a imagem na pesquisa de imagens reversa da internet encontrou um dos anúncios.

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