Por Baixo Dos Panos

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Empresas no geral gozavam de chatisse e rotina em suas repartições e baias de analistas. Na comandada por Hiashi, o patrão gozava de outras coisas, como a deliciosa companhia de sua inseparável escudeira, apesar de preferir formas mais literais porém incabíveis em horário comercial.

Na maioria das histórias, a secretária era a figura doce e inocente, às vezes sonsa e até burra, cega pra qualquer coisa além "do grande amor de sua vida". Kurenai, como tudo aqui, era a exceção à regra e se Hanabi era uma garota ardilosa, ela era ardilosa e meio. 

Pensativa, apoiou o queixo entre o indicador e o polegar e notou de cara algo diferente em Hiashi se comparado a como ele estava antes do almoço. Tocou os braços dele, reparando então na camisa de manga tamanho ¾ que ele usava agora com bastante atenção.

— O que houve com seu paletó?

Hiashi sacudiu os ombros despreocupado, não levando tanto a sério o pequeno acidente ao contar do esbarrão, porém sua namorada leu as entrelinhas com maior interesse.

— Você não acha um pouco esquisito derrubarem suco justo no blazer que eu lavei em casa? - levantou a dúvida.

O empresário achou muito específico, estreitando as sobrancelhas e sacudindo a cabeça em negação, tendo dificuldades de acompanhar seu raciocínio.

— E qual seria o problema? - perguntou temendo ter perdido alguma coisa.

Kurenai massageou os próprios ombros tensos e doloridos de tanto carregar o peso de ser o único ser pensante do rolê. Se recompensando com mais uma colherada do pudim individual que pediu de sobremesa em seu almoço, mexendo a cabeça de um lado para o outro.

— Eu não sei, mas creio muito para uma menina criada em torno dos bons e melhores produtos, seria bem fácil perceber o cheiro de sabão e amaciante mais baratos. - matou a charada sem muito esforço.

Hiashi a encarou surpreso, cobrindo a boca entreaberta com a mão com um palpite tão absurdo quanto plausível, visto que podia imaginar essa trama digna de personagem de novela mexicana com baixo orçamento vindo da cabeça criativa de sua estrelinha. Perplexo, mirou a namorada que sorriu confiante de sua intuição.

— Eu sabia que não tava maluca! - exclamou se recompensando com o fim de seu docinho.

Ter razão, entretanto, foi menos saboroso e ela riu desgostosa com essa sutil amostra do que enfrentaria como “nova filha”, se arrepiando por antecipação. Se Kono era fã das fanfics, ela era fã de dos dramalhões com mocinhas chorosa mal recebida pelos enteados o que se tornavam grandes pedras em seu sapato. Respirou fundo, massageando novamente os ombros e tentando estalar o pescoço. Quem diria que o perfil bestinha e atabacado faria falta em um enteado… 

Anotou no bloco de notas que precisava adquirir logo um livro de autoajuda sobre o tema, porém focado na versão perigosa dos rebentos problemáticos.

Ainda assim, não se intimidou de todo, apoiando o namorado ao segurar sua mão e deixar subentendido que logo esse surto de menina mimada passaria. Nada que conversa franca e umas sessões de terapia não pudessem resolver. Com um carinho genuíno, decidiu ir até ele, pousando atrás dele e passando os braços por seus ombros, beijando o topo de seus cheirosos cabelos.

— É só uma fase! - reforçou notando sua tensão justificada pelo maior conhecimento sobre sua garotinha. 

— Pode ser que essa fase se torne eterna se ela descobrir antes que eu conte! - explicou temeroso.

Kure compreendeu sem dificuldades. Preocupação válida, ainda mais sabendo que nos anos mais recentes ele e Hanabi haviam se tornado, além de pai e filha, grandes amigos que contavam muito um com o outro e não quis de forma alguma atrapalhar essa relação. Como sabia que outra peça muito presente na vida da caçula de seu companheiro era a sinistra babá que já podia ser considerada parte da mobília da casa, logo cogitou a remota possibilidade de tê-la com aliada visto que se realmente a sua intuição estava certa e Hanabi armou tropeço para investigados, como se fosse uma digna vilã de folhetim da terra da tequila, ninguém melhor que a moça para dizer.

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